Por uma frente Antifascista
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Por uma frente Antifascista

1 de maio de 2018
Por uma frente Antifascista

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Um dos temas relevantes a ser discutido hoje no Brasil é o fascismo. No artigo Lula, preso Político (Revista Carta Capital, 16/4/2018), Guilherme Boulos defende a formação de uma frente democrática antifascista, afirmando que “Nesses momentos nos quais a história se acelera, não existe espaço para dúvida. A besta do fascismo pôs suas garras para fora. É nosso dever nos unir para enfrentá-la, nas ruas e nas urnas”.

O caso mais recente de atitudes fascistas foi o ataque durante a madrugada do dia 28 de abril de 2018 no acampamento pró-Lula em Curitiba que deixou dois feridos. Foram mais de 20 tiros com arma de 9 mm. A polícia prometeu que iria investigar, mas como disse Ricardo Kotscho “A polícia que vai investigar é a mesma que até hoje não conseguiu descobrir quem deu os tiros nos ônibus da caravana de Lula no Paraná, quatro semanas atrás”. Para ele “esperar qualquer providência das chamadas autoridades constituídas é pura perda de tempo” e defende que “antes que seja tarde, o mais urgente no momento é a esquerda se unir em torno de um programa comum para enfrentar o avanço dos grupos fascistas de extrema-direita que agem livremente pelo país. Urge que esta frente pela democracia parta da teoria à prática para evitar novos atentados como os do Paraná, cabendo aos líderes dos partidos de esquerda, junto com as entidades da sociedade civil organizada, deixar de lado suas diferenças e se unirem para evitar que a campanha eleitoral se transforme numa batalha campal, antes que seja tarde demais. A democracia corre perigo neste momento”.

Além das frentes que existem hoje (Frente Brasil Popular e Frente do Povo Sem Medo) há necessidade da formação de uma frente antifascista. E há precedentes na história do país: no dia 14 de julho de 1933, foi lançado o Manifesto da Frente Única Antifascista do Povo do Brasil. Naquele momento, como diz o documento, a capacidade de resistência dos trabalhadores organizados era débil e a política de frente antifascista se apresentava como o único recurso de defesa dos trabalhadores, num cenário de crescimento de movimentos de extrema-direita (como a Ação Integralista Brasileira, de caráter fascista, criada em 1932) e conclamava-se os partidos e organizações, que sem abdicarem dos seus programas e sem perda de sua autonomia e liberdade de crítica, deveriam se unir contra o inimigo comum, numa Frente Única Antifascista. Depois se concretizou com a formação da Aliança Nacional Libertadora, mas que foi colocada na ilegalidade pelo governo de Getulio Vargas pouco depois de sua formação, em março de 1935, com base na Lei de Segurança Nacional.

Os regimes fascistas, quando se impuseram na Europa, nos anos 1920 e 1930 floresceram em contextos que facilitaram o extremismo de direita e o surgimento dos “salvadores da pátria”. Mas mesmo sob violenta repressão, foram criadas várias frentes antifascistas, que congregavam socialistas e até mesmo liberais, contra os regimes de extrema-direita e algumas tiveram êxito, mesmo que fugaz, como na Espanha e na França (nos dois países as Frentes Populares venceram as eleições de 1936).

Hoje, os tempos são outros, mas há um inegável crescimento da direita e da extrema-direita e não apenas no Brasil. Os tiros no acampamento em Curitiba e os dados no ônibus da caravana de Lula no Paraná foi uma manifestação de violência, ódio e intolerância típica do fascismo. Como disse o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) “foi um ato terrorista e uma manifestação da emergência do fascismo que desde o golpe, está cada vez mais empoderado, orgulhoso do seu ódio e violento”. Para ele, “o fascismo é hoje um cão raivoso que está solto. Aliás, são centenas, cada um deles com seus próprios ódios e fora de controle e que encontra hoje um ambiente favorável (...) o ovo da serpente quebrou e os golpistas, que não conseguiram até agora emplacar um nome que os represente, estão perdendo o voto antipetista para o candidato fascista. E, desesperados, já falam até em cancelar as eleições. Diante desse cenário de terror, à esquerda e os setores democráticos, de forma ampla, sem sectarismo, precisam se unir contra o fascismo e sua violência, e nesse sentido, uma frente ampla antifascista se faz necessária”.

.         Mark Bray em “Cinco lições de história para antifascistas”, no livro Antifa: The Anti-Fascist Handbook, publicado em 2017 (o texto sobre o livro foi traduzido para o português por Alexandre Barbosa de Souza e o artigo está disponível em https://www.revistaserrote.com.br/2018/03/cinco-licoes-de-historia-para-antifascistas-por-mark-bray/) argumenta que “o combate ao fascismo começa pela capacidade de reconhecê-lo para além dos lugares-comuns”.

                 Conforme consta no início da matéria sobre o livro, quando ele o publicou em agosto de 2017 “houve manifestações de grupos supremacistas brancos que deixaram uma ativista antifascista morta e mais de 30 feridos em Charlottesville, no estado da Virgínia”.

                 Entre as lições, a de que “As revoluções fascistas nunca tiveram sucesso. Os fascistas chegaram ao poder por vias legais”. Para ele, o fascismo e o nazismo emergiram como clamores emocionais, antirracionais, fundados em promessas másculas de renovação do vigor nacional   e que “Embora a argumentação política seja sempre uma estratégia importante para se comunicar com a base popular do fascismo, ela é menos eficaz quando confrontada com ideologias que rejeitam os termos do debate racio­nal. A razão não parou os fascistas nem os nazistas. Embora a razão seja sempre necessária, de uma pers­pectiva antifascista ela, infelizmente, não basta por si só”.

Ele alerta para o fato de que, historicamente, o fascismo não precisou derrubar portões para ganhar acesso aos centros do poder. Bastou con­vencer os porteiros a deixá-lo entrar e que embora seja verdade que o epíteto “fascista” perde parte da força se aplicado de forma muito di­fusa, um elemento fundamental do antifascismo é promover a organização contra os fascistas e políticas fascistas

               Outra lição importante é que não são necessários muitos fascistas para instaurar o fascismo: “Em 1919, os fasci de Mussolini tinham 100 membros. Quando Mussolini foi indicado primeiro-ministro, em 1922, apenas entre 7% e 8% da população italiana, e 35 dos mais de 500 integrantes do parlamento, perten­ciam a seu PNF (Partito Nazionale Fascista). O Partido dos Trabalhadores Alemães tinha só 54 membros quando Hitler compareceu a seu primeiro encontro após a Primeira Guerra Mundial. Quando Hitler foi in­dicado chanceler, em 1933, apenas 1,3% da po­pulação pertencia ao NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães).

“Por toda a Europa, emer­giriam enormes partidos fascistas a partir do que eram pequenos núcleos no período do entre-guerras (...) o sucesso eleitoral de muitos partidos fascistas depois da crise financeira de 2008 e da recente onda de imigração demonstrou o potencial de crescimento rápido da extrema-direita quando as circunstâncias se tornam propícias”.

Temos de aprender com as lições da história para não repetir as tragédias como farsas. Neste momento, urge a formação de uma frente antifascista, em defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito. Uma frente ampla, não apenas de esquerda, que possa unir forças e resistir à barbárie. Que não seja circunstanciada e apenas estratégia eleitoral.

No dia 28 de março de 2018, no programa "Boa Noite 247", do site 247, ao serem analisados alguns acontecimentos políticos recentes, destacou-se a importância da criação dessa frente “para conter o espectro de extrema-direita que ronda o Brasil” e que, como foi dito, não pode ser apenas uma frente de esquerda, mas de todos os setores progressistas e democráticos que rechaçam a direita e especialmente a extrema-direita.

O ideal (mas nem sempre possível) é que se deixem as diferenças de lado e unam-se, antes mesmo das eleições de outubro, para formarem esta frente. O Brasil já vem em uma escalada regressiva desde o golpe de 2016 e neste momento a democracia e muitas das conquistas que foram resultados de décadas de lutas correm um sério risco. Como disse Ricardo Kotscho, a democracia nunca foi tão ameaçada como hoje.

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