Henrique Alves: entre sonhos, esperanças e a campanha de Carlos Eduardo Alves
Natal, RN 19 de abr 2024

Henrique Alves: entre sonhos, esperanças e a campanha de Carlos Eduardo Alves

17 de julho de 2018
Henrique Alves: entre sonhos, esperanças e a campanha de Carlos Eduardo Alves

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Henrique Alves está de volta.

Condenado em primeira instância pela Justiça Federal num dos seis processos nos quais é acusado por crimes que vão desde lavagem de dinheiro, corrupção passiva, ativa à ocultação de dinheiro em paraísos fiscais, o ex-presidente da Câmara dos Deputados conseguiu o benefício da liberdade provisória e foi solto para fazer o que a lei lhe permitir, inclusive política.

A primeira manifestação pública do ex-parlamentar foi discreta. Em uma carta divulgada no final de semana, Henrique agradeceu a família, a amigos, aos eleitores e até aos carcereiros da Academia de Polícia Militar do RN, onde permaneceu preso por dez meses. Ao final, falou que, em breve, estará novamente junto do povo, “nos sonhos e esperanças”.

A história de Aluízio Alves mostra que “sonhos e esperanças” são combustíveis que movem as montanhas da política no seio da família Alves.

A Cruzada da Esperança na vitoriosa campanha de 1960 e, posteriormente, a construção de um bairro com status de cidade também batizado de Esperança não conferem aos Alves a patente do vocábulo, mas é inegável que para uma das principais oligarquias ainda ativas do Nordeste, Esperança tem cheiro de política.

Henrique Alves nunca teve o perfil do pai, o de liderar multidões, mas é arriscado menosprezar, mesmo agora, o capital eleitoral que o ex-deputado deve manter. Se o eleitorado lhe virou as costas nas duas vezes em que disputou um cargo no Executivo contra rivais teoricamente mais fracos, os eleitores garantiram a Henrique um lugar cativo ao sol do Congresso Nacional.

Foram 11 mandatos consecutivos durante 44 anos na Câmara dos Deputados. Como parlamentar, a trajetória de Henrique Alves é um paradoxo. A habilidade e desenvoltura nos bastidores o transformaram, por méritos próprios, no terceiro homem mais importante da República durante o governo Dilma ao ser praticamente aclamado presidente da Câmara. Ao mesmo tempo, o saldo efetivo de tantos mandatos consecutivos revelou um político improdutivo para o país, e mais ainda para o Rio Grande do Norte.

Na campanha eleitoral de 2014, quando perdeu para o atual governador Robinson Faria (PSD), Henrique passou três meses sem conseguir citar um único projeto que criou em mais de quatro décadas de carreira na política.

É verdade que vieram emendas de valores diversos para obras e ações no interior do Estado trocadas por apoio eleitoral. Mas nenhuma política pública no Rio Grande do Norte, aquela que transforma a vida do cidadão comum, tem a marca do ex-deputado.

Na condição de investigado, Henrique Alves também foi vítima. Ao conceder ao ex-parlamentar o benefício da liberdade domiciliar, em 3 de maio, o juiz da 14ª Vara Federal Eduardo Guimarães extrapolou qualquer limite da Justiça ao condicionar a decisão à não participação de Alves na política.

Em que pese a condição de investigado, réu ou condenado em primeira instância, a decisão de participar ou não de campanhas e concorrer a um novo mandato não pode jamais ter a interferência monocrática do Judiciário. Dessa chantagem o ex-ministro potiguar é vítima.

Aliás, por lei Henrique só seria impedido de concorrer a algum mandato eletivo em 2018 se trocasse o nome para Luís Inácio Lula da Silva. Condenado em primeira instância no processo oriundo da operação Sépsis, que investiga um esquema de corrupção na Caixa Econômica liderado por Eduardo Cunha, Alves ainda será julgado na segunda instância num prazo onde o relógio da Justiça corre bem mais devagar do que correu quando o réu era o ex-presidente petista.

Portanto, dificilmente o ex-deputado federal teria uma eventual candidatura inviabilizada pela lei da Ficha Limpa a tempo.

Mas a pergunta que mais se ouve nas rodas políticas sobre a participação de Henrique Alves na campanha de 2018 é quanto um ex-presidiário acrescentaria na candidatura do primo e pré-candidato ao Governo Carlos Eduardo Alves.

A última vez em que Henrique e Carlos Eduardo estiveram em palanques distintos foi na campanha municipal de 2012, quando o ex-deputado apoiou a candidatura de Hermano Moraes à prefeitura. Nas eleições seguintes, a família Alves voltou a se reunir numa só aliança.

Henrique teve o apoio de Carlos Eduardo na derrota eleitoral de 2014 e devolveu a ajuda na reeleição do primo em 2016, indicando até o secretário de Obras Públicas de Natal, o empresário Fred Queiroz, preso no mesmo dia em que a Polícia Federal foi buscar Henrique Alves em casa.

No big brother dos celulares conectados 24 horas por dia em redes sociais, o apoio de Henrique à chapa da família não deverá ser tão discreto como sua mensagem de agradecimento. Até porque no dia em que o ex-deputado abrir a mala que trouxe da cadeia, pularão para o palanque de Carlos Eduardo Alves amigos próximos, como Eduardo Cunha, Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha, Moreira Franco e Rocha Loures, para ficar só no grupo que o Ministério Público Federal batizou de “quadrilhão do PMDB” e, segundo denúncia aceita pela Justiça, desviou R$ 587,1 milhões de contratos firmados em estatais e ministérios.

Amigo íntimo de Michel Temer e um dos articuladores do golpe que levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, Henrique leva para a campanha do primo a sombra do governo mais rejeitado da história da República.

Aliás, as alianças que sustentam o palanque do ex-prefeito de Natal são uma coletânea de políticos investigados e processados pela Justiça. Os seis processos de Henrique Alves somados aos quatro de José Agripino Maia e as duas investigações que correm no Supremo Tribunal Federal contra Garibaldi Alves e Walter Alves em razão de desdobramentos da operação Lava-jato dão um total de 12 processos judiciais e extrajudiciais contra aliados diretos de Carlos Eduardo Alves.

Livre, Henrique tem todo o direito de fazer política e campanha a quem desejar.

Entre a esperança aluizista e uma ficha corrida de processos judiciais, ao eleitor, e somente ao eleitor, caberá o julgamento.

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