A Record tenta, mas só a Globo manipula direito
Natal, RN 26 de abr 2024

A Record tenta, mas só a Globo manipula direito

21 de maio de 2019
A Record tenta, mas só a Globo manipula direito

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Enquanto vocês aí na TV por assinatura só falavam no final de GOT, o pessoal aqui da TV aberta se divertia com muito mais coisas. Teve o final insosso de “O Sétimo Guardião”, Maísa reclamando que a Globo atrapalha o programa dela, Campeonato de Futebol Feminino na Band, Faustão “anunciando”o fim do programa para um futuro breve (?) e, a melhor de todas, Eduardo Bolsonaro insinuando gritar “Lula Livre” em um programa de televisão da Rede TV.

Outra cena imperdível do domingo na TV foi protagonizada pela Rede Globo, mais precisamente no Fantástico, no quadro “Isso a Globo não mostra”. Joice Hasselmann, líder do Governo, chama os manifestantes que foram às ruas contra os cortes na educação e contra o fim da previdência de baderneiros e diz que o governo não pode dialogar com eles. Seguem cenas da mesma Joice Hasselman vestida de verde e amarelo fazendo “baderna” em alto nível, segundo seu próprio conceito. Não deixem de ver.

Na quarta-feira, depois que cheguei das ruas, peguei o controle remoto e fui zapear os noticiários nacionais para saber como aquele dia de mobilizações seria contado pela mídia. Primeiro na Globo, a inimiga número 1 de Bolsonaro. Foram várias matérias para mostrar as manifestações em todo o país. Na primeira, destaque para os atos da manhã. Muita gente na rua, muitas imagens de cartazes e um cuidado especial em informar a estimativa de participantes até quando não havia estimativa pela polícia.

Depois o jornal mostrou a convocação do ministro da Educação Abraham Weintraub no Congresso, com destaque para os questionamentos da oposição – e aqui aparece a diva das manifestações do #foradilma reclamando das manifestações! Corta para o Texas, onde o tal do presidente resolveu chamar os manifestantes (inclusive eu) de “idiotas úteis”. Mas o melhor ainda estava por vir.

Quando eu estava achando que a Globo ia ignorar os grandes atos da tarde, vem a matéria devastadora. Imagens de drones, helicópteros, multidões, Fortaleza, Curitiba, Juiz de Fora, o Brasil todo, gritos de guerra, mais cartazes, mais falas de professorinhas angelicais, crianças, jovens de 1968. O clamor das ruas ressoou na televisão. Nem falaram dos congestionamentos, não lembraram do direito de ir e vir ferido pelas marchas, não reclamaram de nada. Até o ônibus incendiado no Rio só pegou fogo “depois do encerramento oficial do ato pelos organizadores”. O JN ainda mostrou Bolsonaro falando abobrinhas umas duas ou três vezes antes de terminar.

Dá quase vontade de assinar o Globo Play!

Mas não caia na história de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Desse jeito, eu teria que ficar amigo do Bolsonaro também. A Globo não fez nada mais do que sempre fez: usou o jornalismo como ferramenta de pressão política para se manter ativa na cozinha do poder, como vinha fazendo desde os tempos da ditadura.

Só que o Bolsonaro prefere a Record e não faz questão de esconder isso da própria Globo.

E foi para lá que fui, logo depois do Jornal Nacional. Lá estava a apresentadora anunciando em tom sóbrio que o presidente havia se pronunciado, em Dallas, sobre os protestos no Brasil. As mesmas abobrinhas de Bolsonaro que já haviam passado na Globo ganham um tom quase professoral na Record. Falando em professor, o Abraham Weintraub da Record aparece sereno e inteligente respondendo aos questionamentos de deputados aliados ao governo. Era só cabecear para acertar no gol. Destaque para a postura senhorial de Joice, a ex-baderneira, sentada bem ali ao lado do ministro.

A matéria que mostrou os atos fez questão de destacar a baderna, mas tudo o que eles tinham era um vídeo de celular de que mal mostrava uma confusão dos manifestantes com a polícia em Porto Alegre e o ônibus queimado no Rio. Era esse o tom que tentavam impor à jornada de protestos, mas não tinha muito como esconder a onda que tomou as ruas de todo o país naquela tarde.

Ao contrário da edição da Globo, não sei se a edição da Record consegue convencer aquela sua tia dona de casa e temente a Deus. A Record prega para convertidos – com o perdão do trocadilho. A Globo disputa corações e mentes e manipula a realidade de forma muito mais consistente e convincente.

Resta saber até quando a Globo estará do “nosso” lado e se vai conseguir sustentar essa máquina de ilusões sem o dinheiro da verba publicitária do Governo Federal.

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