A luta antimanicomial tem perdido forças no país com a estigmatização e normalização da loucura banalizada e a falta de políticas públicas efetivas para sua ascensão há décadas. No Brasil, com um governo genocida essa questão se aprofunda no contexto da pandemia. Como saber o método correto para intervenção de uma gama de pessoas que sofrem no isolamento social ou no trabalho presencial obrigatório para sua sobrevivência financeira?
Surtar ainda é ser colocado em caixas subjetivas e as pessoas são isoladas não apenas fisicamente, como também nos ciclos afetivos. O INSS sobrevive capenga com o auxílio doença que dura meses para sua concretização e os indivíduos que necessitam pagar suas contas com a saúde mental prejudicada seguem sem rumo num Brasil que prefere calar suas vozes porque é mais fácil excluir de atividades sem direcionamento algum.
Ao assistir “Eu, Daniel Blake” é possível identificar que essa luta por auxílios políticos em casos semelhantes é internacional e rígida em diversos países, mas existem perspectivas ignoradas que são camufladas com um silenciamento perverso de potências humanas. Trazer uma pedagogia do afeto como um meio para o tratamento desses grupos majoritariamente prejudicados é abrir caminhos para diminuir o impacto mental que pessoas com doenças mentais podem sofrer. Daí a importância dos CAPS como apoio mais próximos ao invés de internação massiva em clínicas ou hospitais psiquiátricos.
O estigma sobre afetados psicologicamente por contextos socioeconômicos aprofunda ainda mais a distância das relações humanas e de seu fazer diário. Nas redes sociais, ainda é possível ver pessoas usando termos como “louca” ou frases como “esqueceu seus remedinhos” sem considerar os prejuízos que o controle de remédios pode causar no organismo humano e na história de vida das pessoas.
É preciso quebrar algumas barreiras e trazer para o real discussões que são profundas e complexas, afinal, substâncias como álcool também podem prejudicar os fluxos psicológicos e vemos diversas publicidades para o uso do mesmo na nossa sociedade. Os remédios continuam sendo vendidos enquanto vidas se prejudicam e a divulgação nas redes de uma cerveja é um alívio para determinamos grupos sociais.
Freud trouxe contribuições históricas para diversas áreas do conhecimento, mas também trabalhou com grupos seletivos de mulheres caracterizando a histeria feminina causando danos até os dias atuais na luta antipatriarcal. Ser “louca” é pior que ser “louco”? O maluco beleza de Raul permanece na nossa sociedade? São questões ligeiras que precisamos refletir.
A SAS Brasil têm trabalhado na pandemia para atingir o máximo de pessoas no atendimento remoto, mas não chega nas massas por motivos virtuais e pela praticidade irreal de inserir um ente na via internatória. Ainda é mais simples para nossa sociedade chamar a SAMU e assinar um termo de responsabilidade que lutar pela permanência de uma pessoa no contexto social e subjetivo de uma sociedade afetada pelas políticas públicas.
Até quando trataremos pessoas com a saúde mental prejudicada em rótulos de doentes mentais, e apenas isso? É complexo e mais doentil calar as vozes de pessoas que assumem suas questões psicológicas abrindo uma cerveja aglomerando nas ruas enquanto uma pandemia assola países e as cabeças humanas. É preciso pensar caminhos fluídos e menos sádicos para nossa população para não entupirmos os diversos João Machados dessa nação.