Artistas cantam por liberdade, democracia, resistência e Lula Livre
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Artistas cantam por liberdade, democracia, resistência e Lula Livre

3 de junho de 2019
Artistas cantam por liberdade, democracia, resistência e Lula Livre

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“É uma obrigação artística refletir o meu tempo”. A frase da pianista e cantora norte-americana Nina Simone fez ainda mais sentido neste domingo (2). São Paulo, a exemplo de várias cidades do país, recebeu o Festival Lula Livre, criado como forma de protesto contra a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. O que destacou o evento realizado na capital paulista dos que aconteceram em outros lugares foi o tamanho e os nomes de peso envolvidos: artistas como Criolo, Emicida, Fernanda Takai, Lirinha, Otto, além de bandas como Baiana System, Nação Zumbi e Francisco El Hombre integraram o line up considerado dos sonhos por qualquer fã de música. Foram cerca de 50 músicos, entre cantores e instrumentistas, se revezando no palco montado na Praça da República, no Centro da cidade. Nem o tempo chuvoso conseguiu atrapalhar. A estimativa da organização é que pelo menos 80 mil pessoas tenham passado pelo local durante 8 horas de shows.

Mas o que justifica esse envolvimento tão profundo de representantes da classe artística com a luta pela liberdade do ex-presidente Lula? O músico e produtor Daniel Ganjaman, um dos diretores musicais do festival, explica:

- “Todos que estão participando tem um pensamento alinhado com essa questão, obviamente. Nem todo mundo tem afinidade com o Partido dos Trabalhadores, mas todos os músicos tem afinidade com Lula. Para além disso, quem trabalha com arte, cultura e educação, frentes que promovem o pensamento crítico, vem sofrendo ataques brutais do Governo, então o festival é também um grito de resistência. É o momento da gente estar junto, se confraternizando, se fortalecendo e levantando essa bandeira. Eu tenho consciência que nem todo mundo que assistiu fecha com a causa do Lula, mas foi até lá porque admira o trabalho dos artistas, então aproveitamos essa oportunidade para comunicar e dialogar com essas pessoas, estimulando a reflexão”.

Artistas nordestinos participaram em peso do festival Lula Livre em São Paulo (Foto: Mídia Ninja)

O produtor ainda destacou que a democracia está em xeque desde a prisão do ex-presidente:

- “Eu acredito que a principal pauta progressista neste momento deveria ser o fato de termos um ex-presidente, que provavelmente ganharia as eleições de 2018, preso de forma injusta. Isso tem uma representação que vai muito além da questão eleitoral. É a democracia colocada em xeque. Não existe normalidade democrática nesse cenário. A prisão de Lula abre um precedente muito sério. Enquanto ele estiver preso é como se as pessoas que o colocaram lá pudessem fazer qualquer coisa. É o exemplo maior do estado de exceção em que vivemos atualmente”.

A visão é compartilhada pelo músico paraibano Chico César:

“Desde o início da década de 1980 Lula é um farol para mim, assim como para uma parcela importante da sociedade brasileira – jovens periféricos, negros, estudantes, gente dos rincões do país, assim como eu que sou de Catolé do Rocha. Até hoje Lula continua sendo a esperança para essas pessoas e o que nós vemos é um símbolo de esperança transformado em preso político. Não há provas contra ele, que foi tirado de circulação por um grupo organizado. Hoje estamos aqui na rua, com música, com poesia, com cultura, para gritar Lula Livre. Acreditamos que a justiça cedo ou tarde se fará e ele voltará a liderar o povo brasileiro”.

Para Chico César, Lula sempre foi uma referência (foto: Leandro Godoi)

A popularidade do ex-presidente entre os nordestinos estava refletida no palco. Mais da metade das atrações era de artistas da região. Para o cantor maranhense Zeca Baleiro, defender a liberdade de Lula é também protestar contra o atual governo:

“Isso aqui é um ato cívico que prescinde de filiação a partido. Eu mesmo não me oriento por partido algum e sou inclusive bastante crítico ao PT, mas a gente sabe que as razões da prisão de Lula são obscuras. O juiz Sérgio Moro ter assumido aquele ministério é uma prova cabal da cumplicidade dele com o atual governo. É inadmissível que os grandes tubarões da política nacional estejam impunes enquanto um cara que trabalhou arduamente pelo progresso do Brasil esteja preso. Eu não imaginei que fosse viver para ver tudo o que tem acontecido, essa miséria intelectual... é uma situação que beira o surrealismo, é sarjeta total. Eu logicamente tendo à esquerda, mas independentemente de ser de esquerda, direita ou centro, a gente precisa de pessoas com o mínimo preparo. O Brasil merece um destino maior, então gritar Lula Livre também é gritar Fora Bolsonaro”.

Zeca Baleiro é crítico ao PT, mas encampa o Lula Livre (foto: Leandro Godoi)

Também participaram do Festival Lula Livre Rael, Aíla, Dead Fish, Filipe Catto, Mombojó, Odair José, Thaíde, Junu, Everson Pessoa, Unidos do Swing, Arnaldo Antunes, Slam das Minas, Bia Ferreira, Soledad, Ilú Obá de Min, André Frateschi, Márcia Castro, Isaar, Junio Barreto, MC Poneis, Tulipa Ruiz, Chico Chico, Duda Brack, Mistura Popular, Triz, Anelis Assumpção e Drik Barbosa.

O evento foi organizado pelo Comitê Lula Livre e as duas frentes de articulação do movimento social - Brasil Popular e Povo Sem Medo. Para Paulo Okamotto, Presidente do Instituto Lula, a pauta é democrática:

“O que está acontecendo no Brasil é um ataque a um programa de inclusão social e de combate à desigualdade, é o desmonte de uma política que beneficiava os menos favorecidos. A campanha Lula Livre se junta nas ruas à luta pela educação, pela saúde e pela previdência”, conta.

Entre os shows, mensagens de apoio ao ex-presidente. Arthur, neto de Lula, que faleceu em março deste ano com apenas 7 anos de idade, foi lembrado em vários momentos. A emoção tomou conta da Praça da República quando Thiago, outro neto do ex-presidente, subiu ao palco para ler a carta enviada pelo avô com palavras de gratidão, resistência e exaltação à democracia:

“Nossos adversários querem mais armas e menos livros, menos música, menos dança, menos teatro e menos cinema. E nós insistimos em ler, escrever, cantar e dançar, insistimos em ir ao teatro e fazer cinema. Nada mais perigoso para nossos adversários que um povo que canta e é feliz. Que faz da arte e da cultura instrumentos de resistência. Vamos então à luta, sem medo de sermos felizes, com a certeza que o amor sempre vence”.

 E foi assim que o Festival Lula Livre terminou. Artistas de vários estilos juntos no palco, unidos por uma causa, cantando e dançando pela liberdade de Lula. “Uma frente grande se posicionou aqui hoje e, se isso tiver feito alguém repensar sua opinião e abrir os olhos para a injustiça que é essa prisão, então a missão foi cumprida”, conclui Ganjaman.

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