Corpo de potiguar desaparecido foi incinerado na ditadura
Natal, RN 28 de mar 2024

Corpo de potiguar desaparecido foi incinerado na ditadura

1 de agosto de 2019
Corpo de potiguar desaparecido foi incinerado na ditadura

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

O corpo do jornalista potiguar Luiz Ignácio Maranhão Filho foi incinerado na usina de Cambaíba, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. A conclusão é do Ministério Público Federal após uma investigação que durou oito anos. O relatório final ficou pronto na sexta-feira (26) e foi divulgado agora pelo jornal O Globo. Os procuradores buscavam a confirmação de que as usinas eram usadas pelos militares para incinerar e, dessa forma, desaparecer com os corpos de opositores da ditadura.

Ao todo, foram ouvidas 20 pessoas. O depoimento mais importante foi dado à Comissão Nacional da Verdade pelo ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra. As informações prestadas por Guerra foram confirmadas por outras testemunhas. Ele disse os nomes dos militantes comunistas assassinados após intensas sessões de tortura na Casa da Morte, em Petrópolis, e confirmou que depois de mortos, os corpos eram levados para a usina de Cambaíba.

“Além da confissão, testemunhas e documentos confirmaram a autenticidade dos relatos de Cláudio Guerra", apontam as investigações do MPF.

A informação sobre a incineração dos corpos já havia sido divulgada por Cláudio Guerra no livro "Memórias de uma Guerra Suja", um depoimento do ex-delegado do DOPS aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto lançado em 2012. No entanto, só agora houve a confirmação oficial pelo MPF

O jornalista e advogado Luiz Ignácio Maranhão Filho (foto: reprodução)

Além de Luiz Maranhão Filho, a lista de corpos incinerados tem mais 11 nomes do total de 136 desaparecidos políticos entre o período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. Entre eles está o pernambucano Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB Felipe Santa Cruz, atacado segunda-feira (29) pelo presidente da República Jair Bolsonaro que disse, em tom de deboche, que poderia informar ao dirigente da OAB como o pai dele havia morrido.

“Segundo o relato confessional de Cláudio Antônio Guerra, em algum momento, movido pela curiosidade, ele abria os sacos para ver os corpos (tendo observado que a um deles faltava o braço direito) e que, posteriormente, ao ver publicação de notícias e fotos dos desaparecidos, foi possível saber a identidade dos corpos que havia levado para ocultação e destruição na usina", diz o MPF.

Cláudio Guerra detalhou para a Comissão da Verdade e também para o Ministério Público Federal como eram feitas as incinerações.

“A abertura dos fornos era suficientemente grande para a entrada dos corpos humanos, não se admitindo como válida qualquer negativa nesse sentido", diz o relatório.

Ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra (Foto: Letícia Bucker/G1)

O autor da denúncia é o procurador da República Guilherme Garcia Virgílio. Ele pede a condenação de Cláudio Guerra pelo assassinato de pelo menos 12 pessoas, bem como o cancelamento de eventual aposentadoria ou qualquer provento de que disponha em razão de sua atuação como agente público. Isso porque, para o MPF, o comportamento do ex-delegado se desviou da legalidade, "afastando princípios que devem nortear o exercício da função pública".

O MPF também afirma no relatório final que os crimes praticados por Guerra não podem ser protegidos pela Lei da Anistia, em razão da lei tratar de crimes com motivação política.

“Não importa sob que fundamentos ou inclinações poderiam pretender como repressão de ordem partidária ou ideológica, sendo certo que a destruição de cadáveres não pode ser admitida como crime de natureza política ou conexo a este”, diz o procurador.

Família de Luiz Maranhão cobra de Bolsonaro paradeiro do corpo

Haroldo Maranhão, sobrinho-neto de Luiz Ignácio Maranhão Filho (foto: reprodução/Everton Dantas)

Luiz Ignácio Maranhão Filho desapareceu em 3 de abril de 1974. Nesta semana, após Jair Bolsonaro debochar da morte de Fernando Santa Cruz, o arquiteto Haroldo Maranhão, sobrinho de Luiz Maranhão, questionou pelas redes sociais o paradeiro do corpo do tio, desaparecido desde 3 de abril de 1974, durante o regime do ditador Ernesto Geisel.

– Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro. Aproveito a sua infeliz declaração e solicito que também nos informe sobre quem, quando, como, onde ocorreu o rapto, a prisão, a tortura, a morte e o desaparecimento do corpo do meu tio-avó Luiz Maranhão Filho. E onde estão os seus restos mortais?”, desabafou.

Lista de incinerados em Cambaíba, segundo MPF

Ana Rosa Kucinski
Armando Teixeira Fructuoso
David Capistrano da Costa
Eduardo Collier
Fernando Santa Cruz
Joaquim Pires Cerveira
João Batista Rita
João Massena Melo
José Roman
Luiz Ignácio Maranhão Filho
Thomaz Antonio Silva Meirelles Netto
Wilson Silva

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.