ANS investiga Hapvida por suspeita nas prescrições de medicamentos contra a covid-19
Natal, RN 29 de mar 2024

ANS investiga Hapvida por suspeita nas prescrições de medicamentos contra a covid-19

28 de setembro de 2021
ANS investiga Hapvida por suspeita nas prescrições de medicamentos contra a covid-19

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Além da Prevent Senior, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também apura supostas irregularidades na conduta da Hapvida, uma das maiores operadoras de planos de saúde do país e a que possui maior presença nas regiões Norte e Nordeste, durante a pandemia do novo coronavírus. As informações são da BBC Brasil.

A investigação contra a Hapvida, que também tem atuação em Natal e municípios do interior do Rio Grande do Norte, foi iniciada em agosto depois de denúncias de que a empresa pressionava os médicos a prescreverem hidroxicloroquina para casos suspeitos ou confirmados de covid-19. A ANS fez diligências na sede da Hapvida e do grupo São Francisco, que fica no interior de São Paulo e foi comprado em 2019 pela Hapvida.

O Ministério Público do Ceará, estado de origem da Hapvida, multou a operadora em R$ 468 mil, em abril, por "impor, indistintamente a todos os médicos conveniados, que receitem determinados medicamentos no tratamento de pacientes com Covid-19". O Promotor de Justiça do caso, Hugo Vasconcelos, ainda pediu que o caso fosse encaminhado à ANS. A Hapvida recorreu da multa e aguarda decisão.

Em nota à BBC Brasil, a Hapvida negou ter pressionado os médicos para que prescrevessem uso da hidroxicloroquina em seus hospitais e afirmou que respeita a autonomia médica.

Em Natal, um paciente que preferiu não ser identificado e foi atendido no Hospital Antônio Prudente, do grupo Hapvida, conta que apesar de sequer ter sido realizado o teste swab durante o atendimento, também lhe foi receitada prescrição médica com medicamentos para "tratamento" da covid-19 como a hidroxicloroquina.

Receituário com "tratamento precoce" para paciente que sequer foi testado para covid-19 em Natal

O que a Prevent Senior, Hapvida, Unimed, Prefeitura de Natal e CRM têm em comum?

O ideal é que cada leitor tire suas próprias conclusões, então vamos aos fatos:

Unimed - Apesar dos planos de saúde não fazerem distribuição gratuita de quaisquer remédios, durante a pandemia do novo coronavírus foi observado em Natal a entrega gratuita de medicamentos contra a covid-19 pela Unimed. As medicações, que até hoje são apontadas como ineficazes pelas pesquisas científicas, foram distribuídas “apenas” no ano de 2020, no pico da pandemia, segundo a assessoria de imprensa da operadora do plano de saúde.

Nota da Unimed sobre distribuição gratuita dos medicamentos ainda disponível no site

PREFEITURA DE NATAL - Em Natal, houve distribuição em massa de medicação comumente aplicada no tratamento de piolho e sarna, para o combate à covid-19. A própria Prefeitura de Natal montou centros de distribuição dos “kits covid”, o que serviu de carro-chefe para a reeleição do atual prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), cuja campanha focou na suposta eficiência no controle da pandemia com a distribuição gratuita dos “kits para tratamento precoce”, sem muita clareza sobre os gastos públicos com a medicação que se mostrou ineficaz para combater ou evitar a covid-19.

Gaveta com receita pronta no Hospital dos Pescadores

No Centro de Atendimento montando no Ginásio Nélio Dias, na Zona Norte de Natal, os médicos nem precisavam escrever a receita. Bastava marcar um “X” e entregá-la ao paciente, que já era encaminhado para receber o “kit covid”.

“Quando esses pacientes agravavam, chegavam até mim. Tive um paciente de 27 anos, coitado, que era motorista de uber e antes de ser entubado disse que só estava ali porque tinha tomado esse kit e estava se sentindo protegido para trabalhar. Ele acabou falecendo”, lamenta Alderley Torres, médico do Hospital Municipal de Natal (possui rede semi-intensiva) e dá plantão em outras unidades de saúde da capital. Alderley é um dos críticos à defesa de um tratamento que se mostrou inexistente e acabou levando muita gente a desrespeitar as recomendações de isolamento social por se sentir protegida contra a doença.

No Hospital dos Pescadores, a receita já ficava pronta na gaveta. O médico só precisava marcar um “X”, denuncia o médico sobre o esquema adotado na rede pública de saúde da capital.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA CRIA PROTOCOLO - Outro ponto que chama a atenção é o fato de que o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte também elaborou seu próprio protocolo de atendimento a pacientes com covid-19 e defendeu o uso das mesmas medicações do “kit covid”.

O detalhe é que o CRM é um órgão de fiscalização e vigilância da atividade do médico. A elaboração de protocolos é uma atribuição das sociedades de especialistas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

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