O desembargador do Tribunal de Justiça Dilermando Motta foi protagonista nesta quarta-feira (10) de um papelão armado e jamais visto na história recente da principal Corte estadual do Rio Grande do Norte.
Com o intuito de mediar uma suposta conciliação entre a prefeitura de Natal e o Governo do Estado em relação ao conflito real entre as determinações previstas nos decretos municipal e estadual, Dilermando Motta se comportou de maneira caricata: como um animador de auditório, cortando falas de forma grosseira e impondo vontades sem – acreditem se quiser – levar em consideração dados técnicos das equipes de saúde, amparadas pelos respectivos comitês científicos.
Ora, o mínimo que se espera de qualquer governo municipal ou estadual em meio à maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos é que toda e qualquer orientação à população seja dada com base em dados da ciência.
Pois Dilermando não apenas ignorou todas as informações técnicas que a governadora Fátima Bezerra tentou apresentar, como destratou auxiliares do governo. Um desavisado imaginaria que, ali sentado na condução da “conciliação”, estaria um advogado do prefeito de Natal.
E o que dizer do papel lamentável, mas nem um pouco surpreendente, de Álvaro Dias ? O prefeito do PSDB teve a coragem de dizer publicamente que “a situação de Natal está mais confortável do que no ano passado” num momento em que os cientistas afirmam que a região Metropolitana de Natal é o epicentro da covid-19 no Estado. O próprio Álvaro, um dia antes, em entrevista à principal emissora do RN, havia dito que a situação de Natal era “crítica e caótica”.
Qual dos dois fala a verdade ?
Se há alguém no Rio Grande do Norte que vem trabalhando diariamente para confundir a população é o prefeito de Natal. Incapaz de ouvir ou dialogar, a não ser para impor seus próprios desejos por decreto.
De fato, parece não haver conciliação possível entre uma governadora que fala em salvar vidas e um prefeito que defende a ampliação do horário de funcionamento dos bares da cidade. Cada um com suas prioridades.
É preciso ainda reconhecer a enfática intervenção do procurador geral de Justiça Eudo Leite em defesa do decreto estadual que, no momento, é o que mais se aproxima da urgente necessidade de reduzir a velocidade de transmissão do vírus que já matou mais de 3.600 pessoas no Estado.
Difícil acreditar também que um desembargador experiente com mais de 40 anos de serviços prestados à magistratura tenha sido capaz de cumprir um papel tão vergonhoso para o judiciário potiguar.
Aliás, como as redes sociais têm memória, impossível não lembrar que Dilermando Motta é o mesmo desembargador que ficou conhecido nacionalmente por humilhar um garçom da padaria Mercatto, em Natal. A forma grosseira como se comportou na audiência trouxe à tona o lamentável episódio.
É papel da Justiça mediar conflitos de interesse da sociedade. Mas num momento tão delicado, quando a população espera orientações e esclarecimentos, a conciliação precisa se dar, primeiro, com a realidade.
E, data venia desembargador, mas vossa Excelência fracassou.