Feministas do RN levam para a praia perfomance das mulheres que incendiaram o mundo
Natal, RN 25 de abr 2024

Feministas do RN levam para a praia perfomance das mulheres que incendiaram o mundo

17 de dezembro de 2019
Feministas do RN levam para a praia perfomance das mulheres que incendiaram o mundo

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Com vendas pretas nos olhos, pano verde e lilás amarrados no braço, punho cerrado erguido ou o dedo apontado para um macho imaginário vivo na consciência de cada uma. Mais de 100 mulheres, de várias idades, cores e tamanhos diferentes deram um sotaque potiguar à performance feminista “Um violador em seu caminho”, do grupo chileno Las Tesis, que viralizou no mundo denunciando a violência contra as mulheres.

A apresentação feminina na capital potiguar aconteceu sábado (14), na orla de Ponta Negra, principal praia urbana de Natal, e atraiu olhares e a atenção de banhistas e turistas que passaram pelo local.

No texto interpretado de “Um violador em seu caminho”, o patriarcado é um juiz que castiga as mulheres com a violência que a sociedade não enxerga. São citados vários tipos de violência a que as mulheres são submetidas diariamente, como o feminicídio, o estupro, a violação e a agressão.

De acordo com o 13º Anuário da Segurança Pública divulgado em setembro de 2019o Rio Grande do Norte teve a maior variação percentual nos casos de estupros registrados no Brasil, entre 2017 e 2018, um aumento de 38%. Foram quase 300 estupros no ano passado. Em nível nacional, o Brasil registrou mais de 66 mil casos de estupro em 2018, uma média de 180 por dia.

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Coletivo nasceu a partir da página #EleNão

A performance foi organizada coletivamente por vários grupos feministas da cidade reunidos inicialmente na página do facebook #EleNão, movimento que ganhou o país em 2018 tendo como foco o protesto e o repúdio contra o então candidato e atual presidente da República Jair Bolsonaro. Na época, milhares de mulheres promoveram manifestações em todo o país denunciando as arbitrariedades e declarações de Bolsonaro contra as mulheres.

As organizadoras fazem questão de dizer que o movimento é suprapartidário, ou seja, não é ligado a um único partido, mas abraça siglas partidárias, movimentos sociais e a sociedade civil organizada em entidades ou não.

Uma das lideranças, Michelle Galvão destacou que o movimento foi realizado no Rio Grande do Norte porque a mulher é subjugada pelo patriarcado em todos os cantos do mundo:

- Esse movimento que a gente fez foi para reverberar a voz das nossas irmãs chilenas e para denunciar o abuso e a violência praticada contra a mulher. A mulher vem sendo subjugada milenarmente pelo patriarcado mundial. O movimento é supratidário porque a gente acredita na política sim como forma de conseguir nossas reivindicações”, explica.

Mulheres saíram de casa sábado à tarde para protestar contra o patriarcado (foto: Mário Takeya)

Ela também desmistifica as críticas que o feminismo recebe em relação ao suposto ódio que o movimento teria dos homens:

- O homem se assusta, muitos pensam que a gente odeia homem. Mas isso é mentira. Pelo contrário, queremos os homens do nosso lado, mas é difícil porque precisa haver uma desconstrução (deles)”, conta.

A jornalista Ariane Mondo valorizou a presença e participação das mulheres potiguares:

É super importante levar as vozes femininas e feministas contra toda essa cultura da violência de gênero, do patriarcado para nós mulheres, e também para os homens. E em irmandade com as manas chilenas que começaram esse canto coletivo feminista pelo grupo Las Tesis e esse canto foi ecoado em todas as partes do mundo. E é muito importante e bonito que as mulheres estejam representando a voz feminista e feminista potiguar”, celebrou.

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As mulheres que incendiaram o mundo 

Chilena Mavica Morales prestigiou a perfomance inspirada no grupo Las Tesis (foto: Rafael Duarte)

A performance em Ponta Negra mostrou o quão estreita é a integração feminista na América Latina. Mavica Morales é chilena e quando soube que a apresentação do grupo Las Tesis seria replicado em Natal fez questão de comparecer. Durante o ensaio, Mavica leu uma espécie de manifesto e, em nome das mulheres chilenas, agradeceu o apoio:

“Fiquei sabendo que haveria uma semana antes a performance das Las Tesis, as mulheres que incendiaram o mundo. As mulheres no mundo todo se sentiram identificadas, representou a todas nós”, disse.

A chilena mora hoje no Brasil, mas está antenada sobre os 60 dias de manifestações da população contra ao governo neoliberal de Sebástian Piñera. Questionada sobre as motivações dos protestos, Morales explicou que estão diretamente ligados à qualidade de vida do povo:

- O chileno se cansou da política neoliberal porque só tem sugado o pobre, só tem oprimido. No Chile nada é grátis, a pessoa estuda uma média de 5 anos na faculdade e fica 15 anos pagando carreira, não tem saúde gratuita, é um absurdo. Se pegar desde a ditadura, são 47 anos com o Chile vivendo oprimido”, afirmou.

Confira o texto da apresentação potiguar adaptado da perfomance do grupo chileno Las Tesis

O Patriarcado é um juiz
Que nos julga por nascer
E o nosso castigo

É a violência que não vês
O patriarcado é um juiz
Que nos julga por nascer
E nosso castigo
É a violência que se vê

Feminicídio
Impunidade aos assassinos
Pela agressão
Pelo estupro e violação
E a culpa não era minha, nem onde estava nem como vestia (4X)
O estuprador és tu (4X)

É a polícia
Os juízes
O estado
O presidente

O estado opressor é um macho estuprador (4X)
O estuprador és tu (4X)
Marielle presente. O assassino dela é amigo do presidente (4X)
O estuprador és tu (4X)

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