Sobre a (in)tolerância
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10 de novembro de 2017
Sobre a (in)tolerância

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No dia 16 de novembro é celebrado o Dia Internacional para a Tolerância. A data foi instituída pela ONU em 1995, tendo 185 Estados como signatários.

A tolerância está intimamente relacionada à democracia e à paz, sobretudo num mundo cada vez mais multiétnico, multirreligioso e multicultural.

A palavra tolerância vem do latim tolerare que significa "suportar" ou "aceitar". Voltaire, em seu Dicionário Filosófico, define a tolerância como “o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza.”

Já Comte-Sponville, em seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, afirma que chamamos de tolerância o que, se fôssemos mais lúcidos, mais generosos, mais justos, deveria chamar-se respeito, de fato, ou simpatia ou amor... portanto, é a palavra que convém, pois o amor falta, pois a simpatia falta, pois o respeito falta.

Comte-Sponville, na obra supracitada, pontua ainda que “a rigor, só podemos tolerar aquilo que teríamos o direito de impedir: se as opiniões são livres, como devem ser, não dependem pois da tolerância! Daí um novo paradoxo da tolerância, que parece invalidar sua noção. Se as liberdades de crença, de opinião, de expressão e de culto são de direito, não podem ser toleradas, mas simplesmente respeitadas, protegidas, celebradas.

Sem embargo dos conceitos filosóficos acima mencionados, o fato é que a ideia de tolerância está diretamente ligada ao respeito as diversidades, e funciona como antídoto contra o racismo, a discriminação religiosa, a homofobia, a xenofobia e todas as formas de sectarismo, inclusive o político.

Lamentavelmente, no Brasil (e no mundo) vivemos uma triste fase de profunda intolerância. A todo momento chegam notícias de ataques e ofensas, com motivações diversas, não se respeita as diferenças. Agressões gratuitas e ameaças ocorrem nas redes sociais apesar pela divergência do pensamento, pessoas LGBT são atacadas em via pública por causa de sua orientação sexual, artistas são impedidos de expor ou exibirem seus trabalhos, o bullying nas escolas, e assim por diante, são muitos os exemplos. Alguns segmentos sociais são vítimas mais contumazes de atos de intolerância e preconceito, como, por exemplo, os negros, a população LGBT, usuários de drogas, nordestinos, população de rua, dentre outros.

É doloroso constatar que retrocedemos no tempo, ao ponto de termos que lutar novamente por direitos que pareciam estar incorporados indelevelmente a nossa rotina, como a liberdade de expressão (sobretudo artística e cultural), a liberdade religiosa (as religiões de matiz africano são alvos constantes de ataques).

Uma sociedade tolerante, onde se respeitem as diferenças, em que pessoas com pensamentos e modo de vida diversos possam conviver, senão em harmônia, mas, pelo menos, de forma respeitosa, sem agressões, parece estar distante do nosso horizonte.

Os intolerantes parecem vencer, e isso ocorre, de certo modo, porque a intolerância é admitida, se tolera os intolerantes.

A tolerância, embora seja um valor imprescindível na vida social e na democracia, não pode ser ilimitada. Cito, mais uma vez, Comte-Sponville: “Para tolerância permanecer uma virtude, ela deve ter limites claros, pois o intolerável existe. Onde está o limite? Moralmente é intolerável sofrimento dos outros, a injustiça e a opressão, quando poderiam ser evitados ou combatidos por meio de um mal menor. Politicamente intolerável é qualquer coisa que realmente ameace a liberdade, a paz ou a sobrevivência de uma sociedade. (…) Qualquer ameaça à tolerância é, portanto, também politicamente intolerável, desde que a ameaça não seja simplesmente a expressão de uma posição ideológica – que pode ser tolerada -, mas perigo real - que deve ser combatido, se necessário através da força.”

Ou seja, não podermos tolerar a intolerância. É o que Karl Popper definiu como o paradoxo da tolerância: “tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos tolerância ilimitada até mesmo para aqueles que são intolerantes, se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante contra a investida dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância junto destes.”

Que o dia Dia Internacional para a Tolerância, na quinta-feira (16), seja uma oportunidade para reflexão sobre o assunto, de como podemos contribuir para um mundo melhor, mais harmônico, onde se respeitem as diversidades, afinal somos todos iguais, apenas pensamos diferentes, e a diversidade é quem faz o mundo evoluir, sem ela certamente estaríamos ainda na idade média.

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