Ahhh… Como faz falta a Educação!
Natal, RN 28 de mar 2024

Ahhh... Como faz falta a Educação!

16 de maio de 2021
Ahhh... Como faz falta a Educação!

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Nesses tempos tristes e tenebrosos temos tido muita falta de coisas simples, o contato pele a pele, o gargalhar com amigos em rodas de conversa, o abraçar cotidiano no encontro com pessoas queridas! Confesso que duas coisas tem me feito muita falta, a primeira, os papos em rodas de amigos, aqueles em falamos de tudo um pouco e demoram horas, reduzidos hoje a reuniões pelas plataformas de vídeo em que falamos pouco de “aresias” e muito de trabalho e do trabalho que vai dar reconquistar tudo que temos perdido neste pandemônio em que vivemos em nosso país!

A segunda coisa que mais me tem feito falta, é a sala de aula. Sou professora universitária hoje, mas comecei minha carreira na educação básica. Fui descobrindo, ao longo da trajetória e dos caminhos que percorri, que meu campo de atuação do coração é o ensino superior. Me encanta a possiblidade de apresentar, aos jovens e aos não tão jovens, as trilhas dos conhecimentos com os quais já tenho mais familiaridade que eles. O pulsar da sala de aula nada tem a ver com as salas do que se convencionou chamar de ensino remoto.

Lá, a dinâmica relacional é extremamente complexa e interativa, mesmo quando sabemos que alguns estudantes só estão de “corpo presente” ... mas, o corpo está presente e por ele temos a possibilidade de acessar a alma/espírito/mente/sentimento do outro. Com um pouco de habilidade e sensibilidade é possível fazer com que os corpos se afetem e se animem na relação com o conhecimento, o aprender. É possível sentir as presenças, ausências, inquietações, desconfortos... a sala de aula é um universo de sentidos e aprendizagens... não vejo a hora de estar de volta (vacinada e em segurança).

Desde o início da pandemia, nós professores, chamamos a atenção para o estrago que fizemos ao optarmos por fecharmos as escolas e universidades em favor de manter o mercado. Chamamos a atenção para a lacuna formativa e excludente que provocamos e como seria demorado recuperar tudo, se é que recuperaremos em um país que vive as crises simultâneas que vivemos. Com mais de um ano de ensino remoto, em alguns casos nenhum ensino, vem à tona a discussão destorcida sobre a essencialidade da escola e da educação. Distorcida pois oculta em sua base a afirmativa de Educação como serviço e as dificuldades mercadológicas das instituições privadas, sem nenhuma discussão séria sobre o Direito a Educação para todos, garantida em nossa Constituição Cidadã de 1988.

A rede pública de ensino, sem financiamento, plano de emergência e raramente considerada como prioridade desde o início de nossa história, corre com a língua de fora para tentar atingir alguma proximidade com a rede privada e alcançar, de alguma forma, seus estudantes, em sua maioria, filhos da classe trabalhadora. Uma situação que poderia ter sido minimizada, se e somente se, nossos governantes a tivessem priorizado desde de março de 2020, investimentos em seus prédios, materiais de higiene e limpeza, recursos para equipamentos informacionais e acesso à internet, bem como capacitação de todos os trabalhadores da educação. Mas porque isso não foi feito?

Faltou Educação! Faltou Educação enquanto formação técnica dos responsáveis pelo desenvolvimento das macro políticas no campo educacional. Faltou Educação quando não se consultou os dados do Censo da Educação para compreender o mapa brasileiro de acesso à escola e das regiões com maior dificuldade de fazer seus jovens permanecerem nela. Faltou Educação para compreender o tamanho do estrago feito na soberania nacional e, portanto, no desenvolvimento econômico do país, quando se abandona seu povo a miséria intelectual. Faltou Educação para compreender que sem acesso a escola, boa parte de nossos estudantes também ficam sem acesso a segurança física e alimentar. Faltou Educação para acessar os documentos do próprio MEC, da ONU e da UNESCO sobre os impactos da ausência da escola na formação emocional e cognitiva de crianças e jovens, além das dificuldades de socialização e de tolerância, respeito e civilidade.

Mas, nesses cinco séculos de existência do Brasil, foram raras as vezes em que não faltou Educação. Em sempre faltando, sua ausência criou uma elite ignorante, violenta e extorsiva; um modelo político econômico que que saiu do monopolismo das oligarquias escravocratas e evoluiu para uma política ultraliberal oligarca escravista (mesmo comemorando 183 anos da Lei Áurea) que só visa o lucro financista e nada produz de riqueza para a nação; produziu uma classe média que nem sabe quem é, por isso não se identifica com o povo e se trasveste de elite, numa subserviência idiota e boçal; também produziu um povo que, massacrado pela penúria e pela impossibilidade de acesso educacional, é extorquido cotidianamente de sua humanidade e reatividade e lançado a escravidão da sobrevivência.

Faltou Educação!

Eu, como professora universitária, faço meu mea culpa! Faltou fôlego para chegarmos mais perto da população e escancarar o acesso a Educação. Faltou mais ações para transformar programas de acesso e permanência em políticas de estado. Mas, também reconheço que se não fossem pelos milhões de professores que esse país formou nos últimos tempos, quando ainda vivíamos algo mais próximo de uma democracia, teríamos hoje um estrago muito maior. Pois são eles que se desdobram para fazer chegar um sopro de educação aos estudantes, um acalento e um apoio. São eles que estão se expondo nas salas de aula da rede privada para favorecer o lucro dos donos das escolas. São eles que, com todas as dificuldades, estão possibilitando ao povo desse país uma possibilidade de acesso a dignidade.

Ahhh... como faz falta a Educação!!!

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