Covid-19 no RN: olho do furacão ou nebulosidade passageira?
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Covid-19 no RN: olho do furacão ou nebulosidade passageira?

27 de novembro de 2020
Covid-19 no RN: olho do furacão ou nebulosidade passageira?

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Os números da Covid no RN têm se mostrado ambíguos nos últimos 15 dias. Por um lado, os leitos privados vêm desenhando uma curva crescente de novos internamentos e, por outro, mostrando uma incrível resiliência, os internamentos em leitos públicos vêm se mostrando estáveis, com uma tendência de declínio.

Entretanto, as duas populações, a que é atendida nos hospitais privados e a que se interna nos públicos, não vivem em compartimentos estanques. Ao contrário, convivem diariamente em toda parte. Como vimos no primeiro pico, o destino de uma está atado ao da outra.

O gráfico abaixo mostra o que está acontecendo atualmente no plano dos internamentos por Covid-19 no RN, segundo dados dos últimos 71 Boletins Epidemiológicos da SESAP.

Não é fácil tomar decisões para todos com base em números que não evidenciam, pelo menos até agora, uma realidade para todos. É possível compreender que a autoridade pública deva ter convicções antes de tomar decisões e temos que reconhecer que os números, tais como se apresentam hoje, podem parecer contraditórios.

Uma forma de começar a construir uma visão de conjunto a partir de dados que espelham especificidades aparentemente divergentes seria somar os leitos públicos e os privados e ver se prevalece a tendência de crescimento ou a de declínio.

Essa é a curva da soma dos internamentos em leitos públicos e privados no RN entre os boletins epidemiológicos 157 e 227 que alcançaram 253 leitos ocupados ontem. Por ela podemos ver que a tendência de crescimento se impõe à de declínio. Mais que isso, identificamos o que poderia ser o primeiro movimento de um crescimento exponencial de hospitalizações.

Outros elementos também presentes no atual cenário, que são conexos ao que se desenrola no RN, são: (a) a segunda onda de Covid na Europa em meio à normalização do fluxo de passageiros e à retomada dos vôos internacionais; e (b) o cenário de crescimento dos internamentos, casos e óbitos no Brasil como um todo. Tais elementos apontam para uma generalização da tendência de alta, tal como nos mostra o gráfico acima que exprime a soma entre os internamentos públicos e privados.

Por que isso preocupa agora se estamos tão distantes do patamar de quase 600 leitos ocupados com pacientes Covid-19 no que foi o topo da curva, lá pelo mês de junho? Porque, como sabemos, o comportamento social de hoje não é o mesmo daquela época. As pessoas desistiram de se proteger contra a Covid e hoje, o uso de máscara, para dar um exemplo, em lugar de ser uma regra, se tornou uma exceção. Muitos bares andam lotados de clientes sem máscara, como se essa doença letal tivesse ficado para trás. Só quem usa mascaras são os garçons... Os eventos públicos estão liberados e alguns “cantores” tem feito shows com milhares de fãs... É nesse cenário em que os internamentos parecem dar pistas de um crescimento em padrão exponencial que a sociedade resolveu afrouxar a toda máquina!!!

E o que mais é preocupante no atual cenário? Preocupa o fato de que a Autoridade Pública ainda não tenha em mãos os elementos definitivos para uma tomada de decisão quanto ao endurecimento das restrições. A conjunção entre um Poder Público em dificuldades para agir duramente em virtude de uma indiscutível ambiguidade dos dados epidemiológicos e uma sociedade embriagada por uma falsa liberdade que põe em risco a saúde de todos convergem para produzir ativamente a piora do cenário da Covid-19 em nosso estado.

O que fazer?

Em primeiro lugar é preciso que a sociedade assuma suas responsabilidades. E isso desce ao nível de cada célula familiar e deve produzir medidas restritivas.

É bom saber que já morreram mais potiguares depois da retomada do que durante a fase de Isolamento Social. Foram 1.034 óbitos por Covid-19 até 30 de junho passado e já são, ao todo, hoje, 2.666. Isso significa que morreram no período da dita retomada 1.632 norte-rio-grandenses. Desses mortos, cerca de 1.225 foram idosos.

Atenção famílias, isso pode, infelizmente, significar que a juventude já se deu conta de que a Covid-19 é leve em sua faixa etária e percebe no seu cotidiano que seus amigos e conhecidos que a contraíram se saíram muito bem. Isso pode estar levando a um afrouxamento das restrições nessas faixas etárias levando o vírus seja levado para os domicílios e fazendo os mais velhos pagarem a fatura. As famílias têm que entender que a hora agora é de mudar comportamentos.

A Autoridade Pública, por sua vez, deve monitorar a tendência de internamentos em leitos públicos de forma muito atenta para que, ante a previsível inversão da tendência, assinalando que começa a subir, o que deve ocorrer entre 165 e 170 leitos ocupados, (e estávamos em 149 leitos públicos ocupados ontem, 26/11/2020), tome as medidas cabíveis.

Além disso o monitoramento do registro de novos casos confirmados deve também ser rigorosamente acompanhado, pois alterações a maior podem sugerir que as medidas de endurecimento possam ser tomadas antes até do que o alcance do patamar de 165 a 170 internamentos que representará, como dissemos, a inversão da tendência de internamentos nos leitos públicos, até aqui declinante.

Vale salientar que nos últimos dez dias tivemos, segundo os Boletins Epidemiológicos da Sesap de números 218 e 228, uma média de 537 confirmações de Covid-19 por dia, pois foram 88.767 casos confirmados no último boletim, o 228, contra 83.401 no boletim de número 218, resultando numa diferença de 5.366 casos novos nesse período. A série de dez dias anterior a essa, registrada entre o Boletim 208 e o 218, mostrou uma média de 184 casos confirmados por dia, pois o Boletim Epidemiológico 208 apresentou 81.557 casos confirmados, resultando numa diferença de 1.844 casos novos em dez dias, ou cerca de três vezes menos do que o que foi registrado no período mais recente. O Poder Público deve, naturalmente, definir, também aí, qual o limite de segurança em termos de casos confirmados por dia e agir quando esse patamar tiver sido ultrapassado.

Volto a salientar que, desde já, é preciso que a sociedade volte a se comportar de maneira responsável. Esse comportamento não depende da decretação de restrições, pois resulta apenas do que o bom senso recomenda.

É mais do que tempo de mudar comportamentos!

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