As lições de Johan Cruijff
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As lições de Johan Cruijff

5 de maio de 2019
As lições de Johan Cruijff

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Eu que acompanho o futebol do Brasil praticamente desde que me entendo de gente, me espanta ver alguns jogos, mesmo da Série A do Brasileiro. Saudosista, me chamam. E vêm cantar loas exageradas sobre um gol de Messi, cobrando falta. Aí, lembro dos mais de duzentos que vi com Zico, Dicá, Pedro Rocha e tantos outros,  mostrados para meu encanto pelas lentes do canal 100. E sorrio zombeteiro recordando um cara em especial. O Nelinho, lateral-direito do Cruzeiro e da seleção na Copa de 1978. Já pensaram Nelinho numa Champions? Aquele menino gritador da TNT, ex-EI, certamente perderia a voz em dois tempos. Mas deixa pra lá, meu assunto hoje é Johan Cruijff.

Acreditem, o América, neste sábado, disputando a Série D, quarta divisão, me fez lembrar o astro holandês. À essa altura já deve ter gente me chamando de doido. Sabem porquê me lembrei dele? Uma de suas frases famosas dizia que "só existe uma bola em campo, óbvio, e o meu time (dele) deve ficar com ela". Foi o que o América de Moacir Júnior aplicou durante toda a partida na sua estreia contra o Serrano, fora de casa, no Amigão, em Campina Grande. Venceu de 6 a 0 e poderia ter feito dez ou mais.

Acho, tenho quase certeza, que os treinadores do futebol brasileiro de hoje, os seguidores de Carlo Alberto Parreira, nunca se debruçaram ou procuraram entender uma sequer das tantas frases de Cruijff. Eles fazem justamente o contrário, e um exemplo disso, infelizmente, para mim, foi dado pelo treinador Ranielle Barbosa do ABC (não sou dos que acham que Ranielli deve deixar o ABC, não!) na partida contra o fraco Altos/PI. "Quando o adversário está com a bola é preciso deixar o campo menor possível". O alvinegro potiguar fez o contrário. A equipe comandada por Estevam Soares sempre tinha um "latifúndio" quando estava de posse da pelota. E quando se dava o inverso, incrível, o complicado Lindolfo Monteiro ficava do tamanho de uma quadra para a turma potiguar.

Dias desses, uma matéria super especial, com dados científicos, a comprovação que os jogadores forjados nas ruas, campos de várzea, areais, gramados irregulares eram muito mais preparados, habilidosos, saíam melhor de situações difíceis que a meninada das escolinhas chiques. Isso, o Cruijff também já dizia há muito tempo e não só ele, o nosso Cilinho, Otacílio Pires Gonçalves, o maior pensador do futebol brasileiro, formador de talentos, mas pouco reconhecido, do Brasil. Esses cursos "parreiristas" de futebol da CBF, caros e chatos, "se preocupam muito mais com teoria do que como desenvolver a técnica dos jogadores", isso o holandês também afirmava, aliás, máxima que sigo mesmo, acreditem, antes de saber da opinião dele.

Eu não entendo, juro, esse linguagem do "uma bola", esse exagero de preocupação com marcação, marcação e marcação. 'Futebol não é sofrimento, é diversão. Tenha a bola, trate-a bem, tente sempre atacar e marcar gols', mas isso é tão claro e óbvio, então por quê o País do futebol agora faz o oposto? Alguém me explique. Cruijff de novo: "o personagem mais importante do futebol é o torcedor (aqui no Brasil o dirigente acha que é ele). Ele vai ao campo para se divertir no seu tempo livre, e o jogador tem que lhe dar essa alegria".

Talvez aí resida o principal motivo para que o futebol brasileiro esteja hoje, como repete Juca Kfouri, na segunda divisão do futebol mundial. Se aparecer um Luís 'Chevrolet' Pereira hoje os treineiros o mandariam embora na primeira "atravessada" de campo que ele desse com a bola dominada. Lembrando que esse palmeirense, para os menos avisados, é considerado o segundo maior zagueiro da história do futebol brasileiro, ficando atrás, somente, de Domingos da Guia, pai de Ademir da Guia, um dos maiores ídolos do Palmeiras, com participação decisiva nas conquistas da equipe na época da chamada "Academia".

Além da participação histórica no Palmeiras, também é ídolo do Santo André e do Atlético de Madri, da Espanha, onde foi jogar, numa época em que apenas grandes jogadores, e atacantes, diga-se, eram contratados pela Europa. Luís Pereira terminou sua carreira somente em 1997, com 47 anos, idade considerada muito avançada para o futebol (wikipedia).

Gente, descobri agora que "Cererê", como eu e meu irmão Doca o chamáva-no era baiano de Juazeiro...que coisa! Parou de jogar com 47 anos, vejam. Por quê? Alegria, felicidade de fazer o que sabia e amava.

Lembrei de "Chevrolet", creiam, tempos atrás, ao ver Tonhão, menino das bases do ABC jogar. Ele hoje está no Grêmio, por aqui disseram que ele não servia para ser titular do time. Essas coisas me fariam rir se não fizessem lamentar, quase chorar.

Desculpem, é Cruijff o assunto, mas Luís Edmundo Pereira tem tudo a ver. O que não tem nada a ver é o futebol apresentado no Brasil de hoje. Ora minha gente, se Cruijff e Guardiola, dois dois mais inteligentes treinadores do mundo falam (no caso do holandês, falava) das maravilhas, das coisas que deveriam e devem ser copiadas de nosso futebol, por quê fazemos hoje o caminho inverso? Por quê seguimos Parreira? "Qualidade sem resultado é inútil, resultado sem qualidade é entediante", outra frase marcante. Eu acrescentaria que o "resultado sem qualidade" de Parreira na Copa de 1994 causou o maior prejuízo ao futebol brasileiro, prejuízo que ainda se estende aos dias de hoje.

Hoje, infelizmente, programas de computador definem se um atleta serve ou não para um time. Que absurdo, não, mestre Johan Cruijff?  E diria que nesse pensamento final o Renato Gaúcho, no alto de sua arrogância, acaba tendo razão. Como um ex-craque precisa estudar futebol quando para com pessoas que sabem bem menos que ele?

Para encerrar, nos dias de hoje, Pedrinho Teixeira, Cilinho, José Djalma (Tenente), Arlindo Lucas, Ênio Andrade, Elba de Pádua Lima, Brandão, Flávio Costa, Zezé Moreira, Coqueiro, muitos deles, sem cursos, sem falar bonito, sem amigos na imprensa, nunca seriam treinadores de futebol. Até Cruijff, nos dias de hoje, seria mandando embora do time aos 15 anos, porque naquela idade chutava muito fraco e era muito franzino...

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