Acertei na Mega Sena
Natal, RN 19 de abr 2024

Acertei na Mega Sena

19 de maio de 2019
Acertei na Mega Sena

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Há algumas semanas escrevi sobre as idiotices do comentarista Neto em meu blog diário do portal nominuto.com. Disse e repito, esse papangu da Band seria o Bolsonaro do comentário esportivo. Fazer futebol, falar de futebol, se você não tiver um certo controle (o meu está se esvaindo) é capaz, corre o risco de ter um troço tais os absurdos, questionamentos, pitacos e críticas, até críticas sim, que ouve quase todo santo dia em qualquer lugar que chega. Sem falar na repetição absurda de uma mesma pergunta, dependendo do jogo, do acontecimento da semana.

Quinta-feira, assim como milhões e milhões pelo Brasil, entrei numa fila para marcar minha mega sena acumulada. O último da fila, um conhecido, não amigo, nem mesmo colega, apenas um conhecido. Ele se ofereceu para guardar o lugar para mim enquanto eu ia até a banquinha pegar os cartões e assinalar os números que repito sempre. Imagine aí um erro gravísssimo. Já disse que a fila estava longa, portanto, certamente, o que aconteceu, eu ia demorar muito ao lado do torcedor, do ABC.

A primeira estocada: "Edmo, você é americano, né?", perguntou. Respondi que não. Torcia pelo Alecrim e por todos os clubes potiguares em competições nacionais. Ele ignorou solenemente. "Não, você tem uma quedinha pelo América, a gente nota quando você está falando no rádio e na tevê", insistiu. Silenciei, olhei para o lado, peguei o celular e fingi estar vendo zap. Fechei a cara. De nada adiantou. Aí ele começou a desfiar um rosário de críticas ao treinador do ABC. Ranielle passou a ser o bode expiatório de todas as mazelas que afetaram o clube nos últimos anos, meses,  dias. A vitória sobre o Altos/PI, "timinho da Paraíba (errou o estado) era obrigação e ainda fez vergonha, pois quase perde..." E eu inchando, a fila andando devagar.

Mudou de assunto. Lucas Moura foi a escolha, foi aí que me lembrei do famigerado Neto. Certamente era um telespectador do desorientado da Band. Afirmou que Lucas, desde o São Paulo, sempre foi melhor que Neymar e ele deveria ter sido convocado, e os três gols, e repete, repete. Não suportei e disse a mesma coisa que escrevi semana passada sobre o Lucas nunca ter tido uma sequência de bons jogos que justificassem uma convocação..."Não, mas Neto disse que ele...", interrompi o cara de forma grosseira, dizendo que o ídolo dele não entendia de "porra" nenhuma, e falei até um pouco alto demais. Alguns me olharam. Ele se surpreendeu, e como acontece nesses casos, fingiu concordar comigo.

Mudou de assunto. O cara era flamenguista no Rio de Janeiro. Ai, meu Deus, pensei: nem vou citar o nome Cuellar, senão sou capaz de dar um empurrão nesse desinfeliz aqui mesmo na fila e fazer papel de doido. Ele, como quase todo rubro-negro, detonou o Pará, sobrou para o lateral direito e para Vitinho e foi dando sua opinião sobre como devia ser a coisa na Gávea se ele fosse dirigente. O Flamengo tinha que mandar embora o ala e  também o treinador Abel Braga, "sabe de porra nenhuma!" E disse que o treinador do "Mengão" devia ser Jorge Sampaoli, o treinador argentino do Santos. Amenizou. Até passou um pouco a raiva, pois pelo menos o comandante santista não está dando corda para que surjam bolsominions na Vila, já que ele é anti Macri, dizem que também é anti Bolsonaro e um peronista de carteirinha. Fiquei calado, usei de novo a tática do celular.

Uma quentura de lascar no cubículo apertado, imprensado, suores, reclamações, a moça gritando para um velhinho quase surdo "aperte o verde", e repetiu várias vezes, daqui a pouco uma senhorinha, da mesma idade dele, já gritava também; dois ventiladores velhos jogando poeira na cara de quem pensava se refrescar e a peste da fila devagar. E ele, o cara não parava: "Edmo, rapaz, tu devia ter ido pra fila dos idosos, tu já tava liberado, aquele veinho que eu falei já saiu faz tempo..." e o filho da puta ainda tem que lembrar minha condição de idoso. Mudo estava, mudo fiquei. Mas, pergunto: tem jeito para um corno desgraçado chato do caralho daquele? Tem não. Me cutucou. Respirei fundo. "Edmo, tu jogou no Alecrim, foi? Com a cara de 'bode quando come urtiga' balancei a cabeça afirmando. "Jogasse contra Cocó e Piaba?", o sacana perguntou. Veio e quase saiu uma resposta mandando-o à puta que o pariu, mas não. Respondi, grosso, que quando eu comecei a jogar os dois já haviam parado, fazia um bom tempo e dei as costas.

Olhei para o lado. Vi duas senhoras e uma mocinha solidárias. Elas estavam entendendo meu drama, com pena de mim, mas o carrapato não. Me cutucou de novo. E aí veio o desfecho. "Eu joguei muita bola. Os três, ABC, América e Alecrim, queriam me levar para jogar, nunca quis, preferi arranjar meu emprego, carteirinha assinada, futebol só nos bairros e no interior, sem compromisso, mas eu jogava muito. Esses caras de ABC e América aí nenhum amarrava minha chuteira, e batia forte, e tanto jogava na defesa quanto no ataque...", matraqueava sem parar o doido se gabando, achando ele que todo mundo estava acreditando.  Eu aproveitei e emendei: "você é daqueles que batia o escanteio e corria para cabecear", zombei. Ele sorriu amarelo, sem graça. O rapaz atrás de mim caiu na gargalhada. Ele fechou a cara, não falou mais, o caixa chamou, e o cachorro da mulesta chato foi embora sem nem se despedir.

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.