E o desconfinamento não será como em filme de Hollywood
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E o desconfinamento não será como em filme de Hollywood

14 de setembro de 2020
E o desconfinamento não será como em filme de Hollywood

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Sim, vamos admitir, nós todos que realmente mantivemos/mantemos o distanciamento social e um necessário isolamento (que se mostrou produtivo e fez as curvas do óbitos e casos baixarem) esperávamos todos que o fim deste período de isolamento fosse com pompa e circunstância, em uma data definida, como aquelas cenas de filmes catástrofe de Hollywood em que passado o caos e o medo, a música começasse a subir e todos saíssem de suas casas olhando o céu azul de nuvens e sorrindo um para os outros para uma vida feliz e plena após o terror.

Certamente a influência dos filmes norte-americanos de Hollywood e da cultura kitsch e de boas intenções em que vivemos. Durante esses meses todos, não parecia ruim pensar isso, que, do nada surgiria a vacina ou alguma cura milagrosa e que desconfinaríamos todos ao mesmo tempo, rumo à praia, ao sol, aos abraços e a alegria de viver (uma alegria utópica que sequer vivíamos antes da pandemia, mas, enfim).

Como não vivemos em um blockbuster hollywoodiano, estamos percebendo que o desconfinamento não terá glamour algum. Será lento, gradual e tenso. Na verdade, não será. Está sendo.

Afinal, já começamos a ver nas redes sociais as pessoas postando fotos em praias, mesas de bar, trilhas, praças. Mas, alto lá, então essas pessoas que pareciam conscientes e sensatas estão destruindo nosso esforço de isolamento e fazendo aglomeração para disseminar o vírus? Claro que não. Nem tanto ao Sul, nem tanto ao Norte. Já concluímos que a vida não é um filme de Hollywood. Mas, também não é um filme de terror oriental, onde não existem meios termos e qualquer descuido a morte e a dor nos esperam.

O que percebo nas redes sociais são pessoas tentando manter a sanidade mental, a saúde física e lidar com seus próprios dilemas e problemas de uma maneira segura. Quem tem filhos pequenos certamente está experimentando a situação terrível de manter uma criança sem sair de casa por um semestre. Casais que começaram a quarentena em crise se não se separaram no processo, estão à beira de fazê-lo. Muita gente que conheço desenvolveu doenças, outras aprofundaram ansiedade e depressão. Muita gente aumentou de peso e está preocupada com isso.

Então todas essas pessoas preocupadas com a balança, os filhos, a vontade de sair, as relações, e que postam fotos sorridentes nas redes sociais quando em praias e parques estão desprezando os 130 mil mortos pela Covid-19 e os familiares destas pessoas?

Não. E é injusto pensar ou insinuar isso.

São pessoas que estão tentando - repito - manter a sanidade mental em meio a uma pandemia e que sabe que, apesar de tudo, temos todos que continuar vivendo. Sabe aqueles filmes de guerra que em meio ao caos, às mortes, aos amigos perdidos e carnificina, os soldados arrumam um tempo para jogar futebol ou fazer um sarau com música? Eles não desprezam nem esquecem os companheiros mortos nem a dor de guerra, apenas tentam manter, como diz "a moral da tropa". Não enlouquecer.

Amos Oz, genial escritor israelense, já falecido, dizia que mesmo com o conflito na Faixa da Gaza entre judeus e palestinos, ambos os lados faziam festas de casamento, música, celebrações. Faz parte da caminhada humana.

Portanto, mantenhamos os cuidados todos. Máscara, sempre. Álcool em gel também. Sem aglomeração, sem falar perto das outras pessoas, sem ir a lugares desnecessariamente cheios.

Mas, que nos acostumemos que o novo normal, e uso esse termo por falta de outro melhor, será assim: Pequenas saídas tensas, mas, em parte, necessárias. Dá para ir no bar da esquina com cuidados tomar duas cervejas e comer um espetinho de coração e não infectar ninguém e nem ser infectado.

Uma hora a vacina sai. Até lá, nos cuidemos todos. Sem negacionismos e sem vacilos. Mas, sem utopias. A vida real pede cuidados e pequenos prazeres. Tensões e necessidades básicas.

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