Em nome do voto: Robinson e Carlos Eduardo Alves avançam sobre evangélicos
Natal, RN 24 de abr 2024

Em nome do voto: Robinson e Carlos Eduardo Alves avançam sobre evangélicos

11 de julho de 2018
Em nome do voto: Robinson e Carlos Eduardo Alves avançam sobre evangélicos

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O governador Robinson Faria (PSD) e o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT) avançaram nos últimos dias sobre o segmento evangélico do Rio Grande do Norte e montaram uma estratégia tão  inusitada que lembra a máxima do velho guerreiro Chacrinha, aquele que não veio para explicar, mas para confundir.

Com os principais representantes da igreja no Estado preocupados com as eleições proporcionais para deputado estadual e federal, e com a aliança costurada sem a consulta ou o aval da comunidade evangélica, Faria e Alves correm o risco de ficar sem o dízimo eleitoral, no caso, o voto.

Nas chapas formadas até o momento, Antônio Jácome é senador de Carlos Eduardo, mas vai apoiar  uma deputada federal (Carla Dickson) e um deputado estadual (Jacó Jácome) da chapa de Robinson. Já Carla Dickson, deputada na chapa de Robinson, disse há uma semana que Carlos Eduardo seria o "futuro governador do Estado" e declarou apoio ao senador do ex-prefeito de Natal (Antônio Jácome).

Carlos Eduardo Alves (PDT) e Robinson Faria (PSD) aparecem em segundo e terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás da senadora Fátima Bezerra (PT), que lidera a corrida com mais de 10 pontos percentuais sobre os demais concorrentes.

A Assembleia de Deus é a maior denominação cristã do Rio Grande do Norte com 220 mil fieis e aproximadamente 1.600 templos espalhados pelo Estado. Só em Natal são 263 igrejas. A estimativa de estudiosos sobre religião no RN apontam mais de 100 denominações em todo o RN

O número de fiéis da Assembleia de Deus e potenciais eleitores corresponde a mais de 40% das 487.948 pessoas que se identificaram como evangélicas no último censo do IBGE, em 2010, o que na época, oito anos atrás, já representava 15,4% da população potiguar.

No Rio Grande do Norte, a Assembleia de Deus tem como política não apoiar oficialmente candidatos a cargos eletivos. É diferente da denominação de Pernambuco, por exemplo, cuja cúpula orienta apoio a um candidato após votação entre os fieis.

Culto evangélico realizado na Escola de Governo pelo bispo da igreja Mundial

Nos bastidores, porém, a Assembleia de Deus no RN está majoritariamente dividida. De um lado está o grupo do ex-pastor e deputado federal Antônio Jácome (Podemos); do outro a turma do oftalmologista e deputado estadual Albert Dickson (Pros).

As duas famílias – Jácome e Dickson - disputam os votos da maioria dos fieis e vêm ampliando a participação de parentes na política com o apoio do segmento evangélico.

Antônio Jácome, por exemplo, conseguiu eleger um filho e um sobrinho – o deputado estadual Jacó Jácome e o vereador Eriko Jácome, respectivamente – e também já ajudou o irmão Osório Jácome, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (denominação liderada nacionalmente pelo pastor Silas Malafaia), a conquistar um mandato de vereador (2008-2012).

A trajetória de Antônio Jácome revela um descompromisso partidário. Ele já foi filiado a seis partidos políticos diferentes e, pelo conjunto da obra, exerceu os mandatos de vereador, deputado estadual, federal e vice-governador do Estado, no primeiro mandato da já falecida ex-governadora Wilma de Faria (2003-2006).

A ascensão da família Dickson é mais recente e ocorreu na última década. O oftalmologista Albert Dickson se elegeu vereador em 2008 e demonstrou força política já na renovação do mandato, quando conquistou o apoio da maioria dos colegas para exercer a presidência da Câmara Municipal.

O poder da caneta o catapultou para a eleição de deputado estadual na metade do segundo mandato no parlamento municipal. Dois anos mais tarde, elegeu a esposa Carla Dickson vereadora de Natal. Marinheira de primeira viagem, Carla só teve menos votos, em sua estreia na política, que os já rodados vereadores Raniere Barbosa (Avante) e Ubaldo Fernandes (MDB).

Na Câmara Municipal, Carla tem usado a estrutura para ampliar a participação de evangélicos no mandato, distribuindo cargos comissionados e realizando cultos ao meio-dia (refrigérios) numa capela instalada dentro da Câmara.

A desenvoltura de Carla Dickson na política surpreendeu pessoas próximas e nem tão próximas assim na Assembleia de Deus. Muito mais carismática que o marido, ela tem liderado ações, doado tempo e, principalmente, dinheiro para a igreja. Hoje, é Carla quem pede votos para Albert, e não o contrário.

Pré-candidata à deputada federal, a vereadora Carla Dickson era vista internamente na AD como ameaça à reeleição de Antônio Jácome.

Aliança entre famílias que disputam poder na AD é apenas pontual

Antônio Jácome e Albert Dickson: famílias disputam eleitorado da Assembleia de Deus

O tabuleiro político de alianças mexeu e uma aliança pontual entre as duas famílias que disputam votos na Assembleia de Deus foi consolidada. Ainda assim, tem tudo para confundir a cabeça dos eleitores.

A família Jácome controla o Podemos e anunciou apoiou à candidatura de Carlos Eduardo Alves (PDT). Já a família Dickson tem o controle do PROS e já embarcou no projeto de reeleição do governador Robinson Faria (PSD).

A aliança entre Antônio Jácome e Albert Dickson expõe o fracasso do modelo partidário brasileiro. Isso porque, mesmo “apoiando” candidatos diferentes para o Governo do Estado e compondo chapas opostas, Jácome pedirá voto para Carla Dickson e Carla Dickson pedirá votos para Jácome.

A eleição é pontual e envolve apenas as candidaturas de Carla Dickson para a Câmara dos Deputados e de Antônio Jácome para o Senado Federal. No pleito da Assembleia Legislativa, as duas famílias voltam a disputar os votos dos evangélicos.

Albert Dickson e Jacó Jácome frequentam a mesma igreja da Assembleia de Deus e já iniciaram a campanha interna na AD para garantir a reeleição. Jacó vive um paradoxo. Integra a chapa de Robinson Faria, mas para o Senado vai apoiar a candidatura do pai, Antônio Jácome, senador de Carlos Eduardo Alves.

Jacó e Albert travam uma disputa interna na Assembleia Legislativa pelo apoio dos evangélicos. Há histórias curiosas envolvendo os dois parlamentares. Em 13 de junho, por exemplo, a AL celebrou o Centenário da Assembleia de Deus.

Como forma de agradar pastores da denominação, Albert Dickson entregou 110 placas condecorativas aos líderes da AD. Quando soube, Jacó mandou providenciar 110 medalhas para presentear os mesmos pastores.

Sem Jácome na disputa, Carla Dickson navegará praticamente sozinha, entre os evangélicos, para a eleição na Câmara Federal.

A matemática mostra que os evangélicos até teriam peso para eleger um deputado federal, mas não conseguem garantir a eleição para o Senado de nenhum candidato.

Falta só combinar com os fiéis.

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