Adurn suspende projeto “Na trilha da Democracia” após novo ataque de Bolsonaro aos sindicatos
Natal, RN 20 de abr 2024

Adurn suspende projeto “Na trilha da Democracia” após novo ataque de Bolsonaro aos sindicatos

18 de junho de 2019
Adurn suspende projeto “Na trilha da Democracia” após novo ataque de Bolsonaro aos sindicatos

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Para quem ainda duvidava que o governo Bolsonaro era uma ameaça à democracia, a prova chegou. A Adurn-Sindicato anunciou nesta segunda-feira (17) a suspensão do projeto “Na trilha da Democracia”, iniciativa que trouxe a Natal 12 personalidades de reconhecimento nacional, entre 2016 e 2019, para debater os ataques e ameaças ao Estado democrático de direito no país.

O motivo da suspensão é o efeito da Medida Provisória 873, editada ainda no carnaval, que atropela a Constituição Federal ao exigir que o pagamento das mensalidades sindicais seja feito exclusivamente via boleto bancário, o que obrigaria todos os sindicatos do país a criar uma estrutura de cobrança atrelada a algum banco. Atualmente, a cobrança é realizada diretamente, com autorização do sindicalizado, via desconto em folha.

O Adurn-Sindicato conseguiu derrubar a MP com uma liminar conquistada na 1ª Vara Federal, mas semana passada o Governo Bolsonaro cassou a liminar na Justiça:

- O recurso que recebemos mensalmente, a MP 873 do governo retirou do contracheque e ordenou que a gente fosse atrás de cada professor e aposentado individualmente para que esse professor autorize o débito em conta. Ora, somos 2.500 professores e o governo sequer deu um prazo para que essa transição fosse feita”, desabafa Wellington Duarte, presidente do Adurn-Sindicato.

A última edição do projeto antes da suspensão ocorreu nesta segunda-feira (17) com debate com o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB). Na ocasião, Duarte destacou a necessidade de reavaliar os custos do projeto:

Estamos suspendendo para avaliar os recursos do sindicato. Temos limites de recursos e o “Na Trilha da Democracia”, que tem custo bastante significativo, tem que ser colocado no papel", disse.

O debate com o teólogo Leonardo Boff levou tanta gente ao auditório da reitoria que um telão precisou ser instalado na parte externa

Esse é o segundo projeto importante na área de educação suspenso em 2019 na UFRN por interferência do governo Bolsonaro. Há duas semanas, a reitoria divulgou o cancelamento da Cientec, principal feira de ciência e tecnologia da universidade, após o Ministério da Educação confirmar que os cortes no orçamento não seriam revertidos.

O “Na trilha da Democracia” foi criado em 2016, às vésperas do golpe que retirou do Palácio do Planalto a ex-presidenta eleita Dilma Rousseff, não por acaso uma das convidadas das 12 edições do projeto ao longo dos últimos três anos.

O projeto é realizado pela Adurn em parceria com o Sindicato dos Petroleiros e a Frente Brasil Popular.

Além da ex-presidenta da República, participaram como convidados nomes do jornalismo como Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e Paulo Moreira Leite, os cientistas sociais Emir Sader e Jessé Souza, os geólogos Rodrigo Leão e Guilherme Estrela, considerado o “pai do Pré-sal”, o economista e presidente da Fundação Perseu Abramo Márcio Porchman, o teólogo Leonardo Boff, a deputada federal Jandira Feghali e o governador do Maranhão Flávio Dino.

Responsável pelo anúncio da suspensão do projeto, Wellington Duarte listou os ataques de Bolsonaro aos sindicatos para justificar a interrupção da iniciativa:

- Estamos suspendendo por causa dos custos que envolvem um evento dessa qualidade e porque os sindicatos estão sendo atacados. Nossos recursos foram capturados pelo governo federal com a Medida Provisória 873 e estamos na luta, só não sabemos quando será regularizada essa situação. Portanto, para evitar gastos excessivos, até pela qualidade que tem o projeto, decidimos suspender até que tenhamos condições financeiras para voltar a produzir”, diz.

O sociólogo Jessé Souza é um dos grandes pensadores contemporâneos do país

Após três anos e 12 edições do projeto, uma média de quatro debates por ano, o presidente da Adurn-Sindicato destacou a importância da ação:

- O balanço é positivo, principalmente em termos de qualidade, do histórico, rende material de palestras com pessoas de alta qualidade. Tivemos como convidados de uma ex-presidenta da República a um governador do Estado, profissionais de alta capacidade técnica, como Guilherme Estrela, convidados de alta projeção nacional. Qual é o sindicato que tem essa ousadia de fazer um projeto desse num momento como o que estamos vivendo ?”, exaltou.

Mas nem tudo são louros na trajetória do projeto “Na Trilha da Democracia”. A Adurn-Sindicato, assim como a própria UFRN, vem sendo alvo de críticas da imprensa de direita e extrema-direita do Rio Grande do Norte em razão do perfil ideológico dos convidados, todos ligados ao campo progressista.

Duarte reconhece a importância de algumas críticas, mas ironiza os chiliques da representantes da extrema-direita no Estado:

- Engraçado seria se a gente trouxesse Bolsonaro ou os filhos dele para falar sobre a destruição das universidades. Acho que as críticas, algumas a gente compreende, outras são meramente oportunistas. O Sindicato não tem perfil ideológico, mas a direção tem um perfil progressista e estamos na resistência democrática. Então, com todo o respeito, não caberia trazer aqui o Carlos Bolsonaro pra falar sobre resistência democrática, concorda?”, diz

Além do projeto “Na trilha da Democracia”, a UFRN não terá mais no segundo semestre a Cientec. Para o presidente da ADURN-Sindicato, as perdas da universidade são fruto do projeto político federal:

- O governo Bolsonaro tem atuado em várias frentes: a institucional, com os cortes no custeio e investimento das universidades; a frente sindical, destruindo os sindicatos pela Reforma Trabalhista e pela MP 873; ataca na Previdência Pública, ataca pela Cultura, pelo desmatamento, quer dizer, não há nenhum setor da sociedade que esteja imune ou distante aos ataques desse governo. É um governo de destruição, não é um governo de mudança nem para o campo da direita. É um campo de destruição do tecido social do Brasil a troco de você ver agora os vazamento dos diálogos que flagraram um conluio entre procuradores e um juiz, além da queda brutal no nível de desenvolvimento. Estamos regredindo ao século 20”, analisa.

Os 12 convidados do projeto Na Trilha da Democracia

Paulo Henrique Amorim – jornalista
Guilherme Estrela – geólogo considerado “o pai do Pré-Sal”
Márcio Pochman – economista, professor e pesquisador
Paulo Moreira Leite – jornalista
Jessé Souza – sociólogo, professor e pesquisador
Emir Sader – sociólogo, professor e pesquisador
Luís Nassif – jornalista
Dilma Rousseff – ex-gestora pública e presidenta deposta por um
Golpe de Estado.
Rodrigo Leão – pesquisador da área de petróleo
Leonardo Boff – teólogo e escritor
Jandira Feghali – deputada federal
Flávio Dino – governador do Maranhão

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