Para derrubar Dilma Rousseff em 2016, a Direita, de uma maneira geral, aceitou em suas hostes Marta Suplicy, Cristovam Buarque, duas pessoas que tinham uma vida de militância progressista, aceitou ainda ex-ator pornô, roqueiro ex-rebelde, emedebistas, tucanos direitosos etc etc.
Ali a regra era bem clara. Derrubar Dilma era o que importava. Independente das posições anteriores dos envolvidos. Muitos deles até pouco aliados de Dilma e do PT, como o MDB do vampiro golpista então vice-presidente Michel Temer.
Para a eleição de Bolsonaro em 2018, a situação se repetiu. O bolsonarismo aceitou de tudo, do já citado Alexandre Frota até o tucanato (Bolsodória, por exemplo). Bastava ser "antiPT" de maneira genérica para ser bem vindo no projeto que levou o fascista ao poder.
Já nos lados de cá a coisa não é bem assim.
Em pleno 2021 de pandemia e com quase meio milhão de brasileiros mortos pelo Covid e também pela política genocida de Bolsonaro, precisando aglutinar para derrubar o fascismo, a Esquerda ainda se dedica a policiar comportamento de gente que hoje critica duramente o desgoverno Bolsonaro, como por exemplo o youtuber Felipe Neto e o jornalista Reinaldo Azevedo, entre muitos outros.
É comum vermos nas redes sociais uma infinidade de comentários patrulhando o que escrevem gente como as jornalista Vera Magalhães e Miriam Leitão, o ex-governador de SP Geraldo Alckmin, o historiador Marco Villas Boas entre muitos outros. Cada um deles tem sua parcela de contradição e de baixezas e ninguém é obrigado a gostar deles, mas se vera, por exemplo, critica o bolsonarismo, não há necessidade da militância de Esquerda invadir as redes dele para lembrá-la pela milésima vez que ela era antipetista e por conseguinte ajudou a criar o cenário onde Bolsonaro foi eleito.
A eleição foi em 2018. Estamos em 2021. Com Lula solto, liberado pelo STF para disputar eleição presidencial e já em campanha.
Na verdade o purismo de parte da militância de Esquerda chega ao ponto dos encontros do citado Lula com FHC e Sarney gerarem farpas e ironias. Esse pessoal espera que Lula governe com quem? Com PSOL e PC do B apenas? Esquecem que o Governo Lula era aliado do então PMDB e tinha as bênçãos do mercado financeiro?
O fato é que a militância progressista insiste no patrulhamento (ou policiamento) da postura atual ou anterior de gente que ela, a militância, considera "de direita", ainda que o tenha sido em alguma circustância. Tipo quando um Felipe Neto ou Anitta postam algo e a militância resgata tuítes deles de dez anos atrás, como se eles não pudessem se arrepender do que fizeram e escreveram.
Repito: Lula só ganha, e, principalmente, só governa, com uma "frente ampla", que incluí aí gente como FHC e Sarney, o MDB, mercado, mídia etc. Faz parte do jogo político. Não aceitar o jogo político trisca no que sonha o bolsonarismo, a não-política, a imposição de ideias.
Como dizem os jovens, em especial minha filha Ananda, descansa, militante, nem tudo é uma bandeira a se levantar nem precisa apontar o dedo na cara de alguém. A hora é de aglutinar e dialogar.