Por que Fábio Faria e Ivan Jr. provam que a velha política não tem relação com a idade
A velha política é mais prática e menos idade.
Geralmente é exercida pelos políticos tradicionais mais velhos e experientes, mas essa não é necessariamente uma regra.
O ex-prefeito de Açu Ivan Júnior tem 39 anos de idade, dois anos a menos que o deputado federal Fábio Faria, que já conta 41.
E mesmo relativamente novos na idade, os dois já podem ser considerados modelos da safra de políticos novos que exercem e praticam um tipo de política que o leitor tem demonstrado que não aguenta mais.
Nesta semana, Fábio Faria foi a uma rádio de Açu anunciar seu rompimento político com Ivan Jr. O filho do governador justificou a decisão classificando o ex-aliado como “individualista”.
Ele tem razão. E problema de memória.
Faria se reelegeu para a Câmara dos Deputados, mas por pouco não perde a vaga para a vereadora de Natal Carla Dickson.
Ivan Jr. não teve a mesma sorte. Obteve menos votos do que o necessário para entrar na lista de 24 deputados estaduais que formarão a próxima legislatura da ALRN, a partir de 2019.
A trajetória do ex-prefeito de Açu é, de fato, curiosa.
Eleito e reeleito prefeito em 2012 com o apoio da família Faria (Robinson e Fábio), fez um malabarismo na eleição de 2014. Com a maioria das pesquisas de intenção de voto indicando a vitória de Henrique Alves para o Governo do Estado no 1º turno, rompeu com os antigos aliados e fez campanha para o ex-presidente da Câmara Federal.
Mas as circunstâncias levaram a decisão do pleito para o 2º turno e bastou a mudança dos ventos para Ivan Jr. mudar de lado. Com as pesquisas indicando uma virada de Robinson na reta final, o então prefeito de Açu voltou para os braços da família Faria e ajudou a reeleger o atual governador.
É isso mesmo que você entendeu: numa mesma eleição, Ivan Jr. conseguiu apoiar os dois candidatos que chegaram ao 2º turno.
Com o projeto de chegar a Assembleia Legislativa em 2018, Ivan pleiteou e conseguiu que Robinson trocasse um de seus melhores auxiliares para entregar a estrutura da secretaria dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente, gerenciada por Maírton França, para Ivan Jr.
A indicação dele para o cargo foi de Fábio Faria, que também precisava dos votos de Açu para garantir sua reeleição.
Em nome dessa aliança, que contou com o aparato do Estado e na qual o eleitor não foi consultado, Robinson quebrava uma de suas promessas de campanha: a de que faria uma gestão eminentemente técnica.
Usando a estrutura da pasta a seu favor, nomeando cargos comissionados e priorizando municípios de sua região para levar as ações do Governo de combate à seca, Ivan Jr. deixou o órgão no limite que a legislação eleitoral exige para fazer campanha.
O “acordo de gabinete” previa a dobradinha de Fábio Faria para deputado federal e Ivan Jr. para deputado estadual.
Mas as pesquisas de intenção de voto convenceram, mais uma vez, que o melhor caminho para Ivan Jr. não era o aliado, mas o mais bem colocado, segundo os institutos de pesquisa.
E o ex-secretário do governo Robinson trocou o apoio de Fábio Faria pela aliança com o ex-presidente da Federação dos Municípios Benes Leocádio, que terminou a campanha como o deputado federal mais votado da eleição.
Fábio Faria informou à rádio de Açu que não sabe ainda quem vai apoiar para a prefeitura da cidade em 2020, mas tem certeza que não será Ivan Jr.
No apagar das luzes do 2º turno, Ivan Jr. ainda levou seu apoio à governadora eleita Fátima Bezerra.
À princípio, o eleitor do Rio Grande do Norte mostrou em 2018 que chegou ao limite.
Deixou as oligarquias no banco de reservas e mostrou que não tolera mais a velha política.
Independente da idade, salvo ainda raríssimas e nem tão honrosas exceções.