Firehosing: o (velho)novo inimigo dos militantes virtuais
Natal, RN 20 de abr 2024

Firehosing: o (velho)novo inimigo dos militantes virtuais

5 de novembro de 2018
Firehosing: o (velho)novo inimigo dos militantes virtuais

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Passados sete dias da eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República, você, militante nas redes sociais, ainda se sente cansado e, nem assim, consegue combater todos os absurdos ditos, anunciados e protagonizados pelo presidente eleito, sua equipe e seus seguidores nas ruas e nas redes sociais na internet. A má notícia é que, a julgar pela atuação de Donald Trump nos EUA – a grande inspiração para Bolsonaro –, o nível de absurdo deve continuar alto. A boa notícia é que talvez você não precise se desgastar tanto para responder tudo isso sozinho.

O que já aprendemos na primeira semana é que a máquina de gerar desinformação não foi desativada depois das eleições. Provavelmente, deve ficar ativa durante todo o mandato de Bolsonaro para garantir o apoio popular às medidas impopulares que devem ser tomadas a partir de janeiro. Assim, as grandes reformas prometidas pelo candidato devem ser debatidas com base em ondas massivas de desinformação, com memes, notícias falsas e informações descontextualizadas.

Já vimos como isso acontece e como atinge parcelas importantes da população – aqui e mundo afora, como é o caso não só dos Estados Unidos, como também do Reino Unido, das Filipinas e até da Catalunha. Basta inundar constantemente a esfera pública com informações impactantes tal qual um bombeiro que joga água para tentar apagar as chamas (pense nos bombeiros dos filmes americanos e não nos pobres bombeiros cariocas que não conseguiam um hidrante para apagar o incêndio do Museu Nacional).

É da mangueira de incêndio que vem o nome da técnica: firehosing. Só que, ao invés de apagar o incêndio, a ideia é justamente de incendiar o debate em torno de um tema polêmico, enquanto as medidas mais impopulares seriam aprovadas sem muita resistência.

É aqui que você para de responder os comentários do facebook e começa a se organizar. Afinal, você não vai convencer ninguém com seus argumentos nem adianta ficar respondendo aos robôs. É hora de se organizar, formar grupos e redes (não só na internet). Precisamos entender o fenômeno e preparar respostas adequadas.

A boa notícia é que, apesar de um nome novo, o firehosing é uma versão aprimorada do velho marketing de guerrilha – uma versão bem estruturada e cara, é verdade, mas não é uma estrutura invencível – e de guerrilha e resistência, a militância de esquerda entende.

Agora, é hora de retomar o fôlego e ir buscar inspiração nos lutadores e lutadoras pela democracia em sua vitoriosa campanha pelas Diretas Já, retornar às bases, aos trabalhadores, aos sindicatos, às associações de bairros, formar grupos, fazer reuniões, construir afetos e conquistar corações e mentes.

Mas não basta retomar as táticas e estratégias dos anos 1980. O mundo mudou e é preciso assumir novas estratégias, ferramentas e modos de estar junto. Precisaremos repensar nossas práticas na internet, reocupar as redes como facebook, instagram e twitter a partir de outras lógicas – e não se tornar reféns das lógicas deles.

Também é hora de tomar cuidado. Precisamos evitar algumas ferramentas que “facilitam” nosso cotidiano e nos deixam vulneráveis, precisamos redobrar o cuidado com nossas senhas e com nossos equipamentos, especialmente os nossos telefones celulares. Vamos precisar aprender a ser hackers – já que precisaremos hackear de volta a democracia.

Não adianta pesquisar no Google. As respostas para os nossos desafios ainda não estão prontas. Temos muito o que aprender e pouco tempo para começar a reviravolta.

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