Fábio Faria não esconde euforia por privatizar os Correios, estatal que emprega 100 mil pessoas
Natal, RN 16 de abr 2024

Fábio Faria não esconde euforia por privatizar os Correios, estatal que emprega 100 mil pessoas

9 de julho de 2021
Fábio Faria não esconde euforia por privatizar os Correios, estatal que emprega 100 mil pessoas

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O Rio Grande do Norte está no centro de dois dos principais momentos dos Correios. Em 2001, na pequena Rio do Fogo, distante 75 km de Natal, a empresa anunciou a universalização do serviço com a instalação do posto de atendimento no último município do país onde os Correios ainda não chegavam. A partir daquela data, todos os 5.583 municípios do Brasil à época contavam com ao menos um posto de atendimento da Empresa de Correios e Telégrafos. Esse episódio foi comemorado com uma grande festa no pequeno município, que pela primeira vez recebia a visita de um ministro de estado.

Hoje, exatamente 20 anos depois, é um ministro do Rio Grande do Norte, Fábio Faria (das Comunicações), que anuncia - festejando - o andamento do processo de privatização da empresa. Mas a alegria, desta vez, é restrita. A venda dos Correios mexe com a vida de quase 100 mil funcionários que não sabem o que vai ocorrer com suas vidas profissionais após a privatização. Há o temor que os pequenos municípios do Brasil, que não dão lucro na operacionalização dos postos, deixem de contar com o serviço que, hoje, continua abrangendo todos os municípios do Brasil.

Nos últimos meses, o ministro Fábio Faria vem festejando em suas redes sociais o planejamento para a venda da empresa. A última postagem ocorreu quinta-feira (8), quando divulgou que o Projeto de Lei que detalha a venda da empresa estava em avaliação no Congresso. Também aparece bem feliz quando fala da venda com a imprensa e já declarou que gigantes como FedEx, Magazine Luiza e Amazon estariam interessadas na compra.

Dia 22 de junho, o ministro do RN divulgou um vídeo mostrando uma reunião que ajustava os últimos detalhes do PL. Nesse encontro, inclusive, foi tratada uma mudança substancial nessa venda. Até então, o Governo Bolsonaro dizia que venderia 70% da empresa. A partir do final do mês passado, na véspera de enviar o PL à Câmara Federal, houve uma mudança e o Governo decide vender 100% da estatal.

A expectativa é que o Projeto de Lei que libera a privatização da empresa seja votado até a próxima semana, antes que o Congresso entre em recesso. Caso a votação ocorra, a ideia é privatizar já em 2022. Pelo menos é isso que está previsto no plano de desestatização do Governo Bolsonaro.

O que vai ocorrer com os quase 100 mil funcionários não foi detalhado ainda. Sindicalistas dizem que, na melhor das hipóteses, vai ocorrer o mesmo que as empresas de telefonia: terão um pequeno período de estabilidade e depois são demitidos. "Não tenho dúvidas que seremos demitidos. São 100 mil pessoas que vão perder o emprego se essa privatização tiver sequência. Mas nós estamos lutando para evitar", conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios no RN, Shampoo Zen.

Nas postagens de Fábio Faria não há detalhes financeiros que justifiquem a venda da empresa. As vagas justificativas apontadas são de que é preciso '’melhorar" e "modernizar" os serviços. Shampoo Zen afirma que o ministro não recebeu os trabalhadores dos Correios para conversar. "Esse ministro sequer conhece os Correios. Ele não sabe nenhum detalhe da empresa. Vai vender os Correios - uma das mais respeitadas empresas do Brasil, e uma empresa financeiramente lucrativa e independente", analisa.

Correios no RN
O site dos Correios informa que a empresa está em 5.570 municípios e entrega, em média, 15,2 milhões de objetos postais por dia. A diretoria dos Correios no RN confirmou à Agência Saiba Mais que o Estado conta com 1.200 funcionários e 190 agências distribuídas em todos os 167 municípios do Rio Grande do Norte. Na região metropolitana de Natal, há 8 unidades operacionais e 14 de atendimento.

Segundo o presidente do Sindicato, há quatro anos o número de funcionários dos Correios no RN era de mais de 2 mil trabalhadores. O último grande concurso da estatal ocorreu há mais de 10 anos e um outro, em 2017, foi em áreas restritas. De lá pra cá, houve alguns programas de demissão voluntárias o que diminuiu ainda mais a quantidade de funcionários.

"Sem o investimento em pessoal e estrutura, claro que o serviço cai de qualidade. E o Governo trabalhou muito bem nesse ponto. Coloca a população contra os trabalhadores. Esquece que em um passado próximo, os Correios eram a empresa mais respeitada do Brasil”, lembra Shampoo.

Privatização começou a ser debatida em 2019
A possibilidade de venda dos Correios está em debate no governo desde 2019. A equipe econômica usa argumentos como problemas de eficiência e casos de corrupção que atingiram a companhia no passado.

A Câmara deve votar nos próximos dias o projeto que quebra o monopólio dos Correios. Depois, a proposta ainda precisará passar pelo Senado.

Pelo calendário da equipe econômica, é possível publicar o edital de privatização dos Correios até o fim do ano e realizar a operação até março de 2022.

A urgência para votação do projeto foi aprovada na Câmara no final de abril. O texto permite que serviços postais, inclusive os prestados hoje pelos Correios em regime de monopólio, sejam explorados pela iniciativa privada. Hoje, os Correios têm o monopólio do envio de cartas, telegramas e outras mensagens. Hoje, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é 100% pública.

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