Conselho de Medicina ameaça cobrar na Justiça permanência do hospital Ruy Pereira
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) está ameaçando entrar na Justiça para que o Governo do Estado mantenha funcionando os atendimentos de casos graves de diabetes e de problemas vasculares no Hospital Ruy Pereira. A justificativa para a abertura da ação civil é de que houve um aumento expressivo na demanda de serviços especializados em doenças vasculares. O Ruy Pereira é o único no Estado a ofertar esse tipo de atendimento, sendo responsável, ainda, por atender pacientes acometidos por isquemia crítica e amputações clínicas.
Nessa semana, o Conselho Estadual de Saúde votou pela interdição da unidade, que corre o risco de ser fechado em razão dos problemas estruturais. O Governo explica que, como o prédio é alugado, só quem pode realizar a manutenção é o dono do imóvel.
Em 2018, o Hospital Ruy Pereira realizou 1.363 cirurgias e 242 amputações de membros inferiores (da altura da coxa ou perna). A média foi de 4,6 amputações por semana. No entanto, somente entre janeiro a setembro de deste ano, o número de cirurgias saltou para 1.737 e o de amputações foi de 411. A média semanal de amputados clínicos pulou para 8,5 por semana.
“Este é um número absurdo. Isso reflete uma falência no atendimento básico de saúde. Nós temos que cessar as amputações. Muitos pacientes não têm acesso às medicações e não há tratamento adequado para os casos de diabetes”, denuncia o presidente do Cremern, Marcos Lima de Freitas.
De acordo com ele, a discussão não é apenas relacionada com o possível fechamento do Ruy Pereira, mas em como o poder público vai atuar para garantir um serviço digno para os pacientes vasculares no Rio Grande do Norte.
“A discussão do Hospital Ruy Pereira traz outras discussões, e o Estado precisa cuida melhor dos pacientes. Temos, sim, que promover maior acesso para a área de diagnóstico e terapêutica médica, para que possamos reduzir o número de amputações”, aponta.
Segundo o Cremern, a unidade deveria ampliar as ações de diagnóstico e de serviços terapêuticos. A entidade sugere o aumento de 30 leitos de internação e a ofertar de 12 leitos de Unidade de Terapia Intensiva.
A entidade representativa da classe médica potiguar terá uma reunião plenárias na próxima segunda-feira, 14, para definir posicionamento sobre a ação civil pública. Em junho deste ano, o Cremern decidiu por medida semelhante ao buscar judicialmente melhorias para o Hospital Regional de São Paulo do Potengi, que atende pacientes em 13 municípios potiguares. Em setembro, a 4ª Vara da Justiça Federal definiu que o Estado deveria tomar medidas urgentes para garantia os serviços de saúde.
“O atual sistema de atendimento não é o ideal. Queremos ações efetivas para a redução dos casos de amputação. Vamos esperar a sinalização do Governo do Estamos, mas se não encontrarmos mudanças podemos ingressar com uma ação civil pública estruturante para atender os pacientes com pé diabético”, detalha.
A polêmica sobre o Hospital Ruy Pereira foi iniciada em junho passado, após o titular da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), Crispiniano Maia, anunciar o fechamento da unidade de atendimento. Após críticas de entidades médicas e a abertura de um inquérito pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), o encerramento das atividades foi cancelado.
Cirurgias seguem suspensas
O impasse entre Governo e a Cooperativa dos Médicos do RN (Coopmed) sobre uma dívida de aproximadamente R$ 20 milhões ainda não foi resolvido. De acordo com a assessora da cooperativa Fabrine Medeiros, em reunião realizada na quinta-feira (9), o Governo se comprometeu a pagar uma das quatro parcelas em atraso até o dia 15 e renegocia o restante da dívida. Uma reunião entre os cooperados deve acontecer até a próxima terça-feira (15). Até lá, as 700 cirurgias de média e alta complexidade realizadas pelos médicos a Coopmed seguem suspensas.