Em Natal, Arthur Lira evidencia que arquivará processos de impeachment contra Bolsonaro caso seja eleito presidente da Câmara
Com apoio consolidado da maioria da bancada potiguar, o deputado federal Arthur Lira (Progressistas-AL) visitou Natal na sexta-feira (15), em campanha para a Presidência da Câmara dos Deputados.
Durante coletiva de imprensa, o candidato, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fez declarações que eliminam qualquer dúvida sobre a possibilidade de abertura de um processo de impeachment em seu eventual mandato.
Lira disse que o país não pode ter um ano de 2021 com conflito entre Executivo e Legislativo. "Não dá para ter um Brasil este ano com acotovelamentos. Há uma grave distorção da atual presidência do Legislativo. A Câmara precisa ser forte, independente, mas harmônica", falou.
Acompanhado dos deputados federais Beto Rosado (PP-RN), João Maia (PL-RN), Carla Dickson (PROS-RN), General Girão (PSL-RN) e Benes Leocádio (Republicanos-RN) e do prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), o alagoano aproveitou para alfinetar o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): “Hoje o presidente diz ‘eu pauto, não pauto, eu faço, eu determino’", declarou.
Maia apoia o principal adversário de Lira, Baleia Rossi (MDB-SP), que no Rio Grande do Norte tem o voto do correligionário Walter Alves. Rafael Motta (PSB) e Natália Bonavides (PT) ainda não se posicionaram, embora seus partidos tenha declarado estar do lado de Rossi. O bloco completo é composto por PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede.
Natália criticou a decisão do PT e pode se juntar a Luiza Erundina (PSOL), que lançou candidatura na sexta-feira (15) como uma alternativa para a esquerda.
“Nossa defesa continua sendo por uma candidatura de esquerda. Essa é uma opção. Mas seguimos defendendo que o PT como um todo adote outra tática antes de decidir”, declarou Bonavides.
Os deputados federais Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones (Avante-MG) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) oficializaram na quinta-feira (14) suas candidaturas à presidência da Câmara dos Deputados. A principal bandeira de Frota, que é candidato avulso, sem apoio oficial do partido, é acatar a abertura do pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Somam-se também ao pleito Capitão Augusto (PL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG) e Marcel van Hattem (Novo-RS). A disputa deve ser realizada no dia 2 de fevereiro.
Cumprindo agenda em Natal, Arthur Lira também encontrou a governadora Fátima Bezerra (PT) e o vice-governador Antenor Roberto (PCdoB) no gabinete do Governo.
Agressão, organização criminosa e cheque sem fundo
Deputado federal desde 2011, Arthur Lira (PP-AL), foi acusado pela ex-esposa Jullyene Lins, 45, de agressão física. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ela disse também que o parlamentar, candidato à presidência da Câmara, a ameaçou para que mudasse um depoimento sobre acusações que havia feito contra ele. Em entrevista a VEJA ela disse que ele ocultou um patrimônio de 40 milhões de reais obtido com esquemas de corrupção.
Em outubro de 2020, ela solicitou à Justiça de Alagoas medidas protetivas contra o deputado. O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu enviar à Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal acusações feitas por ela sobre Lira em uma ação de injúria e difamação.
Agressão não é a única acusação à qual Lira responde. Segundo apurou a Veja, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), ele é réu em ação penal que o aponta como beneficiário de R$ 106 mil em propina de um esquema de corrupção na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Segundo o Ministério Público, o valor foi entregue em espécie a um de seus assessores no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Na Segunda Turma do STF, Lira responde a processo como um dos integrantes do chamado “quadrilhão do PP”, organização criminosa que teria desviado recursos da Petrobras e garantido ao parlamentar 2,6 milhões de reais em dinheiro sujo.
Nesta reta final de campanha à Presidência da Câmara até mesmo um calote de quase 30 anos atrás veio à tona. Em 1993, Lira comprou um apartamento em Maceió, avaliado em R$ 700 mil, e pagou duas parcelas (40% do valor do imóvel), com cheques que o empresário que vendeu o apartamento disse estar sem fundos.