A midiatização seletiva
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25 de fevereiro de 2019
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Sepultados os meninos assassinados pelo Flamengo, não lembramos dos mortos pela frágil infraestrutura urbana do Rio de Janeiro, e mal lembramos dos mortos e (ainda) desaparecidos de Brumadinho – principalmente agora que a Vale já tá cuidando de tudo – de acordo com o seu próprio comunicado no intervalo do Fantástico. A tragédia da semana, de repente, é a crise humanitária da Venezuela.

De repente, jornalistas e comentaristas na televisão e internet demonstram grande indignação pela fome por que passam os venezuelanos desde que as consequências da crise econômica global começaram a afetar a América Latina. Hoje, são 3,7 milhões de venezuelanos passando fome, o que corresponde a 11,5% da população do país. Pode ter sido alguma coisa que Trump falou que despertou a sensibilidade pelos famintos. É que eu nunca havia notado, na mídia brasileira, tal indignação em relação aos 11,1% da população brasileira que também passa fome hoje – o que corresponde a 23,3 milhões de pessoas.

Nas explicações da maioria das reportagens, Maduro seria o único culpado pela escassez de alimentos e remédios. Pouca gente comenta sobre a dependência da economia Venezuelana ao mercado internacional do petróleo – cada US$ 100 que entravam na economia em 2017, US$ 96 eram provenientes do petróleo. E foi nesse ano que os Estados Unidos endureceram as sanções econômicas contra o regime de Maduro e, na prática, impediram as negociações dos títulos da PDVSA, a estatal petroleira da Venezuela. Na época, o ministro das relações internacionais Jorge Arreaza denunciava que os Estados Unidos tentavam promover uma crise humanitária. Parece que ele estava certo. Mas nenhum jornalista da imprensa brasileira citou o assunto em suas reportagens.

Não é nenhuma novidade na mídia brasileira. Nossos meios de comunicação sempre se pautaram pela agenda de Washington e se organizam para conseguir as informações da América do Sul direto dos Estados Unidos. Mesmo que Pacaraima seja logo ali, conhecemos pela televisão apenas a versão de uma Venezuela destruída – que é a versão que Trump precisa para reconquistar o domínio de uma de suas fontes mais estratégicas de petróleo.

No fim de uma semana de bombardeio midiático, você provavelmente está contagiado pela indignação contra o autoritarismo de Maduro. Talvez você, até mesmo, tenha se tornado apoiador de Juan Guaidó. Pela narrativa maniqueísta criada pela imprensa brasileira, talvez essa seja a única posição possível, ela só não nos deixa ver o que está realmente por trás de toda essa história.

Para saber mais e melhor sobre a América Latina, melhor atravessar a fronteira da mídia nacional por sua própria conta.

Uma viagem cada vez mais necessária.

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