Bolsonaro, a infâmia e o impeachment
Natal, RN 28 de mar 2024

Bolsonaro, a infâmia e o impeachment

18 de fevereiro de 2020
Bolsonaro, a infâmia e o impeachment

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Começa a ganhar força, dentro e fora do Congresso Nacional, o discurso de impeachment contra o atual presidente Jair Bolsonaro. A agressão à repórter do jornal Folha de S.Paulo Patrícia Campos de Mello é uma das páginas mais infelizes da história da República brasileira.

Alguns juristas, como Miguel Reale Jr., o mesmo que assinou o pedido de impeachment contra ex-presidenta Dilma Rousseff, defendem que a agressão de Bolsonaro à dignidade de uma mulher cidadã brasileira é passível de impedimento.

A editora- chefe do jornal El País no Brasil, Carla Jiménez, escreveu após o insulto que “nunca um presidente foi tão vulgar com uma mulher”. Até os ditadores brasileiros que diziam preferir o cheiro dos cavalos ao do povo, como o ex-general João Batista Figueiredo, não desceram tão fundo.

Bolsonaro fez uma insinuação sexual contra a jornalista durante as já famosas entrevistas coletivas em frente ao Palácio da Alvorara que contam sempre com a presença de uma claque bolsonarista:

- Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]", disse, rindo.

Patrícia Campos de Mello é repórter do jornal Folha de S.Paulo e foi responsável pela série de reportagens que revelou um esquema de empresas que contrataram serviços de disparos de whatsaap em massa para prejudicar a campanha do petista Fernando Haddad, principal concorrente de Bolsonaro.

Entidades de jornalistas e de outras categorias divulgaram nota de repúdio às declarações do presidente brasileiro e em solidariedade Patrícia Campos de Mello.

Confira a nota da Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj):

Em defesa das mulheres jornalistas e contra o machismo

Num cenário em que o jornalismo profissional tem assumido um ingrato protagonismo nas disputas políticas que ocorrem no Brasil, mais uma vez, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, protagoniza grave episódio de machismo, sexismo e misoginia. Nesta terça-feira (18/02), o mandatário decidiu atacar a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, em pronunciamento com falas de conotação sexual, gravadas em vídeos transmitidos ao vivo.

A jornalista vem sendo alvo de pesados ataques virtuais dos seguidores do presidente e do próprio clã bolsonarista por seu trabalho de jornalismo investigativo, que denunciou o pagamento, por um grupo de empresários apoiadores de Bolsonaro, para envio em massa de mensagens falsas por meio de aplicativo, na campanha presidencial de 2018.

Na semana passada, a premiada repórter foi novamente atacada nas redes sociais, após mentiras declaradas por um depoente na CPMI das Fake News. Na ocasião, Hans River Nascimento, ex-empregado de uma agência de disparo de mensagens digitais mentiu em depoimento, com declarações de cunho sexista, injuriando a repórter e pondo em xeque seu rigoroso trabalho jornalístico.

O filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, repercutiu as declarações mentirosas sobre a produção da matéria jornalística em sua conta no Twitter e no plenário da Câmara, inflamando os seguidores a alimentarem a rede de ódio contra Patrícia na internet.

A partir deste episódio, as mulheres jornalistas desse país também foram vítimas de viralização de vídeo, imagens e “memes” que relacionam a apuração de matérias jornalísticas e a produção de notícias a troca por sexo. Assim, a pouco mais de duas semanas do 8 de Março, data emblemática da luta feminista, toda uma categoria profissional é atingida pela violência de gênero.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mais uma vez, manifesta repúdio ao teor do pronunciamento do presidente e, junto com sua Comissão Nacional de Mulheres, coloca-se como incansável na tarefa de denunciar, tão sistemático quanto forem, os absurdos declarados por Jair Bolsonaro.

Dedicamos nossa solidariedade e atuação sindical, seja no campo político ou no jurídico (em fase de encaminhamento), às mulheres desse país, às mulheres jornalistas, às mulheres trabalhadores, na pessoa de Patrícia Campos Mello, na certeza de que não passarão os insultos e ofensas de cunho machista, sexista e misógino. Que nosso grito de repúdio sirva para frear tais comportamentos, vindos de quem quer que seja, sobretudo do mandatário da Nação, que deveria defender toda a população e, sobretudo, as maiorias silenciadas de direitos.

Brasília, 18 de fevereiro de 2020

Comissão Nacional de Mulheres da FENAJ
Federação Nacional dos Jornalistas

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