Conforme-se. A Democracia foi hackeada
Natal, RN 24 de abr 2024

Conforme-se. A Democracia foi hackeada

22 de outubro de 2018
Conforme-se. A Democracia foi hackeada

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Ia ser na sexta. Deixaram para o domingo. E nada aconteceu. Parece que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lavou as mãos para a ameaça que representa a onda de desinformação que ocupou as conversas do WhatsApp e desequilibra o processo eleitoral do Brasil.

Para a presidenta Rosa Weber, não importa a suspeita de produção e distribuição em massa de notícias falsas contra o candidato Fernando Haddad (PT) - principal notícia da semana -, o que importa mesmo é dizer que bastam informações verdadeiras para combater as notícias falsas. E que as urnas são seguras e que não poderão ser fraudadas.

Por um lado, parece que Rosa Weber nunca discordou de um eleitor de Bolsonaro. Por mais verdades que se diga, ele sempre terá uma informação falsa para se contrapor aos seus argumentos. Nem adianta tentar mudar de assunto. Eles já foram (des)informados sobre todos os temas, sobre a economia, a saúde, a educação, as contas públicas e a previdência. No fundo, eles parecem bem mais preparados que o próprio Bolsonaro nas entrevistas e debate que participou.

Por outro lado, Rosa Weber está certa. As urnas são realmente seguras e é difícil fraudá-las. Nem por isso, a eleição não pode ser uma fraude.

Nos idos de janeiro, antes da prisão do ex-presidente Lula, os petistas gritavam que eleição sem Lula seria uma fraude. E o principal concorrente do pleito foi preso logo em seguida junto dom seus 40 por cento dos votos. A estratégia seria, então, transferir os votos para outro candidato, Fernando Haddad. Parecia difícil, mas o rápido crescimento das intenções de voto demonstravam que ia dar certo. Eis que, de uma pesquisa pra outra, Haddad estagnou e, uma semana depois do primeiro turno, viu sua rejeição atingir valores catastróficos, contrariando todas as tendências e séries históricas.

Assim como nas eleições nos Estados Unidos, Índia ou Zimbábue, não será preciso fraudar as urnas para hackear o processo democrático. Basta provocar desinformação generalizada, associando refinadas técnicas de análises psicológicas e mineração de dados nas redes sociais para alterar os resultados nas urnas.

E foi assim que vimos a ascensão de Bolsonaro logo depois dos protestos contra ele em todo o país (e que contaram, além disso, com o silêncio da mídia conservadora do país).

A Folha de São Paulo detalhou o esquema. Empresários - como Luciano Hang, dono das lojas Havan, dentre outros empresários, contratavam agências para enviar mensagens em massa pelo WhatsApp. As empresas usavam robôs para escavar o Facebook em busca de números de telefones, que eram automaticamente incluídos em grupos de WhatsApp, quando passariam a receber materiais de campanha a favor de Bolsonaro e contra Fernando Haddad.

Mas para Rosa Weber, nada disso vai abalar nossas eleições: nem mesmo o caixa dois, ou o abuso de poder econômico, ou ainda o financiamento empresarial - que eram as formas clássicas de tentar fraudar eleições, mesmo que tenham sido pouco eficazes nas últimas eleições presidenciais.

Na tarde em que esperávamos o anúncio de medidas contra a onda de notícias falsas a uma semana do segundo turno, o TSE limitou-se dizer que não há solução pronta e eficaz para as fake news e que, por isso, é melhor nem fazer nada.

No domingo, se confirmada a tendência das pesquisas, dormiremos numa democracia hackeada, onde a mentira e o medo terão prevalecido sobre a verdade e a liberdade. E Rosa Weber dormirá com a consciência tranquila de que as urnas não foram fraudadas.

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.