Diante das “mudanças e desafios” que não nos cabe há a necessidade de reexistir
Natal, RN 19 de abr 2024

Diante das "mudanças e desafios" que não nos cabe há a necessidade de reexistir

15 de novembro de 2021
Diante das

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Por Maria Clara Pereira Santos*

Ao assistir a audiência pública ocorrida dia 8 de novembro de 2021, na Assembleia Legislativa do nosso Estado cujo tema foi “NOVO ENSINO MÉDIO NA REDE PÚBLICA DO RN: MUDANÇAS E DESAFIOS”, tenho a necessidade de alçar minha voz como professora e dizer em plenos pulmões: PRECISAMOS APRENDER A “REEXISTIR”!

Aprender a reexistir aqui significa construirmos coletivamente nossas consciências como construtores e construtoras de nossas práticas dentro da sala de aula. Conscientes de nossos poderes como criadores de nossas rotinas pedagógicas tornarmos efetivamente tais lugares trincheiras de luta, nossa luta, a luta por uma educação de qualidade.

Para alguns, essa fala pode parecer ingênua ante o poder das forças as quais se exercem sobre nós, professores e professoras. Forças essas materializadas no que o pesquisador Luiz Carlos de Freitas denuncia como “reformas empresariais da educação”. Esquecem que o pensamento fatalista não deixa espaço para o inédito viável, funcionando como uma amarra que nos prende aos mecanismos da automação do já dado como bem denunciou Paulo Freire. Desse modo, lutar é esperançar, é se incomodar diante do desconforto dos grilhões e criar lugares de germinação do não esperado. E o que é menos esperado nessa situação se não nossa reivindicação, professores e professoras, de nossos domínios pelo nosso exercício de afirmação da sala de aula como um espaço de atuação nossa e de nossos alunos e alunas.

Nesse sentido, lidar com as relações de poder que traspassam a macro e as micros estruturas sociais por traís das reformas que vêm passando a educação formal brasileira, e que se concretizam em nossa realidade regional pelo que é apresentado como REFERENCIAL CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO POTIGUAR“ sem cair no fatalismo é entender que todos os documentos curriculares precisam da adesão de cada um de nós, professores e professoras, para se tornarem efetivamente práticas de formação de um projeto de Estado, como entende o também pesquisador Stephen Ball. O que quer dizer que há espaço de luta pelos significados que são impressos nos documentos normativos e que são levados pelas secretarias de educação dos estados e nos chegam pelas secretarias das escolas e pelos documentos normativos, mas que na ponta se materializam com o nosso quefazer em sala de aula, pois somos nós, professores e professoras que tornamos ato o que é colocado como habilidades e competências, dando corpo ao que sem nós são palavras sem ouvidos para serem escutadas.

Será que uma palavra sem o ouvido do outro que sustenta sua existência como significado, existe?

Assim, professores e professoras uni-vos e aprendamos juntos a usar nosso poder que emana do nosso quefazer formativo, aprendamos a nos descobrirmos como criadores de nossas práxis de ensino, deliberadores daquilo que tomamos como elementos direcionadores dessas práxis. Afinal, nada temos a perder se não nossas correntes que nos aprisionam à lugares que não nos cabe como sujeitos de nossas salas de aulas, nem de nossas histórias. Uni-vos em prol da luta contra a marginalização de nossas identidades como profissionais da educação, contra o uso de nossas profissões como bode-expiatório diante do fracasso escolar de um sistema educacional sucateado e nunca historicamente foi priorizado.

Uni-vos, movidos pelo ecoar da voz de Carlos Marighella ao nos lembrar que a “única luta que se perde é aquela que se abandona”.

*Maria Clara Pereira Santos é filósofa, mestra e doutora em Educação e professora do Departamento de Educação da UFRN

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