Elza Soares responde diretora da Vogue que se vestiu de “senhora de escravos” em festa
Natal, RN 28 de mar 2024

Elza Soares responde diretora da Vogue que se vestiu de "senhora de escravos" em festa

11 de fevereiro de 2019
Elza Soares responde diretora da Vogue que se vestiu de

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A polêmica festa da diretora da Vogue Donata Meirelles, em Salvador (BA), onde ela aparece vestida de "senhora de escravos" cercada de mulheres negras explodiu nas redes sociais no final de semana. Caetano Veloso fez show no evento e foi bastante criticado.

A socialite pediu desculpas alegando que se tratavam de mulheres vestidas de baianas ao redor de uma cadeira que representava o candomblé.

Várias personalidades se manifestaram sobre o episódio, entre elas a cantora Elza Soares.

Mesmo sem citar a dona da festa, a artista escreveu um texto celebrando a cor, a raça e as origens ancestrais do povo negro:

Gentem, sou negra e celebro com orgulho a minha raça desde quando não era “elegante” ser negro nesse país. Desde a época em que preto não usava o elevador dos “patrões”. Da época em que os pretos motorneiros dos bondes eram substituídos por portugueses brancos quando haviam festividades na cidade com a presença de estrangeiros ou autoridades de pele branca. Desde a época em que jogadores de um famoso clube carioca passavam pô de arroz no rosto para entrarem em campo, já que não “pegava bem” ter a pele escura. Desde que os garçons de um famoso hotel carioca não atendiam pretos que estavam no restaurante. Éramos invisíveis. Celebro minha cor e minha raça desde o tempo em que as gravadoras não davam coquetel de lançamento para os “discos dos pretos”. Desde a época em que preto na capa de disco “atrapalhava” as vendas do álbum. Celebro minha origem ancestral desde que “música de preto” era definição de estilo musical, não importasse o ritmo do artista. Grito pelo meu povo desde a época em que se um homem famoso se separasse de sua mulher para ficar com uma mulher negra, essa ganhava o “título” de vagabunda, o que não acontecia se próxima esposa tivesse a pele “clara como a neve”. Sou bisneta de escrava, neta de escrava forra e minha mãe conhecia na fonte as histórias sobre o flagelo do povo negro. Protesto pelos direitos da minha raça desde que preta não entrava na sala das casas das sinhás. Gentem, essas feridas todas eu carreguei na pele, na alma e trago comigo até hoje as cicatrizes. Eu e a maioria do povo negro brasileiro. Feridas que ainda não se curaram e todo santo dia são cutucadas para mantê-las abertas, sangrando, como uma forma de demonstrar que lugar de preto é na Senzala, nessa Senzala moderna, disfarçada, à espreita, como se vigiasse o nosso povo. Povo aliás que descende em sua maioria dos negros que colonizaram e construíram o nosso país.

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