Duas perguntas não calam nas rodas de Natal e Mossoró. A primeira, e mais óbvia, é quando vão devolver o mandato do deputado federal eleito Fernando Mineiro. E a segunda, e não menos importante: quando a Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte vai parar de sangrar e encerrar um dos capítulos mais constrangedores da história da instituição ?
Há um mandato federal sequestrado no Estado potiguar e, por incrível que pareça, a Justiça é co-réu nesse processo.
O Tribunal Superior Eleitoral e o Tribunal Regional Eleitoral estão sendo desmoralizados há dois anos por manterem na Câmara dos Deputados um candidato que não obteve votos suficientes para ocupar o cargo. Beto Rosado foi o 9º concorrente mais votado e só ganhou o mandato porque a Justiça decidiu reconhecer os votos de outro candidato que não podia concorrer ao posto, segundo as regras estabelecidas pela própria Justiça.
Kericlis Alves Ribeiro, o Kerinho, é a figura menos importante nesse processo. A briga de cachorro grande é com um poder familiar político constituído que não aceitou uma derrota eleitoral e avançou sobre a democracia.
Isso mesmo: é sobre democracia e o sistema eleitoral de que trata o maior escândalo em curso na política do Rio Grande do Norte. Manter Beto Rosado na Câmara dos Deputados é, além de ilegal e imoral, antidemocrático. Simplesmente porque a maioria dos eleitores escolheu outro candidato e delegou ao sobrinho da prefeita de Mossoró a honrosa primeira suplência.
A título de exemplo, e para demonstrar a gravidade do que está acontecendo, imagine que todas as principais votações no Congresso Nacional de 1º de fevereiro de 2019 até hoje, teriam outro resultado não fosse a ilegalidade referendada pela Justiça Eleitoral potiguar no chamado caso Kerinho. Talvez a mudança não alterasse a ordem dos vencidos e vencedores, mas a história seria contada com outros números e a depender do placar da votação haveriam outras consequências. É a prova de que a representação popular foi atacada e ferida com aval da própria Justiça.
Enquanto o TRE empurrar o caso com a barriga o tempo vai passando e a desmoralização da Corte eleitoral só aumenta. As eleições municipais ficaram marcadas pelo altíssimo índice de abstenção, o que venhamos e convenhamos não dá para debitar apenas na conta da pandemia.
A classe política ajuda, mas a Justiça também se esforça e dá motivos para manter os eleitores longe das urnas.
O Tribunal Regional Eleitoral do RN não dorme por causa de um silêncio que pergunta todas as noites pelos corredores da instituição:
- Quando vão devolver o mandato de Mineiro ?