Neurônios
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27 de novembro de 2017
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Tico e Teco são governistas congênitos — os últimos do gênero que perfazia uma multidão e quase se extinguiu após o colapso da massa encefálica onde tantos se lambuzavam. Restaram os dois, que sobrevivem à ruína porque, mesmo em um organismo degenerado, subsiste um núcleo de segurança e conforto franqueado apenas aos mais queridos, às mais queridas.

Queridinhos do soba de ontem, de hoje ou o de sempre, mantêm-se à tona na maré de aberração que nos engolfa a todos. E tentam, cada um ao seu estilo, conter as deserções que escancaram o desastre da campanha e a mediocridade da tropa.

Embora sejam do mesmo gênero, Tico e Teco mantêm particularidades que os tornam indivíduos de espécies distintas, conforme ensina a boa taxonomia. A espécie de Tico é morbus, explícita na divisa tão antiga quão atual: Há governo? Vamos nos locupletar, ó meus irmãos. O trêfego não trabalha, porque não precisa de salário, essa forma plebeia de subsistência: sua paga é em comissões, patrocínios e outras formas impublicáveis de recompensa.

Tico começou no governismo como um xeleléu comum, do tipo facilmente encontrável nas varandas de cafés e confrarias de xópingues. Foi recebido pelo seu mestre de patranhas com desconfiança, por conta do dna ideológico suspeito, que ele soube reciclar em intolerância e conservantismo, de forma incontrastável. Invertebrou-se tanto e tão bem, que se alçou à condição de guru de quantos acreditem que o diferente não deve ser tolerado, mas, sim, destruído. Pontifica sobre tudo — e mais alguma coisa, com ideias tão genuínas quanto os fios de um implante capilar.

Teco é da espécie sanitas — ou assim gosta de se requintar. Não tem o açodamento juvenil de seu igual em subserviência. Opera com perfil analítico, supondo que o verniz racional dará às baixas paixões a verossimilhança sem a qual nenhuma fraude intelectual encontra eco. Comparado ao ardor de Tico, sugere um aprendiz na arte de servir incondicionalmente. Mas, não nos enganemos com falsas oposições, nem com a tentação de estabelecer ingênuas hierarquias entre eles: Tico e Teco são verso e anverso do mesmíssimo real. Ou dos milhares que lhes forram as bolsas.

No futuro, quando os curiosos quiserem saber o que se passava na aldeia nesta quadra de estultice sem par, não precisarão gastar seus neurônios varejando fontes sem fim. Só precisarão examinar o que Tico e Teco escrevem — e concluir pelo contrário.

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