Aplausos para o abuso
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24 de fevereiro de 2018
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Nas redes, se esforçam para encontrar controvérsia na tentativa de justificar absurdos. Militares revistando crianças em porta de escolas recebem defesas apaixonadas como se ali fizessem um trabalho de excelência no combate ao tráfico de drogas. Pobres trabalhadores defendem que a falência da previdência é certa, enquanto o governo amplia privilégios e isenções para ricos rentistas.  A classe média remediada, na esquizofrenia de agradar uma elite que a detesta, explode em elogios ao empresário que critica o tamanho do estado, mas pega dinheiro emprestado do BNDES.

Não entendo como as imagens de crianças revistadas simplesmente não chocam e levam a algum tipo de reflexão. Alguns preferem nem querer interpretar o que estão vendo. Simplificam com o “pode ter droga na mochila” e passam a fazer uma defesa da ação militar como se essa fosse uma política de afirmação contra a violência. Tolos, não querem saber como o grande tráfico de drogas se financia, nem das relações do crime organizado com a burocracia estatal. Estão satisfeitos com as grandes perdas que o exército causou ao tráfico revistando mochila de criança. Abrem a temporada de caça aos que consideram “aviõezinhos”, enquanto os helicópteros com toneladas de  pó seguem pousando e decolando, sem incômodo.  Querem um  show, o exército providencia.

A defesa da intervenção militar no Rio virou algo como obrigatório, em mais uma distorção do que as pessoas consideram direitos humanos. Qualquer violação reportada logo recebe uma raivosa resposta, muitas delas cheias de ódio de classe. O governo compra anúncios e diz que tirou o país da crise e vai acabar com a violência no Rio, puro marketing eleitoreiro. Tem quem acredite que a intervenção vai salvar o Rio, os mais atentos já perceberam que ela só foi feita mesmo para tentar salvar o Temer.

Não ceder a impressionismos sobre o estado de exceção no Brasil é fundamental para uma visão mais realista do que os pobres e pretos já sofrem faz muito tempo. A intervenção militar no Rio é uma repetição da regra que as forças de segurança sempre aplicaram contra as populações em vulnerabilidade social.  Foi durante o governo Dilma, por exemplo, que o complexo de Favelas da Maré foi ocupado e um decreto para Garantia da Lei e da Ordem expedido, abrindo espaço para revistas em casas de mais de 120 mil pessoas. Mostrando que a opção pela exceção no Brasil, contra quem é preto e pobre, não é escolha pontual de governos, mas um projeto desse estado, ainda lotado de racismo em suas instituições.

Espero que Temer pague caro por usar o sangue de homens e mulheres negras nesse jogo para agradar seus financiadores de campanha e uma opinião pública que quer vingança, não justiça. Homens perversos estão usando todas as armas  para conseguir mais poder e privilégio, enquanto a população celebra o exército revistando mais uma criança preta na porta da escola.

Toda minha solidariedade às negras e negros do Rio de Janeiro, principal alvo de mais uma ação racista e perversa do estado brasileiro.

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