A intervenção "Banho de Descarrêgo" chamou a atenção da população de Natal essa semana nas adjacências do campus central da UFRN. A perfomance foi realizada por atores e estudantes, dentro da programação Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas, que ocorreu m Natal (RN).
A iniciativa faz parte de um projeto de pesquisa em Arquiteturas do Corpo e Coralidades Urbanas Artivistas do Laboratório de Práticas Performativas da USP coordenado pelos professores Marcelo Denny e Marcos Bulhões.
Com os corpos pintados de branco, os participantes tinham suásticas no corpo. A ideia era chamar a atenção para a necessidade de limpeza da intolerância e violência ideológica.
O fotógrafo Vlademir Alexandre registrou a intervenção e escreveu sobre o significado da perfomance para ele.
Banho de Descarrego
A chamada é para o que se põe no mundo democraticamente e não deixa o espírito cego fanático absorver sua alma cidadã, além de apelo: antes que o sangue lave as ruas, que a miséria, a fome, o medo e a violência tomem seus assentos em nossas vidas, possamos lavar a ameaça fascista que se alastra.
É urgente saber que os efeitos da política não cessam com um mandato, eles se mantêm com seus reflexos por anos a fio.
Este é um canto escuro na história da nação, a esse ponto vemos o sentimento irmão se diluindo no enxofre plantado em nossos jardins, os amigos de antes se agridem e ao menor sinal de se resistir, exigem nosso silêncio, nossa submissão sob o argumento do respeito, no desrespeito ao amor e amizade que sempre nos fez regidos pelo diálogo.
Nós temos duas opções que serão marcadas pela história como tragédia ou anunciarão dias de manutenção da luta pela sobrevivência e conquista diária em tempos democráticos na normalidade.
A política assumiu um lugar aparentemente novo, mas arrasta a memória de milhares de cadáveres vítimas do que é extremo e perigoso aos dias atuais e aos que virão. Os eleitores perdem a referência humana de cidadãos que concorrem em suas opiniões e quando não é mais possível para muitos os perceber-se em meio a tanto ódio, truculência, intolerância, dois movimentos assumem a política distorcida que se agrupa em hordas, torcidas organizadas ou exércitos de fanatismo no lugar que deveria ainda por resistência, ser a política da virtude e da soberania popular.
Se de um lado, se ancora na tentativa de reerguer a política pelos caminhos democráticos; do outro se estabelece em estratégias de guerra fria, tempos de criações sistemáticas de notícias manipuladas ou mentiras difundidas e absorvidas por estes sentimentos que elegem no vizinho, o amigo e o familiar como inimigos e a esses se atribui o desejo da violência moral ou até física.
As fake news responsáveis por uma convulsão de massa, arrebanham um contingente de cidadãos enfurecidos e desorientados que se unem a disseminação que nasce vil e a partir dos QG’s de manipuladores de opinião enriquecidos pelo crime organizado virtual.
As ruas estão se transformando em campos de batalhas para que se estabeleça. Tentam revogar a lei do desarmamento e atribuem a coragem ao símbolo de uma arma de fogo, a suástica brasileira. O mestre Moa na Bahia brutalmente assassinato, e os diários casos de agressões físicas e morais movidas por indivíduos fanáticos se espalham como chamas em campo seco pelo Brasil a fora urge para que nós não estejamos mais a se calar. Isso é apenas uma amostra do que pode se instaurar legitimado pelas urnas.
Para tanto, há uma fonte de incentivo à não aceitação da diversidade religiosa, da regionalidade, da etnia, de gênero e da posição partidária. Os resultados desse movimento já fogem ao controle de seu líder, o que as prolifera como um capitão do holocausto. Para onde caminhamos, já foge do espaço restrito ao campo da política, o destino pode ser de convulsão social onde o crime organizado será mero coadjuvante do crime comum e popular, cometido por familiares, vizinhos, no trânsito e nas escolas, afinal, as armas estarão nas casas e disponíveis no mercado a serviço do ódio. A catástrofe das relações parece ser o lugar que se cabe devido ao vazio do diálogo.
Precisamos refletir sobre o lugar proativo que se deve assumir diante do risco eminente ao qual a Nação está posta. Onde fica nosso lugar nessa nação descompensada?
O tempo de mudar os destinos se dará até o dia 28. Após isso nos restará viver ou não, algo fora da política sob a sombra de um viés separatista que aponta para os piores e mais indefinidos destinos possíveis.
O papel simbólico apresentado na intervenção “Banho de descarrego” aponta a necessidade de ampararmos nossos compatriotas de todas as raças, que chamemos todos(as) a lavar da história de nosso povo o fascismo, retirar essa mancha que enche de ódio e intolerância parte de nosso povo que foi arrebanhado de forma covarde e influenciados a assumir por equívoco de posicionamentos que apontam o trágico destino de uma guerra civil protagonizada por extremismo e falta de compaixão, companheirismo, do desejo compatriota e alegre tão marcante da formação brasileira.
Mas estamos soldados da paz, como diria Bertolt Brecht, e na escuridão caminhamos de mãos dadas. Não estamos sós na resistência ao que se opõe a um Brasil de soberania popular.
A ação Banho de descarrego é apartidária e integra os projetos de pesquisa em Arquiteturas do Corpo e Coralidades Urbanas Artivistas do Laboratório de Práticas Performativas da USP e conta com a concepção artística e coordenação de Marcelo Denny e Marcos Bulhões, além da participação de pesquisadores, artistas e demais cidadãos convidados em diferentes cidades.