Em defesa dos livros
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23 de abril de 2019
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Ei, você! Você mesmo! Responda sem piscar: que livro você está lendo atualmente? Isso mesmo: com que livro você anda flertando, tendo pesadelo, suando?

Neste é-já, me diga, qual é o livro, único e fiel companheiro, parceiro singular deste momento que faz sua sombra no seu devir-ser entre o transporte-suplício que leva pessoa do trabalho pra casa e a cama solitária que lhe acolhe depois daquela noite de esbórnia?

Que livro você anda lendo?

A pergunta é simples e tem razão de ser. Não apenas porque no dia 23 de abril comemora-se o Dia Mundial do Livro. Mas porque livros vão e vêm. A gente faz e consome, ganha, perde, dá, esquece, compra, expropria, encontra pela rua. Com certos livros a gente dorme, com outros a gente também pira. Com certos livros a gente se veste de argumento. Com outros, de tanta emoção, a pessoa fica nua. E haja rua, haja lua, haja poema como aquele que loa lá naquele livro, aquele, de leituras que se foram e de leituras que virão, leituras de sempre, de agora e de nunca mais.

A pergunta inicial, aparentemente banal, tem um pouco de intuito de provocar uma reflexão um tanto incômoda, sobretudo nestes tempos de hipercomunicação que o advento da internet e das redes sociais impõe.

Em um livro enganosamente simples intitulado “Sociedade da Transparência”, o filósofo coreano Byung-Chul Han alerta para os muitos riscos que vivemos em uma vida saturada pela super exposição e pela efemeridade da informação, a nos exigir uma presença constantemente on line em que, ao tempo em que estamos conectados com tudo e com todos, estamos também, paradoxalmente, desconectados com nós mesmos.

Qual o lugar dos livros nessa sociedade da hipercomunicação? Essa sociedade em que nos atolamos cada vez mais nos Facebooks e Instagrans da vida, rolando vertiginosamente nossos dedinhos sobre as telas de nossos dispositivos móveis e cada vez mais com menos tempo para ler, processar e ruminar tais leituras e, a partir delas, construir um senso crítico da realidade?

Voltando à pergunta inicial, e um tanto instigada pela reflexão que o filósofo Han me sugeriu, decidi finalmente espantar a preguiça mental de lado e comecei a leitura de um clássico que há muito eu me prometia ler: Fahrenheit 451. Para quem não sabe, esse romance foi escrito pelo americano Ray Bradbury em 1953 e tem como cenário uma sociedade distópica em que livros são proibidos, cabendo aos bombeiros a missão de queimar qualquer exemplar encontrado. O protagonista, o bombeiro Montag, a partir de determinado momento da narrativa, passa a viver uma crise existencial e se põe a questionar sua profissão e a sociedade como um todo. Em determinado momento da narrativa, um ex-professor com quem Montag se encontra proclama: Os livros servem para nos lembrar quanto somos estúpidos e tolos.

Já bastou demais a leitura para eu comprovar: que bom que existem os livros! O que falta mesmo é política pública de leitura e acesso a eles. Sobretudo nestes tempos sombrios de tanta truculência, ignorância e retrocesso, típicos de um romance de horror de ficção científica.

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