A invisibilidade das mulheres dos Bolsonaros
Natal, RN 24 de abr 2024

A invisibilidade das mulheres dos Bolsonaros

17 de outubro de 2018
A invisibilidade das mulheres dos Bolsonaros

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De triste memória, Fernando Collor era casado com Rosane Malta, todos sabíamos, frívola e deslumbrada. FHC casado com Ruth Cardoso que, diziam, era a verdadeira intelectual do casal. Lula, sabemos todos, marido de dona Marisa Letícia, a "Galega". Mal Fernando Haddad assumiu a candidatura à Presidência, conhecemos todos Ana Estela Haddad, discreta, mas atuante, professora e militante.

Só não conhecemos a esposa de Jair Bolsonaro.

Se pararmos para pensar, também não conhecemos as esposas, noivas ou namoradas dos Bolsofilhos. Nem Eduardo, nem Flávio, nem Carlos, os três detentores de cargos eletivos, não aparecem em público ou em fotos com as respectivas. Andam somente uns com os outros, como num cartaz do filme Poderoso Chefão. Um clube do Bolinha eterno.

Resolvi recorrer à pesquisa básica nessa ferramenta que pouca gente usa nos dias atuais, o Google.

A sra. Bolsonaro, digamos, se chama Michelle de Paula Firmo Reinaldo, com quem ele se casou em 2007. Ela era secretária parlamentar na Câmara dos Deputados e casou-se com a criatura dois meses de contratada pelo gabinete dele. É a mãe da única filha dele, Laura, aquela que nasceu de uma "fraquejada".

Como se sabe, o candidato da família tradicional foi casado duas vezes antes. Com Rogéria Nantes Nunes Braga, a quem ajudou a eleger vereadora na cidade do Rio de Janeiro em 1992 e 1996 e mãe de Flávio, Eduardo e Carlos.  Depois foi casado ainda com Ana Cristina Valle, mãe de seu filho Renan. Ana Cristina ficou conhecida por vir à tona depoimento dela acusando Bolsonaro de roubar um cofre e dinheiro dela e de ameaçá-la de morte. Depois disse que não era bem assim, embora tudo estivesse documentado e á época ele fosse apenas o deputado medíocre que ainda é. Ana tentou candidatira a deputada federal usando o sobrenome do ex-marido, mas sem êxito.

Os Bolsonaros criaram uma aura de estereótipos de "macheza" em torno deles. Gostam de armas, caça e violência de maneira geral. No mundo "macho" deles, mulheres são excluídas, criaturas sempre em segundo plano. As esposas e namoradas dos filhos, jovem guapos em idade de andar mais com as caras metades que com os irmãos, nunca estão em eventos ou movimentações ao lado delas, pelo menos se estão eu jamais vi.

Os apoiadores deles parecem seguir o exemplo. Quando recebido em aeroportos e movimentações Brasil afora na pré-campanha, eu me detinha a observar entre as pequenas multidões quantas pessoas do sexo feminino nelas. Raramente as encontrava. Uma aqui, outra acolá, algumas repórteres. Em algumas das imagens, nenhuma mulher, só o grupo de apoiadores quase padrão dele: macho-branco-hétero.

Os imbróglios do clã com o sexo oposto são diversos. Fiquemos nos principais para não enfadar o leitor. Descontando o já citado conflito com a ex-esposa, Bolsonaro pai já agrediu verbalmente a deputada federal Maria do Rosário com uma frase que em um país civilizado o tiraria da cadeira de deputado e o impediria de sequer sonhar com uma candidatura a presidente: "Só não te estupro porque você não merece (por ser feia, segundo ele)". Já se atritou com jornalistas, já ofendeu militantes feministas, tem uma folha corrida de misoginia. Isso porque sequer vou me deter nas denúncias graves de Patricia Lélis contra Eduardo, segundo ela sem ex-namorado, e nas fake news da campanha de Bolsonaro contra Manuela D´ávila.

Mas o que me impressiona nesse exato momento é a invisibilidade das mulheres do clã. Sinal inequívoco do papel que as mulheres terão em um possível Governo Bolsonaro e que as políticas públicas para elas estarão dentro do que merecem criaturas que servem como reprodutoras e consortes, já que frutos de "fraquejadas".

Os próprios apoiadores da criatura, em ataques registrados em todo o país, deixam claro que a exposição de mulheres "feministas" (no padrão limitado e tosco deles) ou que não atendam aos padrões que o perfil bolsonariano de ver a realidade desejam, não é desejada e eles tentarão, portanto, fazer dessa "invisibilidade" uma regra, com milicias de patrulha de comportamento. Mulher tatuada? Mulher com cabelo pintado de azul? Saia curta? Camiseta com dizeres feministas? Nada disso será tolerado pelas milícias.

Lugar de mulher é em casa, nas tarefas domésticas e longe da política e dos assuntos "dos homens". Parece ser isso que os Bolsonaros sempre querem nos dizer com sua misoginia e agressividade. Tempos sombrios.

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