Conheça Irmã Lila, única indígena candidata a uma prefeitura no Rio Grande do Norte
Natal, RN 26 de abr 2024

Conheça Irmã Lila, única indígena candidata a uma prefeitura no Rio Grande do Norte

8 de novembro de 2020
Conheça Irmã Lila, única indígena candidata a uma prefeitura no Rio Grande do Norte

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Em Canguaretama, município distante 78 km de Natal, desponta a única candidatura majoritária indígena de todo o Estado. Wilinhene Cristina da Silva, ou simplesmente Irmã Lila, encabeça chapa do PSDB na disputa pela prefeitura na cidade do Litoral Sul. Atualmente exercendo cargo de vereadora e presidindo a Câmara Municipal, a candidata afirma buscar um cuidado com as pessoas e, principalmente, com a população indígena que não tem visto na atual gestão. 

“Se, há mais de três décadas Canguaretama vem sendo revezada por duas famílias no poder que não fazem nada, e que não olham para os quatro cantos da nossa cidade, então a índia vai fazer a diferença”, afirma a candidata de 36 anos.

Lila reside e tem origem na comunidade indígena Eleotérios do Catu, da etnia Potiguara, situada em dois municípios, Canguaretama e Goianinha. Segundo o Cacique Luiz Catu, a aldeia tem origem no século XVIII. O lugar teria abrigado famílias indígenas potiguaras e tapuias expulsos de suas terras e que resistiam à catequização compulsória. 

Segundo informações do repositório Povos Indígenas do RN, mantido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o lugar abriga hoje 142 famílias. São 726 pessoas autodeclaradas indígenas vivendo, prioritariamente, do cultivo do milho, feijão, macaxeira e batata doce. A comunidade busca até hoje, na Justiça, o reconhecimento e demarcação do território que tem sido constantemente afetado por conflitos socioambientais ocasionados por empreendimentos como as usinas e a monocultura.

Irmã Lila e Cacique Luiz Catu - Foto de Divulgação

Apenas 6 candidatos a prefeituras no Brasil se declararam indígena em 2020

A candidata do PSDB é uma das seis de todo o país a se autodeclarar indígena e concorrer ao cargo máximo de um município, como destacou nacionalmente a revista AzMina. Em 2016, quando foi eleita vereadora, Lila foi uma das 28 mulheres indígenas a ter assumido o cargo no legislativo municipal dentre cidades de todo o país. Também foi a primeira de Canguaretama a atingir o feito. 

Nas eleições de 2020, estão registradas 2.202 candidaturas indígenas no Brasil, um crescimento de aproximadamente 28% em comparação com o último pleito municipal, quando houve 1.715 candidatos que se declararam indígenas. Segundo levantamento do  Elas no Congresso, mais mulheres concorrem este ano para prefeituras e câmaras de vereadores, um incremento de 49% em relação a 2016. No entanto, elas seguem representando apenas 32% do total de candidatos indígenas.

A trajetória de atuação política de Lila começa pelo apoio a outras candidaturas. Ela indica que sempre participou ativamente de campanhas como cabo eleitoral e percebeu que poderia fazer mais se tivesse um mandato próprio. “Foi uma coisa que me despertou em meio às necessidades das nossas famílias”, conta.

Assim, se candidatou a vereadora em 2016, obtendo 539  e figurando como a 5ª mais votada.

Em 2020, após participar de diversas reuniões e grupos de mulheres do PSDB, decidiu se filiar ao partido que escolheu o nome dela para encabeçar chapa, mesmo com pesquisa interna indicando menos de 2% de intenção de voto para a indígena no município.

Plano de governo inclui ações voltadas para comunidades indígenas

No plano de governo, Irmã Lila favorece a pauta indígena em diversos setores, mas principalmente na educação, onde pretende maior incentivo à educação indígena. A comunidade já dispõe da primeira escola com especificidade étnica do Rio Grande do Norte, onde Lila estudou, a Escola Municipal de João Lino, que existe desde 1976 mas, em 2008, foi readequada à característica de formação da comunidade.

Na saúde, pretende criar uma unidade básica de atenção na comunidade do Catú do Eleotérios. Também prevê a criação do Plano Indígena de Incentivo aos catadores de frutas silvestres e quer incluir a comunidade na programação turística ecológica a ser criada no município. Outro ponto de destaque é o fortalecimento da agricultura familiar e da comercialização dos produtos cultivados pelas comunidades.

Candidata Irmã Lila, de Canguaretama, começou a trabalhar vendendo coentro na feira (Foto: divulgada nas redes sociais)

Mesmo frequentando a igreja evangélica Assembleia de Deus há 11 anos, ela destaca que pretende fortalecer o reconhecimento da cultura do seu povo de origem também por meio de políticas públicas. Lila reafirma que sua trajetória de vida é marcada pela vivência na comunidade e pelo trabalho como agricultora com os pais, desde a infância. Conta ter sido vendedora de coentro na feira para ajudar a família. Depois disso, tentou se formar em enfermagem, mas problemas pessoais a impediram de concluir o curso. Mesmo assim, foi aprovada em concurso público da Prefeitura de Canguaretama, onde atuou até a chegada na Câmara Municipal.

“Se eu não gosto de me pintar, não é isso que faz mais ou menos índia”, diz.

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