Vencer a tutela militar nas eleições
Natal, RN 28 de mar 2024

Vencer a tutela militar nas eleições

21 de setembro de 2018
Vencer a tutela militar nas eleições

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A ideia de intolerância, seja ela de classe, raça, gênero ou orientação sexual, parecia ter ficado num passado distante, superada junto com os nazistas e fascistas na segunda guerra, entretanto, por mais absurdo que isso possa parecer, seu combate se tornou uma das bandeiras a serem defendidas nas eleições brasileiras, pasmem, de 2018.

Chocado pela mídia, setores antinacionais do judiciário e um congresso conservador, que ansiaram derrubar a presidenta Dilma Rousseff, legítima e democraticamente eleita, o ovo da serpente liberou ideias e valores que pareciam estar extintos.

Através de declarações polêmicas, ataques às mulheres, negros, comunidade LGBTI, defesa do uso de violência física contra homossexuais e exaltação a torturadores ganham forma nos discursos performáticos, carregados de violência, que oferecem soluções fáceis mesmo que, concretamente, não apresentem nenhum projeto para o país.

Desinstitucionalização da República, desmontagem da democracia e ascensão do ódio e da violência são sintomas de um mesmo mal, efeitos de uma única causa: negação da política. A tática tem sido largamente utilizada por candidatos ligados ao que há de mais retrógrado, para dizer o mínimo.

Não poderia ser diferente. Nesse processo de desqualificação da política, quer se apagar da história o fato de que os direitos e melhorias nas condições de vida do povo foram conquistas políticas, frutos de disputas políticas, protagonizadas por forças políticas ligadas ao campo progressista.

Para quem se diz decepcionado com a política e com os políticos, só restam duas alternativas: ou a completa descrença nas organizações e na própria política, o que resvala em um individualismo muitas vezes ingênuo que leva as pessoas a acreditarem que sozinhas e contando apenas com seus próprios esforços estarão imunes às decisões políticas; ou a busca pelo salvador da pátria que, muitas vezes, aparece na forma de figuras bizarras, como o candidato à presidente pelo PSL, que se aproveitam da ignorância e do medo.

Dessa forma, mais que simples declarações, as mais recentes falas do inominável, que preconiza a não aceitação de uma derrota nas urnas, de seu vice, que considera casa de família pobre, só com mãe e avó, uma “fábrica de desajustados” que fornece mão de obra ao narcotráfico, e do general Eduardo Villas Bôas, ao avaliar que a “legitimidade do futuro governo pode até ser questionada”, parece revelar um esquema militar de tutela das eleições.

A cada dia, pronunciamentos políticos de comandantes do Exército fazem pressão sobre o jogo político democrático. O resultado disso é qualquer coisa, menos uma democracia, e deixa claro o objetivo de comunicar para fora da corporação a ideia de que as ações das Forças Armadas, daqui para frente, adquirirão corpo e pensamento ativo próprio para além de sua atribuição reativa no caso da segurança pública, tal como expressamente prevê a Constituição.

Que não cabe aos militares a intromissão no jogo político do país, não é novidade para ninguém. Mas que não vivemos numa normalidade democrática, também não é. Assim como não é nova a desobediência dos generais aos desígnios da Constituição. A hora é essa, não podemos tergiversar, o fascismo não se debate, o fascismo se combate! E o caminho está na afirmação da política.

Colocar a política no centro dos processos decisórios que resultem em transformações positivas na vida do povo, derrotar o discurso de ódio e eleger um projeto que não compactue com a ameaça fascista e o risco de embarcarmos numa ditadura de novo tipo, muito mais perversa que a de 1964, está entre os enormes desafios a serem enfrentados pelo campo progressista nesta reta final do processo eleitoral.

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