Dia 08 de julho foi dia da Ciência. Mas estamos há 20 dias sem ministro da Educação. Há 54 dias sem ministro da Saúde. Essas duas pastas, sem comando e sem perspectivas de virem a ter ocupantes à altura dos problemas do país, são a síntese do governo Bolsonaro. Exatamente os ministérios dos mais importantes para o povo brasileiro estão submetidos à letargia, sendo conduzidos à morte por inanição. E isso não é por acaso. É projeto de governo.
Desde que assumiu a presidência, todos os indicados de Bolsonaro para o MEC assumiram a postura não de aprimorar as políticas de educação existentes, cumprir as metas do Plano Nacional de Educacional, em vigor desde 2014 (Lei 13.005/2014) e propor outras que conduzissem à melhoria da qualidade do ensino, à diminuição das desigualdades no acesso à educação, à valorização dos trabalhadores em educação. Ao contrário, os ministros da Educação de Bolsonaro cuidaram de destruir todo e qualquer avanço que se obtivera até então, fruto de muita luta de educadores, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras ao longo da história do Brasil. Isso, a partir de uma estratégia de guerrilha ideológica (sobre a qual já tratei aqui) cuja principal intenção sempre fora incutir nas massas o desprezo pela educação pública, pela ciência, pela cultura.
Lembremo-nos de que, ao se completarem 100 dias do governo Bolsonaro, por exemplo, a pauta da renovação do Fundeb já estava na boca de todos os envolvidos com a educação, inclusive gestores. Mas nada de gesto do governo Bolsonaro para com essa pauta. Nada! Chegamos a 2020, a 6 meses do Fundo ser extinto, tendo que fazer campanhas para pressionar parlamentares pela votação do Projeto de Lei que o tornará permanente e com aumento de investimentos. Mais uma vez, é a sociedade que se move para que um retrocesso sem tamanho não jogue milhares de crianças, jovens e adultos da educação básica no fosso sem fundo da exclusão. E o governo continua fora dessa órbita e de todas as demais pautas importantes para o povo. Tanto que, mesmo com os pés já fora do governo, o hoje ex-ministro Weintraub revogou uma portaria de 2016 que previa cotas para indígenas, negros e pessoas com deficiência para acesso à pós-graduação. Simplesmente, a última maldade. Revogou. Sem pôr nada no lugar. Quer atitude mais anti povo que esta?
A propósito, o Brasil beira a marca dos 67 mil óbitos por Covid-19. O “E daí?” de Bolsonaro continua ecoando e expressando-se em gesto concreto de descaso com o povo brasileiro, principalmente com os mais vulneráveis.
O presidente anda mais preocupado em como usar a estratégia de contaminação pelo Covid-19 para desviar a atenção das investigações sobre si mesmo, sua família e membros do governo – inclusive o ex-ministro da Educação, fugido do país – e da inoperância própria do seu governo, especialmente agora, em momento de profunda crise.
É a prova cabal de que seu projeto de governo é não ter projeto nenhum para o povo. Basta observar que, quando a pandemia começou a chegar ao país, o então ministro, cuja nomeação vinha sacramentada por sua gana em privatizar o SUS, mudou rapidamente de opinião ao ver, na prática, a importância dessa política pública de saúde para enfrentar a pandemia. Passou a tomar medidas alinhado às orientações da Organização Mundial de Saúde. Desgostou o presidente. Foi exonerado em plena pandemia. A necropolítica seguiu firme. O sucessor do Mandetta, Nelson Teich, não durou um mês! Durante esses dias, o ministério parou. Mas, também, o ministro não se submeteu a propagandear o uso da cloroquina, comprovadamente sem eficácia para o combate à Covid-19. Desgostou o presidente. Pediu para sair. O Ministério da Saúde continua ao léu. Um interino militar sem qualquer conhecimento sobre a engrenagem do SUS figura como ministro. “O Exército pode estar puxando pro seu colo a responsabilidade de desmontar o sistema de saúde brasileiro. Esse sistema que é essencial para garantir a segurança sanitária do nosso país.” – disse Adriano Massuda, professor da fundação Getúlio Vargas em entrevista mês passado a “El País” (https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-25/nem-o-pior-ministro-da-saude-fez-o-que-exercito-esta-fazendo-desmontando-a-engrenagem-do-sus.html.)
E a postura negacionista de tudo o que seja prevenção, proteção à vida, combate à pandemia, ciência, cultura, auxílio aos mais vulneráveis dá o tom de um país ladeira abaixo. As bases sociais de nossa sociedade vão sendo carcomidas com o que tem de pior de conduta e de pensamento que alija tudo o que toca o humano.
Dia 8 foi dia da Ciência. Nesse governo, saberes acumulados não importam. Projeções científicas não importam. Educação não importa.
E a manipulação dos dados oficiais sobre o cenário de mortes foi a saída do governo para mascarar a realidade.
Mas dia 8 de julho foi dia da Ciência. Antípoda do governo Bolsonaro.