Copa América do Brasil: canalhice e oportunismo podem ganhar de goleada
Natal, RN 25 de abr 2024

Copa América do Brasil: canalhice e oportunismo podem ganhar de goleada

1 de junho de 2021
Copa América do Brasil: canalhice e oportunismo podem ganhar de goleada

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Eis então que após a impossibilidade da Colômbia (sede original, mas o país vem enfrentando protestos de rua) e Argentina (com casos de Covid em alta) sediarem a Copa América de Futebol, a Conmebol anunciou que o torneio será disputado no... Brasil. Com incentivo e concordância do desgoverno Bolsonaro, claro.

Nada mais justo e adequado, afinal o Brasil controlou a Covid após testagem em massa e medidas restritivas e vacinou boa parte de sua população, permitindo que o país se abrisse para mega eventos esportivos.

Peço perdão pela ironia. Claro que nada disso aconteceu, pelo contrário, o país continua vivendo um caos no sistema de saúde, com média de 2 mil óbitos por mês, UTIs cheias e terceira onda chamando com o temos ainda da variante indiana. Mas, para a Conmebol e o desgoverno federal nada disso importa.

O que importa para ambos é o futebol como gerador de dinheiro (para a confederação) e para uso político (para o bolsonarismo). Para ambos não interessa se os estádios estarão vazios ou com gente não testada e com possibilidades imensas de se infectar e aos outros. Ou que a vinda de pessoas de países diferentes traga novas cepas. Ou ainda que a movimentação causada gere mais superlotação de UTIs.

Certamente estão olhando para a Europa, onde os campeonatos nacionais terminaram com estádios com lotação reduzida e em poucos dias teremos o início da Eurocopa. Mas, a diferença é que lá houve lockdown e testagem em massa em boa parte dos países. Em alguns, a pandemia foi controlada. Em muitos  a vacinação está adiantada. Daí ser possível pensar e planejar algo como uma volta gradual à normalidade, digamos.

Não no Brasil onde tudo foi negado e sabotado pelo desgoverno. No que resultou no cenário de hoje.
E o curioso é que a reação à realização da Copa América (ou Cova América como se divulgou nas redes) foi tão grande inclusive de políticos do Centrão e de aliados do Governo, que até o fechamento deste texto tanto Conmebol quando Planalto já diziam que não era bem assim, que era apenas uma possibilidade.

Há de se registrar a posição rápida e  firme de alguns governadores, como a potiguar Fátima Bezerra, Paulo Câmara (Pernambuco) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), que imediatamente recusaram a realização de jogos nas capitais dos Estados. Vimos também reação de parlamentares e partidos, além de entrada de ações no STF pedindo a proibição do torneio.

O bolsonarismo vem usando o futebol politicamente há tempos. O fez nos títulos recentes de Palmeiras e Flamengo, os dois melhores times do país atualmente, cujas diretorias e lideranças infelizmente caíram de amores pelo fascismo governamental. Usar o esporte como arma política não é novidade. Hitler o fez com as Olimpíadas de Berlim em 1936, Mussolini com a Copa de 1934 e as ditaduras brasileira e argentina entre as Copas de 1970 e 1978.

Pelo que tudo indica a pressão continuará grande e ainda que seja realizada o será de forma pífia. Da minha parte me recuso a torcer por uma seleção brasileira que compactua com isso, na verdade já não torço mais pelo Brasil em torneios há uns bons anos, a magia se desfez há coisa de década e meia.

Mas, antes era birra minha. Hoje trata-se de um morticínio em andamento. Se uma seleção brasileira compactuar com isso - como acho que vai - merece o desprezo da história e pode ficar à vontade para erguer sua taça (caso vença) com cheiro de sangue e sem minha audiência, eu que amo tanto assistir a torneios internacionais. Para quem achava que o 7x1 levados pela Alemanha em 2014 foi o momento mais baixo do futebol brasileiro, pode estar prestes a ver uma outra goleada, da canalhice e negacionismo em  cima do bom senso e da saúde pública.

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