Uma tirinha circula na internet, nela um casal observa um burro vendado a servir café em uma mesa. Obviamente, não tinha como dar certo. Ao se deparar com a cena, o homem olha para a mulher e diz: “Aposto que você torceu contra, né, Alice?”. Impossível acreditar que no momento de crise que vivemos, será este governo incompetente e improvisado que vai entregar uma solução que faça com que os brasileiros, amedrontados pelo Coronavírus, consigam se acalmar.
A verdade é que temos o pior governo possível num momento crítico da nossa história. Uma liderança vazia, sem espírito público e sem noção de prioridade. Somos governados pelo desequilíbrio beligerante de um senhor que se preocupa mais em ser o “dono da bola” do que como tranquilizar seus governados. Isso nem de longe é torcer contra, é abrir os olhos e enxergar o que está bem à nossa frente.
No último mês, a personalidade egoísta do presidente ficou evidente em vários momentos. Desde quando tínhamos apenas dois casos confirmados no Brasil, e ele posava como um humorista bufão na porta do Palácio da Alvorada, minimizando os riscos. Até o simbólico ato de sair às ruas para cumprimentar brasileiros em uma manifestação fascista, mesmo após ter contato com vários infectados. Uma aglomeração que sequer deveria ter existido, mas foi convocada e defendida pelo presidente, ampliando os riscos de contaminação no país.
Tanto tempo perdido pela arrogância de Bolsonaro vai custar muitas vidas brasileiras. O planejamento faz toda a diferença, é só olhar para o exemplo da Alemanha. Três semanas antes do primeiro caso ser confirmado no país, já existia um comitê de crise para o problema. Hoje, no epicentro da epidemia, o país europeu registra uma das menores taxas de mortalidade e um número controlado de casos. Aqui, sem articulação e por pura ignorância, o governo demorou a tomar medidas óbvias para ampliar o isolamento social e ainda bateu cabeça com os governadores que, dado o apagão do governo federal, agiram da maneira possível para proteger a população.
Entre uma cotovelada e outra, Bolsonaro tratou a Covid-19 como “uma gripezinha”, mesmo a doença já tendo deixado mais de 18.000 mortos no mundo. Líderes globais anunciam a anistia de contas, o estabelecimento de renda mínima para trabalhadores mais pobres e a criação de linhas de créditos para pequenos negócios, enquanto aqui ainda imperam a desorganização e a falta de senso. Obstinado em encontrar maneiras de piorar o cenário de calamidade que vivemos, Bolsonaro queria suspender, sem pagamento de salários, contratos de trabalho por até quatro meses e ainda incentivou que os brasileiros descumpram as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
A população já demonstra impaciência com a postura errática do presidente. Ignorando sua insanidade, está cumprindo a quarentena. Panelas ruidosas batem todos os dias nas principais cidades do país e já não dá para dizer que os panelaços são apenas da esquerda, pois a adesão foi grande nos setores de classe média que votaram em Bolsonaro, mas já largaram mão do seu governo.
Diante de reiterados crimes de responsabilidade, a oposição tomou a iniciativa e, finalmente, protocolou pedido de impeachment. O fez na hora certa, tomando uma atitude antes que “Nero acenda a fogueira”. Aos dirigentes de esquerda que criticam esse ato, resta perguntar quando acreditam que seria o melhor momento para o pedido? Quando as UTI´s estiverem lotadas e nossos médicos precisarem escolher quem vai respirar e quem vai morrer? Chegamos ao limite. Definitivamente, não se trata de torcer contra. É só a mais pura constatação: um burro vendado nunca vai conseguir servir café.