Em discurso histórico, Lula reafirma inocência, deixa 2022 em aberto e manda recado: “não tenham medo de mim”
Natal, RN 25 de abr 2024

Em discurso histórico, Lula reafirma inocência, deixa 2022 em aberto e manda recado: “não tenham medo de mim”

10 de março de 2021
Em discurso histórico, Lula reafirma inocência, deixa 2022 em aberto e manda recado: “não tenham medo de mim”

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Sem fazer menção à candidatura como presidente em 2022, Lula volta ao seu berço político para dar um recardo aos brasileiros: “não tenham medo de mim”. A afirmação do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva foi dada em um longo discurso nesta quarta-feira, 10, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Este foi o primeiro pronunciamento feito por Lula após ter condenações no processo da Operação Lava-Jato anuladas pelo ministro Edson Fachim, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Com a assertiva de que “pela primeira vez a verdade prevaleceu”, Lula questionou apenas o tempo levado para a decisão fosse tomada. "A decisão que o Fachin tomou, cinco anos depois, foi colocada por nós desde 2016", afirmou Lula, referindo-se à anulação das sentenças de Sérgio Moro.

Num passeio histórico pelo seu ingresso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, passando pela chegada à presidência da República, com a posição alçada pelo Brasil na economia quando o Partido dos Trabalhadores governou o país, sua condenação pela Operação Lava-Jato e absolvição pelo ministro Fachim, até chegar à atual crise sanitária, econômica e política, Lula fez críticas à posição do PSDB em 2014, quando não aceitou a derrota para o PT, e ao presidente da República, Jair Bolsonaro, especialmente na condução da crise econômica.

"Ele não fala com trabalhador nem com empresário. Só fala com o Loro da Havan", afirmou. Para Lula, o “país não tem Governo. Tem um fanfarrão".

No momento em que a crise sanitária chega ao auge, Lula abriu sua fala reforçando a importância do uso de máscara e dos cuidados de distanciamento social. "Eu espero que esteja todo mundo de máscara e se cuidando", afirmou Lula.

Exatamente no local onde iniciou sua vida política, Lula explicou a escolha feita para dar sua entrevista coletiva. "Faz quase três anos que sai da sede desse sindicato para me entregar para a Policia Federal. Fui contra minha vontade, pois sabia que estavam prendendo um inocente", diz Lula.

Reafirmando o que vinha falando em todas as entrevistas desde que sofreu a primeira condenação, Lula disse que “tinha certeza de que esse dia chegaria, e ele chegou".

Lula lembrou do seu ingresso na política, lembrando o legado aprendido na sua atuação sindical. "Eu sou, na política, o resultado da consciência da classe trabalhadora brasileira. Quando ela evoluiu, eu evolui".

Lula diz não guardar mágoas

Afirmando saber que foi “vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história", Lula disse que, “se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho”. Isso porque, para Lula, “o sofrimento que o povo brasileiro está passando é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim". O petista avaliou que não tem nada pior do que não saber se vai ter salário ou um pão com café. “É essa a dor que a sociedade brasileira está sentindo agora", afirmou.

O ex-presidente Lula prestou solidariedade às vítimas do coronavírus e seus familiares e homenageou também "os heróis e heroínas do SUS, que durante tanto tempo foram descredenciados politicamente. Porque só mostravam as coisas ruins que aconteciam no SUS. Aí veio a pandemia, e se não fosse o SUS teria morrido muito mais gente".

Lula fez referência a várias autoridades nacionais e internacionais, entre eles agradeceu o presidente argentino e o Papa Francisco pela solidariedade durante a prisão. O ex-presidente agradeceu a Alberto Fernández por ter ido visitá-lo em Curitiba. "Eu ainda disse pra ele não dar entrevista pra não se prejudicar com a extrema direita argentina. Ele disse que não tinha medo, pois sabia que eu estava sendo vítima de uma ilegalidade". A postura do Papa Francisco também foi ressaltada.

Ex-presidente Lula falou por mais de 2 horas na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / Foto: Ricardo Stucker

Sérgio Moro

Depois de todos os agradecimentos a pessoas, autoridades e instituições que prestaram apoio e solidariedade neste processo, Lula falou sobre a anulação das sentenças de Sérgio Moro. "Depois da divulgação de tanta mentira contra mim, ontem tivemos um Jornal Nacional épico. Pela primeira vez a verdade prevaleceu, dita não pelo PT, mas pelo presidente da Segunda Turma, Gilmar Mendes", ressaltou.

O ex-presidente criticou a condução dos seus processos por Sérgio Moro, e afirmou que irá continuar lutando para que o ex-juiz seja julgado imparcial pelo STF. O tema voltou a ser discutido na Segunda Turma da Corte na terça-feira, e está empatado em 2 a 2 -o ministro Kassio Nunes pediu mais tempo para analisar o caso.

"Vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito. Ele não tem o direito de ser considerado herói por aqueles que quiseram me culpar. Tenho certeza que hoje ele e o Dallagnol devem estar sofrendo muito mais do que eu sofri. Porque eles sabem que cometeram erros, e eu sabia que não tinha cometido", afirmou o petista.
Imprensa

Lula falou do relacionamento que tem com a imprensa desde 1975, do seu respeito pelo trabalho profissional dos jornalistas e do seu papel para a construção da democracia brasileira. “Jornalista não existe para sair para rua para cumprir a ordem do editor, seu papel precisa ser com a verdade”, disse Lula afirmando que “é para isso que precisamos de imprensa livre. A ideologia deve ser colocada no cantinho no editorial como pensamento”, como opinião do veículo.

“Eu espero que a verdade versada pela Globo ontem seja o novo padrão de comportamento da Globo”, afirmou Lula.

Pandemia

Para o ex-presidente, o Brasil não merecia viver este drama na saúde sem acelerar a vacinação e garantir a ampliação do Sistema Único de Saúde neste momento de agravamento da pandemia. "Eu tenho 75 anos de idade. Semana que vem vou tomar a minha vacina. Não importa de que país. E quero fazer propaganda do povo brasileiro: não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República e do ministro da Saúde. Tome vacina!".

Ele criticou a política sanitária do Planalto na condução da pandemia: "Cadê o Zé Gotinha. O Bolsonaro mandou embora porque achou que ele era do PT!"

Fake News

Lula também falou sobre os riscos das fake news para a democracia. "A mentira anda de avião supersônico. A verdade vem de tartaruga", disse o ex-presidente Lula ao reafirmar que o Brasil "não tem Governo". "Através das fake news o mundo elegeu Trump e Bolsonaro". O petista também atacou o histórico do atual mandatário: "Bolsonaro a vida inteira não foi nada. Nem capitão foi, era tenente, foi promovido porque se aposentou depois de tentar explodir um quartel. Depois que se aposentou não fez mais nada na vida. Ficou 30 e poucos anos com mandato e conseguiu convencer parte da população de que ele não era político".

Política econômica

O ex-presidente Lula criticou as articulações do atual mandatário, Jair Bolsonaro, na condução da crise econômica. "Ele não fala com trabalhador nem com empresário. Só fala com o Loro da Havan", afirmou.

Lula disse que o governo Bolsonaro não tem um projeto nacional de desenvolvimento e só fala em desestatização. “Vocês nunca me ouviram falar em privatização”, lembrou. Ele falou sobre o processo de privatização do Banco do Brasil e a Petrobras, ressaltando a importância das empresas serem estatais. Ele lembrou que como presidente, com a Petrobras bem dirigida, a estatal se transformou na quarta empresa de energia do mundo.

Não descobrimos o pré-sal para exportar petróleo cru. Nós descobrindo o pré-sal para a Petrobras exportar derivados. Para ela ter uma indústria petroquímica poderosa no Brasil. É por isso que nós cunhamos a frase ‘o pre-sal é o passaporte do futuro’, é por isso que nós colocamos 50% dos royalties do petróleo para a educação. É por isso que nós pensamos em criar um fundo para o povo brasileiro. Tudo isso está sendo destruído”, afirmou o petista.

O ex-presidente Lula criticou a venda de parte dos ativos da BR pela Petrobras, que deixou de ser a maior acionista da maior distribuidora do país, com cerca de 30% do mercado de combustíveis e lubrificantes. “Uma empresa que arrecadou, em 2019, R$ 70 bilhões”, foi vendida por R$ 9,6 bilhões.

O petista também criticou as políticas de flexibilização de armamentos de Bolsonaro e fez ainda um aceno às polícias e Forças Armadas brasileiras. "Quem está precisando de arma é a nossa polícia, que muitas vezes sai para combater o crime com um 38 velho enferrujado (...) Não são milicianos que estão precisando de armas para fazer terrorismo nesse país, para matar meninos e meninas negras, que são as maiores vítimas das armas e balas perdidas neste país".

Mãe

Assim como fez em seu primeiro discurso de posse como Presidente da República, em 2003, Lula lembrou dos ensinamentos da sua mãe, dona Lindu:

"A palavra desistir não existe no meu dicionário. Aprendi com a minha mãe: 'lute sempre'".

Se dirigindo ao povo brasileiro, Lula disse que "não tenham medo de mim. Sou radical porque quero ir à raiz dos problemas, porque quero ajudar a criar um mundo mais justo".

Coletiva

Já na entrevista coletiva que concedeu a jornalistas após o pronunciamento, Lula afirmou que não é o momento de discutir a candidatura para 2022. "Isso vai ser bem pra frente", disse. Ele elogiou Guilherme Boulos (PSOL) e o governador Flávio Dino (PC do B), e pediu que eles "andassem pelo país". Ele não descartou alianças com partidos de centro, e citou o seu ex-vice José Alencar como exemplo de pessoa que uniu "trabalhadores e mercado".

Indagado se a polarização com o presidente Jair Bolsonaro não pode ser ruim para uma eventual candidatura petista, Lula afirmou que desde o início do PT "o partido polarizou nas eleições". "E espero qu e continue assim", disse.

Lula criticou declarações recentes de Ciro Gomes (PDT), que atacou o ex-presidente e Dilma Rousseff. "Ciro Gomes não pode mais falar as meninices que ele falava quando era jovem. É preciso respeitar as pessoas. Ele não tem que ficar provando a cada entrevista uma frase nova", afirmou. “Ciro tem de se reeducar, ter humildade não faz mal a ninguém”. Na terça-feira Gomes disse que Lula "é inocente no caso Moro, mas não é honesto".

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