Decreto de armas pode aumentar homicídios, alerta Anistia Internacional
Natal, RN 25 de abr 2024

Decreto de armas pode aumentar homicídios, alerta Anistia Internacional

22 de maio de 2019
Decreto de armas pode aumentar homicídios, alerta Anistia Internacional

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Quase cinco meses após o início do novo governo, a Anistia Internacional lançou terça-feira (21) a ação “Brasil para todo mundo”, em que apresenta suas principais preocupações no país desde o início da administração de Jair Bolsonaro e lança um alerta: o discurso antidireitos humanos que marcou toda a trajetória política do presidente, inclusive a campanha eleitoral de 2018, está começando a se concretizar em medidas e ações que ameaçam e violam os direitos humanos de todas as pessoas no Brasil.

“Em outubro de 2018, logo após o fim do processo eleitoral, alertamos que as posições de Bolsonaro representavam um risco concreto para os direitos humanos no país. Temos acompanhado atentamente seu governo, e, infelizmente, nossa preocupação começa a se justificar: o governo de Bolsonaro tem adotado medidas que ameaçam o direito à vida, à saúde, à liberdade, à terra e ao território de brasileiros que, estejam no campo ou na cidade, desejam uma vida digna, e livre do medo”, afirma Jurema Werneck, Diretora Executiva da Anistia Internacional no Brasil, que completa: “São medidas que podem afetar milhões de pessoas. E, para nós, um país justo não exclui seus cidadãos. Um Brasil justo é um Brasil para todo mundo”.

A diretora da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, e a diretora da Anistia Internacional para as Américas, Érika Guevara-Rosas, visitarão Brasília, onde tentarão entregar ao presidente Bolsonaro e outros representantes do governo uma carta que reúne estas preocupações e recomendações para garantir, promover e proteger os direitos humanos no país.

A expectativa é de que a ministra Damares Alves receba as ativistas da Anistia Internacional até a próxima quinta-feira (23).

No documento, a entidade pede a revogação do decreto que amplia a posse e o porte de armas no Brasil e critica o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça Sérgio Moro.

 Jurema Werneck afirma que a Anistia Internacional vê as ações e medidas adotadas por Bolsonaro até agora como muita preocupação:

 - “Algumas das medidas adotadas ou propostas por este governo nestes 5 meses inspiram muitas preocupações. Com elas, se pode elevar o risco de homicídios por armas de fogo; legitimam uma política de segurança pública baseada no uso da força letal; violam os direitos de povos indígenas e quilombolas; baseiam a política de drogas em práticas punitivas e ineficazes; poderia aumentar injustificadamente o controle das ONGs; negam o direito à verdade, justiça e reparação para as vítimas do regime militar. Tudo isso acompanhado de uma retórica abertamente antidireitos humanos que se soma às preocupações da Anistia Internacional sobre a situação dos direitos humanos no Brasil”, enumera

Representante da Anistia para as Américas, Erika Guevera-Rosas avalia que as violações aos Direitos Humanos em países da América Latina têm sido frequentes:

“Este é um momento extremamente delicado nas Américas, com governos que, em vez de proteger os direitos humanos das pessoas em seus países, promovem medidas e políticas devastadoras para as pessoas, incluídas, por exemplo, as pessoas centro-americanas que precisam de Proteção nos Estados Unidos; ou promovem a violência e perseguem seus oponentes, como é o caso da Venezuela e da Nicarágua. Nos últimos meses, vemos como esta tendência regressiva afeta o Brasil com algumas posturas preocupantes do governo do presidente Bolsonaro”, diz

Guevara lembrou que estudos recentes apontaram o Brasil como o país mais perigoso para defensores dos Direitos Humanos na América Latina.

“Em 2017, a Anistia Internacional mostrou que o Brasil era um dos países mais perigosos das Américas para os defensores de direitos humanos, e a Global Witness revelou que era o mais arriscado do mundo para quem defende os direitos humanos relacionados à terra e o meio ambiente. É urgente que o presidente Jair Bolsonaro adote medidas para reverter este quadro, respeite os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, garanta liberdade de atuação para pessoas e organizações que atuam no país pela construção de uma sociedade melhor, e abandone seu discurso antidireitos humanos, que legitima violações contra determinados grupos”, diz Guevara.

Para Guevara, é preocupante que o espaço de atuação da sociedade civil em todo o mundo esteja diminuindo, com a adoção de múltiplas leis que buscam controlar e impedir o trabalho de Organizações Não Governamentais.

 “Existem, lamentavelmente, cada vez mais países que tentam controlar organizações não-governamentais e buscam impedir o trabalho de organizaçõesque são cruciais por apontarem falhas, crimes e violações de direitos humanos cometidos pelo Estado. Nos preocupa que as medidas adotadas pelo atual governo no Brasil sobre acompanhamento de ONGs vão na mesma direção. A comunidade internacional continuará atenta a se Bolsonaro e seu governo cumprirão sua obrigação de proteger e garantir os direitos humanos”.

Esta medida, como muitas outras, se dá no marco de uma retórica tóxica, abertamente antidireitos humanos. A este respeito, Erika Guevara expressa:

“Temos visto recentemente em muitos países líderes políticos fazendo campanha com uma agenda e um discurso abertamente contrários aos direitos humanos. No Brasil, esta retórica começa a se converter em medidas concretas. Por isso, pedimos a Bolsonaro que adote medidas firmes e decisivas para proteger e garantir os direitos humanos em todo o país e assegurar que as pessoas que os defendem e se mobilizam a seu favor possam fazê-lo sem medo de sofrer represálias”.

Confira as medidas e ações do governo de Jair Bolsonaro listadas pela Anistia Internacional como fonte de preocupação:

+ Flexibilização da regulação sobre o porte e a posse de armas, que pode contribuir com o aumento do número de homicídios no Brasil;
+ Nova política nacional sobre drogas, que eleva o caráter punitivo de tais políticas e atenta contra o direito à saúde;
+ Impacto negativo sobre diretos de povos indígenas e quilombolas;
+ Tentativa de ingerência indevida no trabalho das organizações da sociedade civil que atuam no Brasil;
+ Diversas disposições do pacote anticrime (como, por exemplo, a flexibilização da regulação da legítima defesa para o uso da força e de armas de fogo por parte da polícia);
+ Medidas contrárias aos direitos das vítimas à verdade, justiça e reparação pelos crimes de direito internacional cometidos pelo Estado durante o regime militar;
+ Ataques à independência e autonomia do Sistema Interamericano de Direitos Humanos;
+ Manutenção da retórica antidireitos humanos pelas autoridades de alto nível, incluindo o presidente da República, o que poderia legitimar diversas violações aos direitos humanos.

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