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22 de junho de 2018
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No sábado passado, dia 16 de junho, numa festa bem bonita no Bar de Nazaré, foi “aclamada” a chapa “Medusas” para uma nova gestão da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, a SAMBA.

Muita gente que mora em Natal desconhece totalmente a existência do Beco da Lama, que dirá a Samba. Criada em 1994 como esforço de um grupo de amig@s para dar visibilidade e viabilidade à existência daquela importante região do Centro Histórico, a pergunta que não quer calar é: conseguirá a Samba renovar-se realmente e manter-se viva, já que a última gestão (também “aclamada”, isto é, posta em vigor sem eleição direta dos “associad@s”) efetivamente pouco fez além de alugar aparelhagem de som para eventos diversos ?

Certamente, as meninas encabeçadas por Maria Gorette sabem o quanto há por se fazer. A primeira coisa diz respeito à regularização da documentação. Eu, de minha parte, sempre achei estranha a tentativa de “burocratizar a boemia”, acho que se alguém deseja fazer algo, vai lá e faz, sem necessariamente esperar o aval de instância alguma. Mas é claro que reconheço que a existência formal de um órgão com CNPJ facilita muito algumas realizações, como por exemplo a concorrência em editais públicos para projetos que revitalizem o Beco e adjacências.

Mas enquanto a regularização não acontece, penso que algumas medidas já poderiam ser tomadas. Não sou associada (penso como Groucho Marx: “não entro para clube que me aceita como sócio”), mas o Beco da Lama ocupa um cantinho especial na geografia dos meus afetos e por isso me permito a dar meus pitacos.

Uma medida bem simples, por exemplo, seria a de realizar um abaixo-assinado com trabalhadores, moradores e frequentadores do lugar exigindo a instalação de lixeiras, à maneira do que foi feito em Ponta Negra. Eu fico abismada como não se encontra uma única caixa coletora sequer por ali. Junto a isso, uma pequena campanha de conscientização de limpeza também caberia bem, já que é impressionante a quantidade de flagrantes de pessoas (independente do grau de escolaridade) jogando lixo na rua.

É o mínimo a se fazer, já que as sucessivas e diferentes (?!) gestões da Prefeitura continuam burramente indiferentes ao potencial econômico e cultural do Beco da Lama, num desrespeito tacanho e total à memória histórica daquele ponto da cidade. E, nesse sentido, uma segunda medida que creio importante seria a criação de um Memorial. As múltiplas estórias e histórias envolvendo personas e paisagens “becodalamenses” se reduzem à oralidade de alguns (ou registros de fotos no Instagram e no Facebook) e correm o risco de perder-se, já que nunca houve o esforço sério de criação de um equipamento físico em que estivessem reunidas todas essas “lembranças” (por meio de fotografias, crônicas, pinturas, objetos diversos etc.) valorizando o tempo passado e o tempo presente do lugar tanto para habitués quanto para possíveis turistas e visitantes. O memorial também seria uma ponte para mostrar e valorizar a produção dos inúmeros artistas que por ali transitam (pintores, desenhistas, poetas, escritores, fotógrafos, músicos, artesãos etc.).

Uma terceira e última medida que julgo importante seria a de dar fim a esse exclusivismo que o “Livro Sagrado da Samba” impõe. Além do anacronismo (tem gente que assinou esse livro quando da criação da Samba e que nem frequenta mais o lugar), acho que há uma espécie de seletividade de uns e exclusão de outros. Penso que, independentemente das assinaturas, medidas mais importantes poderiam ser tomadas por meio de assembleias gerais, amplas e irrestritas, em que tod@s presentes pudessem ter voz ativa e participar coletiva e democraticamente das decisões.

Enfim, existem mil maneiras de se preparar uma outra Samba, mais ativa, dinâmica e democrática: reativação de eventos já realizados (Prato do Mundo, MPBeco etc.), criação de uma publicação periódica informativa e literária (um jornal, uma revista, um zine, um blog, o que for). E tantas outras possibilidades.

Boto fé na nova gestão. Não porque seja composta somente por mulheres (sem sexismos, minha gente!), mas porque, como diria o poeta Belchior, “o novo sempre vem”. Tenhamos esperança e não deixemos a Samba morrer!

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