quarta-feira, 21 de março, uma semana da execução de Marielle.
nossos corpos ainda quentes. o frio espreita. nos vela. nos rodeia. chega perto. mas precisamos cuspir o fogo de nossa própria luz. seguirmos quentes. é preciso ter o sangue quente. falo nós, pra mexer o caldo. ouvir o grito. emergir o máximo de pessoas que defendem causas que precisam ser honradas. que respeitam a vida. a dor. a partida. a história de cada corpo no mundo. por isso precisamos ter o sangue quente. e nunca deixar que a frieza alcance nossos pés. passados. que soterre nossos corações por montanhas de icebergs escaladas pelo ódio de pessoas sem humanidade. é inacreditável que alguém comemore tamanha covardia. É inadmissível que alguém comemore tamanha covardia. pior, é assustador que alguém comemore tamanha covardia. tenhamos o sangue quente. pra acender os olhos da verdade.
no rosto de uma mulher
pássaros beijam o infinito
escondem-se debaixo de sua pele
para cantar seu voo
no rosto de uma mulher
o sol rompe universos
e desliza noturno
no rosto de uma mulher
crianças seguram a mão do tempo
me sinto devastada. vejo minhas árvores mais antigas pelo chão. somos uma floresta de séculos em chamas. galho por galho tronco abaixo. é difícil respirar. impossível achar o ar vendo que a luta pelo justo encontra a injustiça tantas vezes. essa morte não pode ter nenhum minuto de silêncio. vamos seguir com sangue quente pulsando nas veias de punhos em riste.
pra sempre o tempo do sorriso marcado no rosto de uma mulher vai doer
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