A peleja do macho hétero branco contra o isolamento Social e Coronavírus
Natal, RN 28 de mar 2024

A peleja do macho hétero branco contra o isolamento Social e Coronavírus

27 de abril de 2020
A peleja do macho hétero branco contra o isolamento Social e Coronavírus

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Em isolamento social, como recomenda a OMS e os governos federais, estaduais e municipais sérios pelo Brasil e Mundo afora, limitei-me a sair umas poucas vezes, sempre quando necessário e sempre com os devidos cuidados, máscara e álcool em gel no bolso.

Há tempos estou para escrever sobre minha percepção destas rápidas, tensas e atentas saídas. Chegou o momento porque percebi que o que poderia ser uma cisma minha é, na verdade, uma tendência geral, cujo tema é o título irônico deste texto.

Peço desculpas a leitores e leitoras pelo uso exagerado de maiúsculas que farei a partir de agora, sei que é um recurso jornalístico e literário que não se deve usar (a não ser que você seja Bukowski) mas cabe pelo tom passional do texto. Dito isso, vamos lá: Nessas saídas esparsas, sempre para os mesmos lugares (supermercado, farmácia, lotérica, agência de banco e agência de correios) percebi, como muita gente já registrou, MUITA gente andando a esmo, nem aí para isolamento social nem prevenção ao Covid-19.

Mas, na minha percepção pessoal, empírica, claro, sem qualquer embasamento estatístico, apenas a minha visão in loco, percebi um grande contingente de mulheres usando máscaras. Em compensação, MUITOS homens sem máscara, possivelmente a maioria.

Pior que isso. Nas inevitáveis filas em que entrei, TODA VEZ, SEM EXCEÇÃO, um homem  - sem máscara - tentava puxar assunto em voz alta na fila. Uns conseguiam, outros ficavam falando sozinhos, espalhando gotículas pelo ar.

Da mesma forma, também TODA VEZ na fila tem um homem, sim, sem máscara, claro, reclamando de alguma coisa em voz alta, seja "os políticos safados que querem ferrar a gente", da "China que inventou esse vírus para dominar o Mundo" ou, como ouvi na fila do Correio de Parnamirim, na manhã desta segunda "não existe isso de vírus, não, é uma truque dos governos para travar a economia".

Esse pessoal que fala alto e sem qualquer proteção não preza pela diversidade, não: É SEMPRE O MESMO PERFIL: Homem, entre 45 e 60 anos, branco, oficialmente hétero, classe média alta (ou que assim se vê) geralmente de óculos escuros e/ou algum outro aparato como a chave do carro ou a carteira na mão. Como diria Nelson Rodrigues nas suas crônicas: É batata! O perfil é sempre o mesmo.

Não tenho embasamento acadêmico para dar mais profundidade a essa investigação, mas a grosso modo eu poderia analisar que este perfil citado é justamente aquele que se acha imune a tudo; a doenças, acidentes, catástrofes etc. Um tipo de pessoa que quando jovem disputou racha de carros, mais adulto dirigiu embriagado da vaquejada no interior até a capital, que briga no trânsito e bebe e come como se não houvesse amanhã. Por que esse perfil teria medo de uma "gripezinha" ?

Aí é que mora o perigo adicional e coletivo: Ainda que realmente este indivíduo contraia o vírus e não desenvolva qualquer sintoma, ele pode acabar transmitindo para a mãe, o pai, os avós, ou nos infectar e fazer com que nós infectemos os nossos pais e avós. Enfim, são pessoas que trabalham contra o a coletividade.

Porque o isolamento social é justamente pela ideia de coletividade. 1) Impedir que o vírus infecte um número maior de pessoas até que se desenvolva uma vacina ou maneira de minimizar o impacto. 2) Impedir o colapso no sistema de saúde. Isso é um óbvio.

Mas, não é tarefa fácil explicar o óbvio para quem se acha invencível, para quem estaciona carro em vaga de deficiente físico ou dirige pela contramão. Aliás, o gosto pela desobediência às leis é de praxe neste perfil citado do homem-branco-hétero-quarentão.

Enfim, se tiver se sair à rua, fique ligado que um contingente de pessoas está em peleja direta contra o isolamento e de certa forma negando o vírus e seu grau de periculosidade. Tanto que na primeira semana de quarentena, ao me esgueirar até o bar da esquina para comprar estoque de cerveja, havia um homem lá (sim, no perfil citado) resmungando que "achava uma bobagem isso, afinal, nem todo mundo vai morrer, só uns poucos".

Lembra até as frases de certo presidente da República, também contra o isolamento e negacionista. Presidente aliás que sempre se adequou ao perfil citado aqui.

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