A guerra contra a “imprensa”
Natal, RN 29 de mar 2024

A guerra contra a “imprensa”

3 de março de 2020
A guerra contra a “imprensa”

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Bolsonaro não tem jeito. Dias atrás, espalhou um vídeo pelo whatsapp só para os mais chegados (uns 50 contatinhos). O problema é que o vídeo atentava contra um princípio básico da nossa combalida democracia: a separação de Poderes. Até aí, problema nenhum (segundo o próprio). Só que um dos contatinhos resolveu vazar os prints da conversa para uma jornalista. Uma jornalista mulher!!

E a jornalista fez o que tinha que fazer. Publicou a informação, uma vez que ela era de interesse público e garantiria milhares de acessos à sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo.

O que ela não sabia é que a publicação também garantiria uma forte perseguição e difamação nas redes sociais, incluindo até mesmo a divulgação de seus dados pessoais e a ira de centenas de milhares de pessoas e robôs.

Foi só mais um estopim para mais uma das batalhas do presidente contra a “imprensa”, ou melhor, a “imprensa que mente”, a “imprensa podre” do Brasil. Tem hora que eu me lembro do Dom Quixote, arrastando o Sancho Pança em suas batalhas contra os moinhos de vento.

Mas esse presidente não é nenhum cabeça de vento. Ele sabe o que é preciso fazer para atingir seu público, para evitar o paredão e se manter na “casa” até 2022 e até além. É que, se você olhar direito, não é o Dom Quixote a quem ele imita. A mira de Bolsonaro está apontada para outro excêntrico mandatário. É Donald Trump quem inspira o presidente daqui em suas batalhas, não só contra jornalistas, mas também contra ambientalistas, indígenas, negros. Claro que Trump tem um pouco mais de compostura, adquirida com seus bilhões de dólares, o que não muda o fato de ser também um misógino, racista, homofóbico e intolerante contra o politicamente correto.

A guerra por lá é contra a Fox, frequentemente acusada de produzir feique nius. Por aqui, o alvo preferido dos ataques do presidente são as jornalistas mulheres, especialmente se elas pertencerem a veículos como Folha de São Paulo, da TV Globo e The Intercept. Ah, e agora, do Estadão também. Como um garoto da 5ª série, ele faz piadas sobre o trabalho das repórteres e, como todo adulto machista, as acusa de ter interesses sexuais ou menospreza a capacidade intelectual delas.

Só que o teatro de Bolsonaro na frente das câmeras e gravadores é apenas o começo do serviço. Depois, entra todo o trabalho de distribuição de verbas publicitárias para a imprensa que não mente (ou que só fala as verdades que interessam aos Bolsonaro) – e vem aí a CNN Brasil, que já arrancou elogios do presidente e marcou a data da estreia para o dia do protesto dos golpistas – e entra também o trabalho do Gabinete do Ódio, revelado pela deputada Joice Hasselmann e confirmado nesta segunda-feira (02) por Gustavo Bebiano no Roda Viva.

Por isso, não é de duvidar que os “robôs” de Bolsonaro já tenham saído por aí exigindo, sempre com truculência, que garçons, atendentes de lojas, secretárias de consultórios troquem o canal da TV para a Band, o SBT ou a Record. Tudo, menos a Globo, a mesma Globo que levava multidões de “robôs” às ruas para protestar contra o PeTê, que transmitia os panelaços das janelas no Jornal Nacional e animava as manhãs de domingo com imagens de Copacabana vestida de verde e amarelo.

Como diria Dilma, esta batalha não tem vencedores. Nem mesmo os que acreditam estar ganhando.

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