Clara Pinheiro revisita ancestralidade negra no EP Volte e Pegue
Natal, RN 24 de abr 2024

Clara Pinheiro revisita ancestralidade negra no EP Volte e Pegue

24 de outubro de 2020
Clara Pinheiro revisita ancestralidade negra no EP Volte e Pegue

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

A artista Clara Pinheiro só se reconheceu negra aos 33 anos de idade. O resultado desse processo de aceitação, de volta à ancestralidade, está refletido no EP “Volte e Pegue”, lançado em setembro pelo selo Rizomarte Records com a produção da Dale! Produções Culturais.

O título do trabalho é a tradução literal do símbolo sankofa, utilizado pelo sistema de escrita do povo Akaan na África Central. A sankofa está associada diretamente ao provérbio que diz que “não é problema parar a sua vida e recuperar o que você perdeu”.

Para Clara, a frase diz respeito às origens. É sobre conhecer as raízes e se fortalecer. Há quatro anos, ela estava rememorando a sua própria vida enquanto gerava outra, a que também deu nome de “Vida”. “Foi isso que aconteceu comigo. Eu engravidei em 2015 e comecei a revisitar memórias boas e ruins da minha infância e da minha adolescência e comecei a perceber que coisas que eu não entedia na época eram violências. Era racismo que eu tinha sofrido”, conta, revelando que só então se reconheceu negra.

A capa do novo trabalho expressa o conceito da sankofa apresentando a força da união das mulheres. “Veio a ideia de trazer a minha família. Na foto, a figura principal é minha ancestral, a matriarca, representada por dona Maria Emília. E trouxe duas pessoas importantíssimas na minha formação que são a minha mãe, Sânzia, e a minha tia, Nara (Sayonara)”.

Completando a imersão no universo da mulher negra, moradora da Vila de Ponta Negra há 26 anos, agora mãe, Clara começou a vender acarajé no mesmo período. Ela conta que no chá de bebê de Vida, ajudou a avó paterna da filha a fazer a comida e se apaixonou. Depois disso, abriu a casa realizando o “Acarajé na calçada”, com participação de bandas e DJs. Um tempo depois passou para um trailer, o “Acarajé da cantora”, junto com a tia Bel. O negócio foi interrompido e o trailer vendido durante a pandemia, mas Clara pensa em retomá-lo.

“Nossa, como eu gosto de bater uma massa de acarajé, de preparar um vatapá, um caruru. Eu me sinto muito feliz em estar ofertando esse alimento de cura para as pessoas”, diz.



Volte e Pegue

O EP apresenta seis canções que unem brasilidade e programações eletrônicas, transitando por diferentes estilos sem perder a unidade. É possível ouvir em diversas plataformas.

A direção musical é partilhada entre Clara e Zé Caxangá, e conta com a colaboração do produtor Pedras - responsável pela mixagem e por parte da produção eletrônica. O EP tem participações de: Gabriel Souto com os beats de “Negra”, Aiyra nas percussões de “Negra” e “Mesmo”; Renata Marques na composição de “Paz”; Poeta kaju na composição de “Já foi carga”; Iyalê na composição e
nos vocais de “Novas Formas” junto com Pretta Soul.

O álbum foi produzido através de uma campanha de financiamento coletivo na plataforma “Vakinha” com o intuito de custear o trabalho de parceiros e trabalhadores da cultura envolvidos em todas as etapas que envolvem a concepção de um álbum. Paralelo ao financiamento coletivo, o lançamento do disco também foi aprovado no Edital de Economia Criativa 2020 do Sebrae/RN.

Em 12 anos de carreira musical, Clara Pinheiro recebeu prêmios, gravou álbuns, participou de festivais, fez turnês no Nordeste e uma turnê/residência na Europa. Desde muito cedo se identifica com o palco, por isso estudou teatro durante dez anos. Aceitando um convite da banda de vanguarda Pangaio, sobe ao palco acompanhada com uma banda pela primeira vez, passando pela Orquestra Boca Seca banda que ainda integra. Clara toma a frente da banda A Noite em 2010, mesmo ano que ganha o prêmio de júri popular de uma festival local, com turnê pelo Nordeste e toca nos mais importantes festivais do estado, Clara já lançou 4 Eps e uma CD e fez uma turnê por três países (frança, Portugal, Bélgica) da Europa no ano 2014. Em 2016 inicia uma pesquisa sobre a obra de Gal Costa e Maria Bethânia, junto com a cantora Simona Talma que resulta no espetáculo Pássaros Proibidos.

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.