Eternamente 2 a 2…
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Eternamente 2 a 2...

10 de dezembro de 2020
Eternamente 2 a 2...

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O ano era 1982 e a década prometia...estávamos, de forma lenta e gradual vencendo a terrível e famigerado ditadura que já perdurava por quase 20 anos. O povo nas ruas clamava por democracia. Não, não era mais possível disfarçar a tirania de anos truculentos e a nuvem cinzenta que assolou o país, aos poucos, estava se esvaindo pela ventania da liberdade.

Não foi concatenado, tampouco combinado, porém no futebol vivíamos o mesmo espírito de euforia que tomava conta da sociedade. No ano anterior, 1981, o grande Flamengo de Zico, Júnior, Adílio e vários outros conquistava o mundo goleando o então melhor time da Europa na década de 1970, o Liverpool. Naquele mesmo ano, a nossa seleção canarinha fez uma excursão vitoriosa pela Europa vencendo a França, Alemanha e Inglaterra. Sim, aquele final de ano de 1981, por todas as circunstâncias, talvez, tenha sido o melhor do século 20 até então.

Chegou a Copa do Mundo, realizada na Espanha e o Brasil não tomou conhecimento dos seus adversários. Ótimos jogos e lindos gols contra URSS, Escócia e Nova Zelândia e uma certeza: vamos conquistar o tetra...E o próximo jogo seria contra a Argentina, ah, a Argentina do jovem e promissor Diego Maradona, atual campeã do mundo. Chocolate com direito a uma das melhores atuações de uma seleção brasileira numa copa, 3 a 1 fora o tango. Certos de que iríamos chegar entre os semifinalistas, faltava um empate contra a Itália. E a Itália veio e veio toda quebrada, arrebentada, detonada e já com as malas prontas para ir embora e aproveitar o verão ensolarado daquele ano de 1982.

Em rodas de cervejas eu costumava dizer que o mundo teria sido melhor se não existisse barata, chuchu e Paolo Rossi. Paolo Rossi se foi e o mundo está pior e estar pior porque perdemos um dos heróis do esporte e não me importa todas as teorias sociológicas sobre a fabricação dos ídolos esportivos pela mídia, que necessita transformar o produto em mercadoria e tal. Fala isso para uma criança de 8 anos, dos confins da Itália ao ver aquele épico jogo Brasil 2 x 3 Itália. Para aquela criança, não há produto, tampouco mercadoria, mas sonhos e não adianta vir com as teorias sobre o imaginário se tornar mais real que o real e que assim a espetacularização da sociedade se reproduz. Para aquele garoto de 8 anos de alguma aldeia italiana, Paolo Rossi será eternamente “il bambino d´oro”.

Adulto e com todos os recursos informáticos disponíveis, esse garoto italiano já deve ter assistido muuuuuuitas vezes aquele jogo épico, histórico, único e o assistiu todinho, do primeiro ao último minuto. Uma pena, em 1982 eu era um garoto de 8 anos de algum rincão do Brasil e nunca, jamais consegui passar do 2 a 2, paro na alegria de Falcão que celebrando seu gol nos apresentou suas veias abertas.

A seleção teve seu sonho ceifado por um algoz, entretanto um algoz que jogou limpo e, com méritos, mereceu a vitória. O Brasil está sendo ceifado por algozes que jogam sujo e não merecem vencer!

Descanse, Paolo Rossi. Acorda, Brasil.

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