Governo não confirma nem sabe onde estão as 1.200 obras divulgadas por Robinson
Natal, RN 16 de abr 2024

Governo não confirma nem sabe onde estão as 1.200 obras divulgadas por Robinson

4 de setembro de 2018
Governo não confirma nem sabe onde estão as 1.200 obras divulgadas por Robinson

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Governador do Rio Grande do Norte eleito em 2014, Robinson Faria (PSD) tem divulgado em sua campanha à reeleição que realizou 1.200 obras em três anos e meio de gestão. O número é alto, como também são altas as expectativas da população, em especial dos eleitores, que esperam descobrir até o final da campanha quais foram e onde estão todas essas ações.

Levando em consideração que até junho de 2018 Robinson governou o Estado por 1.278 dias, é quase uma obra realizada por dia, uma tarefa difícil de cumprir. Especialmente para um governo que transferiu a conta das dificuldades que o Estado atravessa para a crise econômica do país.

Crise que impediu a atual gestão, segundo a própria comunicação institucional do Governo, de pagar em dia os servidores públicos que estão há quase 30 meses consecutivos sem receber os salários dentro do mês trabalhado.

O governador Robinson Faria vem declarando em repetidas entrevistas que “pecou” em não ter se comunicado mais com a população (leia aqui) e que atual campanha está sendo muito importante para que ele possa apresentar tudo o que realizou de 1º de janeiro de 2015 até agora.

No entanto, a comunicação do Governo Robinson segue com dificuldades. Há quase 30 dias, agência Saiba Mais iniciou uma verdadeira peleja em busca das 1.200 obras divulgadas pelo governador e nenhuma informação precisa sobre a lista nem indicações das iniciativas foi repassada.

Nem a comunicação institucional do Governo nem a equipe de marketing da campanha de Robinson conseguiram informar ainda quais são e onde estão as 1.200 obras realizadas pela atual gestão. Nossa reportagem solicitou as obras e os locais.

Busca

O primeiro contato que fizemos com a Assessoria de Comunicação, responsável por atender às demandas dos jornalistas, foi na manhã de 7 de agosto, por meio de mensagens do WhatsApp. Pediram-nos tempo. À tarde e no dia seguinte, solicitamos retorno, o que não ocorreu.

Sem respostas, no dia 10 de agosto, voltamos a procurar a Secretaria. Ao todo, três assessores de imprensa foram comunicados sobre a demanda, por telefone, e-mail e/ou mensagens no WhatsApp.

No mesmo dia, um dos jornalistas da Assecom informou que a secretaria não dispunha desses dados e que a reportagem deveria procurar a Secretaria de Infraestrutura (SIN), que executa a maioria das obras públicas do Estado.

Seguindo a orientação da Assecom, procuramos a SIN. A assessoria de imprensa do órgão se prontificou a coletar os dados que cabem à pasta, mas aconselhou que a reportagem procurasse pelos demais setores da administração do governo, uma vez que todas as secretarias podem realizar obras.

O Rio Grande do Norte possui 25 órgãos de administração direta, incluindo Governadoria, Vice-governadora e Assecom. Desses, 18 são secretarias de Estado. Além disso, ainda existem 30 órgãos de administração indireta.

Aguardamos ao pedido de tempo para levantamento dos dados da SIN, sabendo que já seria muito diante da falta de informações de que dispúnhamos. No dia 20 de agosto, a única assessora de comunicação da secretaria disse que havia entrado de férias e que mais ninguém poderia responder ao questionamento feito dez dias antes.

Finalmente, nos dias 28 e 29 de agosto pedimos ajuda às assessorias do PSD, partido do governador Robinson Faria, da coligação Trabalho e Superação que integra o projeto de reeleição de Robinson, e à coordenação de campanha do governador. Todos os assessores contatados responderam que as informações sobre a demanda devem ser divulgadas pelo próprio Governo, que continua mudo.

A reportagem apurou que "o pai" da ideia de divulgar as 1.200 obras sem  qualquer informação concreta de quais são e onde estão foi o secretário de Comunicação Pedro Rattis.

Também tentamos contato com o titular da Assecom, mas ele não atendeu os telefonemas nem retornou as mensagens enviadas pelo aplicativo wahtsaap.

Obras de Robinson incluem ações de infraestrutura, criação de leis e apoio a eventos

Marketing do Governo incluiu evento Campus Party entre as obras da gestão

Sem a relação das 1.200 obras disponível para a população, o Governo e a campanha de Robinson vêm misturando obras de fato com criação de leis, transferência de créditos e até apoios financeiros a festas e eventos, como o Campus Party, realizado em abril de 2018 e, segundo a atual gestão, reuniu mais de 50 mil jovens no Centro de Convenções.

O Governo não listou sequer as iniciativas em curso do programa Governo Cidadão, antigo RN Sustentável, a partir de um convênio assinado com o Banco Mundial pelo Governo, ainda na gestão ex-governadora Rosalba Ciarlini (PP).

É curioso como a assessoria de Comunicação não queira informar nem o que salta os olhos da população. Das grandes obras concluídas ou ainda em andamento na gestão Robinson Faria nenhuma teve início no atual governo. Algumas, porém, estavam paralisadas e foram tocadas nos últimos quatro anos. Entre elas estão os dois acessos ao aeroporto internacional de São Gonçalo, a retomada das obras do Pro-transporte e da barragem de Oiticica e o programa de saneamento de Natal em parceria com o Governo Federal, cuja previsão de término seria dezembro de 2018, mas deve se prolongar por pelo menos mais um ano.

Programa de saneamento básico de Natal é um dos carros-chefes da gestão

A rubrica de investimentos com recursos do tesouro estadual no Orçamento estadual também é uma ilusão, uma vez que a parcela de aproximadamente R$ 10 milhões paga mensalmente pelo Governo do Estado ao consórcio que administra a Arena das Dunas é contabilizado como investimento.

Ainda assim, segurança pública e transparência são as áreas mais citadas pelo governador Robinson Faria ao falar de investimentos. Ele afirma que foi o gestor que mais investiu em Segurança na história do RN e chama atenção para a exigência constitucional de investimentos nessa área, que é de 9,5% da receita estadual, enquanto a atual gestão destinou 15% da receita.

Além disso, o governador divulgou a promoção de 6.500 agentes desde o início de seu mandato, em 2015, e sempre que possível ressalta que a crise de segurança é um problema nacional, não só do Rio Grande do Norte. Entre as mais recentes ações voltadas a política de segurança e destacadas pela propaganda do Governo está a “reforma” de Alcaçuz, que Robinson disse inicialmente que derrubaria, mas passou a divulgar a penitenciária como um “case de sucesso”.

“Trabalhei para deixar o Estado mais transparente e moderno. Criei a Ouvidoria e Corregedoria Geral, instalei o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) para digitalizar todos os processos e diminuir o uso de papel, lancei o Sistema de Gerenciamento Financeiro e Orçamentário (SIGEF) para modernizar o controle financeiro do Governo e estou reformulando todo o Portal da Transparência para facilitar o acesso à população e dar informações mais detalhadas”, publicou Robinson, recentemente, em seu perfil do Instagram.

As Centrais do Cidadão também recebem atenção nesta campanha. O Governo do RN anunciou investimentos de R$ 42 milhões nas 22 unidades das Centrais do Cidadão em todo o estado. Três novas estão sendo construídas em Natal nas zonas Norte, Oeste e Sul. As duas últimas são transferências.

O governador conseguiu ainda reabrir em junho deste ano o Teatro Adjuto Dias em Caicó, depois de passar por restauração. Pouco antes do início da campanha também anunciou o início da reforma do Teatro Alberto Maranhão. Porém, a caixa cênica do espaço, reivindicação do segmento como fundamental para a reabertura do teatro, chegou a ser anunciada, mas não foi incluída no projeto.

Em Mossoró, Robinson destacou a recuperação do Teatro Lauro Monte Filho, fechado há oito anos. A obra tem previsão de entrega para outubro deste ano.

No portal do Governo ainda é possível ver investimentos em restaurantes populares, estradas e abertura de escritórios do empreendedor no interior do Estado.

O Governo só não confirma nem diz onde estão as 1.200 obras anunciadas.

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