80 nós na garganta
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80 nós na garganta

11 de abril de 2019
80 nós na garganta

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Essa semana, um número tem pairado meus pensamentos e dado nó na minha garganta. Oitenta. É dele que lembro quando penso em um ser humano que morreu por cometer o crime de existir.

Nos dias de hoje, a gente quer explicar tudo com números. 80 tiros para matar um homem inocente que ia a um chá de bebê com sua família. 23 minutos para assassinar um jovem negro no Brasil. 50% a mais de homicídios em relação aos brancos. 78% dos mortos em intervenções policiais.

Nessa perversa matemática, multiplicam-se "os enganos". Crescem exponencialmente as explicações que visam desumanizar e normalizar o racismo e o ódio contra o povo preto e pobre desse país.

Continuamos dormindo e acordando como se nada tivesse acontecido. Sendo vítimas de uma cultura que não sente culpa em nos exterminar.

No domingo "o engano" matou Evaldo Rosa dos Santos, músico, 51 anos, assassinado na frente do seu filho pequeno. Mas isso acontece todos os dias nas cidades brasileiras, principalmente nas periferias.

O deboche com o qual a esposa de Evaldo foi “confortada” pelos militares que assassinaram seu companheiro, era o mesmo exibido pelos senhores de engenho que torturavam seus escravos nos tempos de senzala e grilhões. O silêncio das autoridades que comandam nosso país alimenta essa barbárie, reforçada pelo louvor dos “cidadãos de bem” nos pelourinhos modernos, as redes sociais.

Para eles, famílias pobres e pretas não são dignas de defesa, só de tiros. E o "curioso" é que o alvo dessa “violenta emoção" tem endereço e cor.

No Brasil, pena de morte sempre existiu para pretos e pobres.

Nossa mais concreta e permanente política de Estado é o racismo. A gente sempre fala que a carne mais barata do mercado é a carne negra, mas até o barato pressupõe algum valor. Eles querem que nossa carne não valha nada.

Não conseguirão. Desatemos os nós da garganta, é tempo de gritar e resistir.

Parem de nos matar.

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