Deputado do RN culpa assessoria por projeto que dificultava aborto legal em vítimas de estupro
Natal, RN 23 de abr 2024

Deputado do RN culpa assessoria por projeto que dificultava aborto legal em vítimas de estupro

20 de agosto de 2020
Deputado do RN culpa assessoria por projeto que dificultava aborto legal em vítimas de estupro

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O projeto de lei do deputado estadual Kleber Rodrigues (PL/RN) que dificultava a interrupção da gravidez em mulheres vítimas de estupro foi retirado de pauta na Assembleia Legislativa. A proposta previa que mulheres grávidas vítimas de violência sexual assistissem vídeos com demonstração de técnicas do procedimento de interrupção de gestação, caso optassem pelo direito garantido por lei. O parlamentar recuou após protestos.

O parlamentar se justificou em nota, por meio do gabinete, responsabilizando a assessoria do mandato por "termos equivocados na redação". O gabinete do parlamentar declarou que ele repudia tal ação:

“Uma incorreção da assessoria do parlamentar fez constar no projeto recomendações nas quais o deputado não concorda e repudia. A proposta originária era oferecer segurança psicológica e saúde física a mulher, no entanto, com termos equivocados na redação, a matéria traz imperfeições severas, motivo pelo qual o deputado Kleber Rodrigues optou pelo arquivamento", informou.

O projeto veio à tona na semana em que uma criança de 10 anos, estuprada durante quatro anos pelo tio, ganhou na Justiça o direito de fazer o aborto. A legislação brasileira autoriza o procedimento em três casos: caso a gravidez represente um risco de vida à mãe; se o feto for anencéfalo (sem cérebro) ou em situações de estupro.

Assim que o projeto do parlamentar do PL foi descoberto, várias feministas e ativistas de movimentos sociais se manifestaram nas redes sociais expondo a proposta do deputado e exigindo a retirada de pauta.

Em artigo publicado pela agência Saiba Mais, a advogada e ativista feminista e antirascista Aline Juliete criticou o projeto e a proposta de "lavagem cerebral" apresentada pelo parlamentar.

- A Constituição Federal estabelece que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Constranger e torturar mulheres não pode ser chamado de “apoio psicológico”. Tal procedimento atenta contra a dignidade da pessoa humana, fundamento da República Brasileira, segundo estabelece o art. 1º da Constituição Federal", diz um trecho do artigo.

Com a repercussão negativa, outras mulheres também reagiram. A vereadora de Natal Divaneide Basílio (PT/RN) declarou repúdio ao projeto de lei:

“PL 028/2020 deve ser retirado de pauta da reunião da Comissão de Justiça da Assembleia Legislativa de amanhã. A proposta atenta contra direitos das mulheres e visa submeter à tortura psicológica vítimas de estupro que desejassem interromper gravidez nas formas já previstas em lei. Em tempos sombrios, devemos estar sempre em alerta. A mobilização social das potiguares, da bancada feminina da AL-RN, em especial da nossa companheira Isolda Dantas na luta pelos direitos das mulheres seguirá firme. Não aceitaremos retrocesso!”, afirmou a vereadora.

A Deputada Estadual Isolda Dantas também se pronunciou nas redes sociais depois da comissão de justiça e declarou que o projeto havia sido retirado:

“PL 028/2020 que criava obstáculos e constrangimentos às mulheres vítimas de estupro foi retirado da pauta da Comissão de Justiça da AL/RN. Bancada feminina da Assembleia em diálogo obstruiu a tramitação do projeto que não seguirá”, declarou Isolda.

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Caso da criança de 10 anos

A vítima de abuso sexual por parte do tio estava grávida. Por ordem judicial, a criança teve seu direito garantido por lei atendido e realizou o procedimento de interrupção de gestação na segunda-feira (17).

O caso virou uma polêmica em todo o país devido a manifestação por parte de grupos religiosos fundamentalistas em frente à clínica onde a paciente estava internada para fazer o procedimento, em Pernambuco. O endereço e nome da paciente foram divulgados de forma ilegal por Sara Girimoni, militante de extrema direita.

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